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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Que tenha sido trágica

Eu estou triste pela eliminação do Brasil e arretado porque o time levou um gol de contra-ataque faltando 15 segundos pra terminar o jogo. Mas não é sobre ontem que eu quero falar.

Quero falar que, mesmo sem título, as meninas fizeram uma campanha histórica, quase irretocável. E quero dizer que, mesmo sem título, eu vou sempre me lembrar com carinho da virada sobre a França. Mas ainda não é disso que eu quero falar.

Porque eu quero falar sobre 19 de dezembro, sobre o dia seguinte a esse mundial no Brasil.

Até esse campeonato, o handebol sempre teve fama de ser o esporte mais praticado nas escolas, mas nunca havia conseguido transformar essa prática em gosto verdadeiro pelo jogo. Porque, se houvesse uma relação de causa e consequência entre jogar na escolar e amar o handebol depois dela, a fila de emissoras pra transmitir os campeonatos nacionais e internacionais da modalidade dobraria o quarteirão. E o número de times da Liga Nacional não daria conta dos praticantes da bola na mão país afora.

Se esse time lutará por medalha em Londres ou no mundial da Sérvia, em 2013, é difícil prever (o fator casa, em mundiais de handebol, já levou a Tunísia a uma semifinal masculina, mas o esporte por lá jamais conquistou outro resultado relevante).

Mas, se o empenho e a qualidade que essas meninas demonstraram no Ibirapuera esses dias servirem para que o handebol ganhe novos adeptos, mais patrocinadores e anime alguém a estruturar a confederação brasileira (ou, até, impulsione alguém a concorrer com o atual presidente, que está lá há quase 20 anos), então, a missão delas foi cumprida. E o título perdido dramática e precocemente para Espanha, servirá de incentivo a uma nova obsessão nacional, uma obsessão boa e pertinente, como foi a de vencer a Copa do Mundo de Futebol, depois do Maracanaço de 1950.

Se isso acontecer, o handebol brasileiro pensará em títulos e os historiadores, cronistas, torcedores e ex-atletas jamais deixarão essa derrota de ontem dormir em paz – o que é bom.

sábado, 17 de setembro de 2011

O homem mais rápido da meia pista

Se o tempo de Yohan Blake nos 200m rasos, em Bruxelas, assombrou o mundo, o tempo líquido do jamaicano deve ter assombrado Usain Bolt.

Campeão mundial dos 200m rasos há algumas semanas, em Daegu, Bolt correu, ontem, na Bélgica, a prova dos 100m. Se havia algum trauma pela largada queimada na final do Mundial, o tratamento veio rebocado pela marca de 9s76, melhor marca do ano na distância.

De bem com seus fantasmas, Bolt saudou a torcida, dançou, fez o gesto do arqueiro. Tudo certo, Daegu é passado.

Mas aí, coisa de cinco minutos depois, a prova dos 200m rasos abalou a paz reconquistada pelo Homem-Raio.

O compatriota de Bolt, Yohan Blake, que herdou o título dos 100 em Daegu, correu os 200m rasos em 19s26. O tempo é tão espetacular que bate, por exemplo, o recorde olímpico estabelecido por Bolt em Pequim/2008 - 19ss30. Esse tempo, sim, se aproximou perigosamente do recorde mundial da prova (19s19) e deve ter deixado Usain com a respiração presa antes do abraço que deu em Blake, ainda na pista belga.

O pior, no entanto, só os computadores da IAAF puderam dizer: o tempo liquido da prova de Blake foi melhor que o melhor já feito por Bolt.

Em Berlim/2009, Bolt estabeleceu o recorde da prova com 19s19, com uma reação de largada em 0s133. Significa dizer que o tempo de corrida do jamaicano foi 19s057.

Já em Bruxelas/2011, Yohan Blake correu a mesma distância em 19s26, só que com um tempo de reação de 0s269 (muito fraco para um velocista, diga-se). Isso significa que o tempo líquido de Blake foi, incrivelmente, de 18s991.

Sim, senhoras e senhores: mesmo sem recorde, Blake é o homem mais rápido da meia pista.

domingo, 17 de julho de 2011

Favor, não confundir

Esta postagem é de utilidade pública. Agora, com certeza, você não vai mais confundi-las, não há razão pra isso. Até porque, uma consagrou nos saltos ornamentais; a outra, também. Uma conquistou títulos mundiais e olímpicos; a outra, também. Mas uma é chinesa… a outra, também.


Esta é Fu Mingxia. Em 1991, há poucos meses de completar 13 anos de idade, assombrou o mundo na prova da Plataforma (10m) no Mundial de Perth, na Austrália. No ano seguinte, em Barcelona, ficou com o Ouro na mesma prova. Já em Atlanta, 1996, conquistou o bi na Plataforma e o título no Trampolim (3m). O final perfeito de carreira, dominando amplamente as duas modalidades olímpicas do esporte. E ela se aposentou, com três medalhas de ouro no peito. Contudo, a proximidade dos Jogos de Sydney, demoveu a moça do descanso e Mingxia voltou. Voltou para sair com mais um ouro no Trampolim e, de lambuja, uma prata numa modalidade estreante em jogos, o Salto Sincronizado no Trampolim de 3m.

Aí, a substituição nos Saltos Ornamentais da China: saiu Fu Mingxia, em 2000, entrou Wu Minxia, em 2001.


Ao contrário de Mingxia, Minxia (esta aqui ao lado) não quis saber da Plataforma de 10m. Suas conquistas são todas no Trampolim, tanto de 1 quanto de 3m. O Trampolim de 1m não é prova olímpica e deu à chinesa três pratas em mundiais. Nada mau. Já o de 3m é que rendeu (e ainda rende) as maiores conquistas de Wu. Saltando individualmente, ela teve a concorrência dura de Guo Jingjing e nunca foi campeã mundial ou olímpica. Foi prata em Atenas/2004 e bronze em casa, quatro anos depois. Já no Salto Sincronizado, não contra, mas com Guo Jingjing, Minxia é a atual bicampeã olímpica e havendo conquistado os últimos dois mundiais.

E nem mesmo a aposentadoria de Jingjing, anunciada esse ano, foi empecilho pra Wu Minxia conquistar, ontem, em Xangai, o tri-mundial do Trampolim de 3m. Competindo ao lado de He Zi, Minxia honrou, a tradição chinesa no esporte e manteve na casa um título que é das chinesas, ininterruptamente, desde 2001.

A supremacia continua. Sem Mingxia, mas com Minxia. Não confunda.

sábado, 16 de julho de 2011

Perto do Vitória




Se a decisão de mudar o horário da final só saiu no meio dessa semana, o campeonato parece ter sido decidido antes. Domingo, o Vitória conseguiu uma vantagem quase definitiva, fazendo 4 a 0 sobre o Sport, na Ilha do Retiro. Pra perder o título e o bicampeonato, o Vitória terá de perder por cinco gols de diferença, o que é bem difícil, já que, nas oito partidas que disputaram, até agora, as interioranas sofreram, apenas, dois gols.

O placar elástico mostrou a diferença entre um time que trabalha o futebol feminino com profissionalismo e outro que não fez questão nenhuma de repatriar uma jogadora formada na casa.

Enquanto o Vitória contratou jogadoras com passagem pelas seleções de base, como a goleira Letícia e as atacantes Carol Baiana e Ketlen Wiggers, além de revelações do futebol local, como a artilheira Lili Bala, o Sport esnobou a goleira Bárbara.

Bárbara começou no próprio Sport e, esse ano, voltou ao Brasil à procura de um time. Chegou a treinar no clube, mas só pra manter a forma. O Sport não quis nada com a moça e ela foi pro Foz Cataratas.

O resultado disso, dessa indiferença com o futebol das mulheres, é que o clube, pelo segundo ano seguido, a menos que consiga um milagre hoje à tarde, não deverá disputar a Copa do Brasil, a única vitrine do futebol feminino nacional. Triste, pra quem se vangloria de ser um clube verdadeiramente poliesportivo e que, até, já foi vice-campeão nacional na modalidade.

Ficou pra hoje

O bom senso prevaleceu na Federação Pernambucana de Futebol (FPF). A segunda partida da decisão do estadual feminino, entre Vitória e Sport, em Vitória de Sto. Antão, será hoje à tarde, às 15h, e não amanhã, como estabelecido no início do campeonato. Fosse amanhã, no mesmo horário, as meninas daqui jogariam no mesmo horário da final da Copa do Mundo. Enfim, uma atitude que privilegia quem gosta da modalidade. Ponto pra FPF.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Rennes, França: 14 de julho de 1991

Mundialmente falando, o Ciclismo Brasileiro é irrelevante. Na pista, na estrada, na montanha ou no BMX, nenhum brasileiro jamais conquistou um título de grande relevo, em termos internacionais. Enquanto nossos vizinhos argentinos até ganharam o ouro no Madison, em Pequim/2008, nós não descobrimos ainda que medalhas olímpicas podem vir de bicicleta. Anésio Argenton foi o brasileiro que chegou mais perto do pódio, com um nono lugar em Melbourne/1956 e sexto em Roma/1960, ambas as vezes na prova de Mil metros contra o Relógio. Mas essa história fica pra outro dia.

Porque, hoje, é dia de celebrar uma conquista sobre duas rodas. Certo, é uma conquista que repousa solitária e completa 20 anos. Mas uma conquista, ainda assim.

Em 14 de julho de 1991, Mauro Ribeiro obteve a única vitória brasileira, até hoje, numa etapa do Tour de France. Justamente, no feriado nacional da França, ótima coincidência. O estágio era o nono daquele ano, com chegada na cidade de Rennes. Depois de mais de 161 Km de pedal, estrada e frio, Ribeiro arrancou para a vitória, batendo o francês Laurent Jalabert e o soviético Dmitri Konychev por meia roda, numa etapa que durou quase quatro horas.

O vencedor do Tour daquele ano foi o espanhol Miguel Induráin. Ele ainda venceria a competição máxima do Ciclismo de Estrada, seguidamente, até 1995. De quebra, o espanhol se sagrou campeão olímpico no contra-relógio em Atlanta/1996.

Laurent Jalabert, segundo colocado na etapa, se tornou campeão mundial do contra-relógio em 1997.

Dmitri Konychev, o terceiro na etapa, ganhou a Maglia Ciclamino no Giro d’Italia, em 2000, premiação dada ao ciclista que obtém mais pontos em toda a competição, independentemente do tempo obtido.

Mauro Ribeiro, que até fora campeão mundial Júnior por pontos, em 1982, terminou em 91º lugar na prova de Estrada, em Atlanta/1996.

E o Ciclismo Brasileiro, hoje, vive do passado.

Ainda bem que inventaram o youtube e que o usuário de nome Daniel Blumenthal (ou duhdaniel), postou nele o vídeo da vitória histórica.


"Now, I feel great"

Entrevista bilingue da alemã Lena Schoneborn, logo após se tornar bicampeã da Copa do Mundo de Pentatlo Moderno, domingo, em Londres. Depois de uma passagem muito ruim no hipismo, onde ficou na 31ª posição, Lena teve de largar em 7º lugar na prova do evento combinado (corrida e tiro), 28 segundos atrás da francesa Elodie Clovel. No final, ela levou o ouro e a francesa teve de se contentar com o bronze.

Simpática a moça – e campeã também. Com 25 anos de idade, Lena lidera o ranking mundial do pentatlo moderno e segue mais favorita que nunca rumo ao bi, também, nos Jogos Olímpicos.

Veja a entrevista, no canal da UIPM no youtube:


quarta-feira, 13 de julho de 2011

Um pouquinho de história

EUA e Japão decidem a Copa do Mundo feminina de Futebol neste domingo. A final é inédita, embora não em todos os aspectos.

Não é a primeira vez que um time asiático chega à final da Copa do Mundo. A China fez isso em 1999. Na ocasião, foi derrotada pelos EUA nos pênaltis, depois de 120 minutos sem gol no tempo normal. Por conseguinte, também não é a primeira vez que os EUA decidem uma Copa do Mundo contra uma equipe oriental.

Não é a primeira vez que EUA e Japão se enfrentam em Copas do Mundo. A primeira, em 1991, terminou com vitória ianque por 3 a 0 na primeira fase. Na segunda, quatro anos depois, as americanas fizeram 4 a 0 nas japonesas nas quartas de final, na primeira e, até 2011, única vez em que as nipônicas haviam passado da primeira fase.

Curiosidade: se a Suécia tivesse avançado à decisão, contra os EUA, teria sido o segundo jogo repetido numa mesma edição de mundial feminino, a primeira numa final. A única vez em que isso ocorreu foi na Copa de 1995: EUA e China empataram em 3 a 3 na primeira fase e, na decisão do terceiro lugar, as americanas ficaram com o bronze, metendo 2 a 0 nas chinesas.

Outra curiosidade é que a Copa do Mundo terá, pela primeira vez, um campeão não invicto. As duas equipes conheceram derrota na primeira fase, mas se recuperaram e jogam domingo.

Domingo, aliás, o Japão se torna a sétima seleção a disputar uma final de Copa do Mundo para mulheres. De quebra, pode se tornar o primeiro país não europeu ou americano a conquistar uma Copa do Mundo Fifa na categoria adulta. Por outro lado, os EUA podem retomar a supremacia da Copa do Mundo, ganhando da Alemanha a corrida pelo tricampeonato.

terça-feira, 12 de julho de 2011

A derrota e a eliminação




O Brasil ter perdido para os Estados Unidos nos pênaltis e o Brasil ter sido eliminado pelos Estados Unidos, ao contrário do que parece, não são a mesma coisa. A derrota, ainda que nos pênaltis, é a parte chata e necessária do jogo. A eliminação (precoce, pelas finais que as meninas disputaram nesses últimos sete anos) é outra história.

O jogo foi conturbado. Um gol contra de Daiane em 80 segundos de disputa, jogadas ríspidas das brasileiras e violentas das americanas, uma cobrança repetida de pênalti capricho da árbitra, uma árbitra fraca, um golaço ilegal de Marta no tempo extra, três minutos de acréscimo em 15 de segundo tempo prorrogação, um gol de Wambach de novo – como em Atenas. E pênaltis.

E nos pênaltis, um erro estratégico. Um erro que é o vértice em que se encontram os motivos da derrota e da eliminação de hoje.

Não queria correr o risco de repetir o choro (quase sempre justificado, diga-se) de quem diz que “falta apoio ao futebol feminino no Brasil”. Mas é exatamente isso que eu vou fazer. Sem medo.

Jogos Olímpicos de Atenas, 2004. Sem saber que havia grandes craques no time, pois Cristiane e Marta ainda estavam em formação, tinham, respectivamente, 18 e 19 anos de idade, René Simões, com menos de um ano de trabalho, levou o time ao vice-campeonato olímpico, e com direito a poder reclamar muito da arbitragem no jogo decisivo. René Simões não é exatamente um treinador vitorioso, mas tem passagens nas seleções de base masculinas, levou a Jamaica à Copa do Mundo de 1998, e até 2004, havia treinado times no Brasil e no Oriente Médio. Em síntese, o Brasil foi a Atenas com um treinador.

No ciclo seguinte, veio Jorge Barcellos. Ele tinha experiência em categorias de base nas seleções femininas. Se o futebol das mulheres está engatinhando no Brasil, imagine o das meninas. Seu trabalho no time principal começou em 2006, com um vice-campeonato sul-americano, seguiu com um título no Pan do Rio e terminou com o vice-campeonato mundial e olímpico. Mesmo tendo feito um trabalho bom, convenhamos, não era um treinador pra Seleção Brasileira. E deu lugar a Kleiton Lima.

Não obstante haver levado o Santos a conquistar títulos nacionais e continentais, com todo respeito, toda vez que se fala nele alguém diz “e ele foi espião da seleção brasileira na Copa de 1994.” Ou seja, mais uma vez, a CBF contratou um treinador sem larga experiência larga. Faltou, de novo, cuidado da Confederação Brasileira de Futebol com o Futebol das mulheres. A eliminação da Copa, se nada anormal ocorresse, aconteceria a qualquer tempo.

Nem vou falar da preparação pro Mundial, com dois amistosos, contra o Chile e contra a Seleção Pernambucana. Nem vou falar da sobrecarga tática em cima de Marta ou da posição em campo de Érika, Maurine e Rosana, ou do medo que Kleiton tinha de fazer alterações no time. Vou falar dos pênaltis.

Por ter um treinador inexperiente, o Brasil foi pras cobranças da marca fatal com duas jogadoras abaladas psicologicamente. Cristiane, que perdeu o pênalti anulado no tempo normal, e Daiane, autora do gol contra no início do jogo. Cristiane até converteu sua cobrança. Mas Daiane, que pouco errou em toda a Copa, saiu de campo marcada pelo gol contra e pelo pênalti desperdiçado no jogo de hoje. Faltou um treinador que tivesse vivência o suficiente no futebol pra prever o buraco em que a zagueira se meteria na batida do pênalti.

O Brasil perdeu por causa um gol contra, um gol nos acréscimos infindáveis da prorrogação e um pênalti perdido. E o Brasil foi eliminado porque, mais uma vez, a seleção feminina foi tratada como subproduto pela CBF.

(republicado por erro de edição)

domingo, 10 de julho de 2011

A lição deca vez


(foto: FIVB.com)

Quando se perde, alguém chega e diz que “ficaram lições”. Ficaram mesmo. Pra mim, a perda da chance do decacampeonato pro Brasil, na Liga Mundial, serviu para:

1) Mostrar que a Seleção Brasileira não é imbatível. Embora seja o melhor time do mundo (não é porque perdeu uma Liga Mundial que deixou de ser), não é sempre que vai se superar no final, depois de um campeonato mediano. Afinal de contas, a primeira fase, com duas derrotas pros EUA, e a quase derrota pra Cuba, na segunda fase, mostraram que já houve campanha melhor do nosso sexteto.

2) Confirmar minha impressão de que a seleção brasileira masculina não tem renovação. A título de comparação, a média de idade da Argentina é de 23 anos; no Brasil, os jogadores mais jovens da fase final, Bruno e Lucão, têm 25. Também se diga que Cuba tem vários jogadores mais novos do que qualquer um da delegação brasileira, como Leon, Cepeda, Hernandez, Mesa.

E se alguém disser, “mas é tarde pra encontrar jogador novo, o time que vai a Londres tem que esse mesmo”, digo que, na Rússia, campeã hoje à tarde, Mikhaylov e Grankin chegaram à seleção principal em 2008. No mesmo ano, foram efetivados como titulares do time olímpico, botando dois medalhões, Poltavski e Khamuttskikh, no banco. Resultado? O time só parou na semifinal, contra os EUA, num jogo dramático, decidido no tie-break. Onde estão nossos campeões júnior de 2007 e 2009?

Mauricio foi o maior pontuador da final de 2009, contra Cuba, e ano passado, a chance dele foi ser líbero reserva de Mário Jr. na fase final da Liga, e Wallace, do Sada/Cruzeiro, campeão em 2007, também nunca teve uma chance de verdade, só pra citar alguns exemplos. Nossos ponteiros de confiança, Giba, Dante e Murilo, são os mesmos desde 2005. Giba só fica até ano que vem. Sobram Dante, 31 anos, e Murilo, 30. É pouco provável que essa dupla esteja em quadra, digamos, em 2016. E continua faltando outro ponteiro pra, ao menos, compor o time.

Será que vamos continuar estreando jogadores com mais de 30 anos, como Marlon, ano passado, e João Paulo Bravo, esse ano?

3) O time tem alguns problemas no que se refere, em especial, a duas posições. Temos dois bons levantadores. Bruno e Marlon não deixam a desejar. Mas também não são do primeiríssimo time, como Mauricio e Ricardinho nos acostumaram. Ter Bruno e Marlon no time é quase certeza de que o titular, em algum momento do jogo, terá de ser socorrido pelo reserva – e eu não falo, apenas, em inversão de 5-1. Na Liga passada, Marlon entrou no lugar de Bruno e deu conta do recado. No Mundial da Itália, Bruno substituiu Marlon, doente, e não decepcionou. Nessa Liga Mundial, contudo, os dois não foram suficientes, oscilaram demais e não está claro, hoje, quem deva começar jogando.

A outra posição é a de oposto. Leandro Vissoto é a maior aposta de Bernardinho, mas sofre de um problema crônico de sonolência em quadra. Theo, o reserva, até entra bem no time, como nessa fase final da Liga, embora, às vezes, pareça não contar com a confiança do levantador. E me parece, ainda, estranho que Wallace tenha sido “aprovado” por Bernardinho, na fase inicial, e tenha sido deixado de lado. Nessa posição, realmente, me parece a briga mais indefinida por vaga no plantel.

O resumo dessa Liga Mundial 2011 do Brasil é que: o time não é invencível, está ficando velho e não tem um levantador ou um oposto 100% confiável. Em Londres vai ser dureza. Mas uma coisa que dá pra saber dessa seleção é que, de dificuldade, ela gosta.

sábado, 9 de julho de 2011

Com locais e sem tabela

A Federação Internacional de Handebol (IHF) divulgou as sedes de cada grupo no Mundial feminino de São Paulo, em dezembro. Ao contrário do que eu supunha, a primeira fase não será itinerante, cada grupo tem sede estabelecida. A tabela é que não saiu ainda, o que impossibilita saber contra quem o Brasil jogará na partida de abertura.

O grupo C, chave do Brasil, será em São Paulo, no Ibirapuera. O ginásio também será sede de duas partidas das oitavas de final e de todos os jogos das quartas de final em diante.

Eis a distribuição das sedes por grupo:

Grupo A – SANTOS – Noruega, Montenegro, Angola, Alemanha, China, Islândia

Grupo B – BARUERI – Rússia, Cazaquistão, Holanda, Coreia do Sul, Espanha, Austrália

Grupo C – SÃO PAULO – Romênia, França, Brasil, Tunísia, Cuba, Japão

Grupo D – SÃO BERNARDO DO CAMPO – Suécia, Dinamarca, Croácia, Argentina, Costa do Marfim, Uruguai

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Os argentinos cresceram


(foto: FIVB.org)

De 2009 pra 2010, embalado pelas previsões obrigatórias de fim de ano, comecei a acreditar que 2010 seria um bom ano pro vôlei argentino. Depois de quase uma década e meia dependendo de Milinkovic, a Argentina despontava com bons resultados nas categorias de base e levava, rapidamente, os garotos pro time adulto. Isso somado à fase final da Liga Mundial/2010 ser na Argentina, cravei: a Argentina termina o ano entre as quatro melhores seleções do mundo.

Errei.

Na Liga, uma campanha melancólica, perdendo todos os jogos da primeira e da segunda fases. Veio o mundial da Itália, e os portenhos até iam bem, mas enfrentaram Rússia e Sérvia na terceira fase e caíram antes das sêmis. Não foi, de fato, o ano do vôlei argentino. Mas a geração não estava perdida.

Na primeira fase da Liga Mundial deste ano, poderiam ter garantido a classificação com dois jogos de antecedência, mas acharam de perder pra Finlândia, em casa. Tiveram de ir à Sérvia conseguir a vaga. E conseguiram. Depois de perder o primeiro jogo, os argentinos sapecaram 3 a 0 no time da casa e garantiram vaga na fase final.

E, agora, na fase decisiva, onde se diz que os homens e os meninos se separam, eis que os meninos argentinos se mostram homens e já cumprem a melhor campanha da história da seleção em ligas mundiais. Com vitórias sobre Itália e Bulgária, já estão nas semifinais. Finalmente, entre os quatro melhores do mundo.

O melhor desse time argentino, sem dúvida, é a perspectiva de longevidade. Do time que enfrentou hoje a Bulgária, o jogador titular mais velho foi o líbero Alexis González, que completa 30 anos no próximo dia 21. Os demais não têm, sequer, 25 anos, são mais jovens do que qualquer jogador da seleção brasileira.

O destaque do time é Facundo Conte, 21, que é o maior pontuador dessa fase final da Liga e tem um aproveitamento quase inacreditável de 61,2% no ataque.

Independente do que faça nas semifinais, quando enfrenta Brasil ou Rússia, times evidentemente mais fortes do que já enfrentou no torneio, a Argentina sai fortalecida do campeonato e com a ideia de que pode, enfim, voltar ao pódio do vôlei, de onde está afastada desde o bronze nos Jogos de Seul/1988 – quando nenhum dos principais jogadores pensava em vôlei ou, até, nem havia nascido.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Leitura do jogo

Admito: não vi a estreia brasileira na fase final da Liga Mundial de Vôlei. Vou comentar o resultado, e nada, no esporte, é mais pobre do que comentar resultado. Dizer que o time foi bem porque ganhou de muito ou foi mal porque perdeu de um azarão ou que se superou porque virou um jogo em que perdia por 2 a 0 é muito cômodo. Do mesmo jeito, é dizer que “o melhor da partida de hoje foi Lucão, porque ele, sendo é um central marcou 18 pontos no ataque, 20 no total.” Isso, per si, não quer dizer nada. Vou confiar no que andei lendo e acreditar que ele foi mesmo o melhor jogador em quadra contra Cuba.

Mas tem uns dados que, realmente, merecem registro.

Li, no ponto a ponto do globoesporte.com, que Vissoto passou em branco no primeiro set. Zero ponto. Sem ter visto o jogo, repito, prefiro dizer que ele voltou sem ritmo da contusão da semana passada e, no decorrer da peleja, até marcou cinco vezes no ataque. Mas isso me preocupa, porque é mais fácil dizer que a história dele na seleção mostra um jogador imprevisível, capaz de arrebentar na decisão de um Mundial e de não jogar rigorosamente contra, digamos, Porto Rico.

Vejo, o resumo da partida no site da Federação Internacional de Vôlei e leio o blog de Bruno Voloch, na UOL. Marlon jogou mal os dois primeiros sets e deu lugar a Bruno nos sets da virada. Isso tem se tornado comum. E também seria comum se fosse o contrário: Bruno entra mal no jogo e Marlon comanda o time na vitória. O lado bom é que mostra que a seleção tem dois bons levantadores. O lado ruim é que mostra que a seleção não tem um levantador cem por cento confiável – é bom, no fim das contas, ter dois levantadores do nível deles, já que não dá mais pra ter um Ricardinho.

Sigo no site da FIVB. Dante começou o jogo como titular, o Brasil perdeu dois sets, ele foi pro banco e deu lugar a Giba, que pontuou dez vezes nos três últimos sets. Já pedi, em nome da história dele e pelo que vi ano passado, que Giba tomasse a iniciativa de deixar a seleção por cima, antes das Olimpíadas de Londres. O sinal de alerta fora a reserva inquestionável no Mundial da Itália. Mas, qual o quê!?

Na Liga desse ano, Giba tem jogado muita bola, (mais, até, do que Murilo em alguns momentos) e merece ser titular. Dante ainda está voltando e espero que esteja bem fisicamente no campeonato que vale de fato, em dezembro, na Copa do Mundo do Japão.

No mais, uma salva de palmas pra Bernardinho. E eu digo isso pelo jogo que eu vi, mais cedo, entre EUA e Rússia.

Stanley fez uma partida ruim. Patak, seu reserva imediato, toda vez que entrava no jogo, era pra sacar. Sacava, pontuava, animava o time e saía. O treinador americano, Alan Knipe, não teve a ousadia, sequer, de testá-lo em jogo mesmo, tirando um cara que estava mal. Resultado: Rússia 3 a 1, EUA na lanterna do grupo.

O técnico ianque precisa ver os jogos do Brasil e perceber que Bernardinho, salvo uma ou outra teimosia, não tem medo de botar reservas em quadra pra virar um jogo. Hoje, ele mudou três jogadores do segundo pro terceiro set e escapou da derrota.

Amanhã, tem Brasil e EUA. Pode valer a classificação. E eu não vou poder ver, de novo.

Riem nas quartas. Vão rir no domingo?


(foto: http://www.facebook.com/officialussoccer)

A definição dos confrontos das quartas de final da Copa do Mundo feminina de Futebol foi cruel com a Seleção Brasileira. O Brasil fez a melhor campanha da fase, melhor ataque, junto com Alemanha e França, única defesa zerada, etc. e tal. Mas aí a vitória das suecas sobre as norte-americanas pôs as ianques no caminho de Marta & Cia. E a história mostra: não há adversário pior de para enfrentar do que os EUA.

Essa é a sexta Copa do Mundo de Futebol das mulheres. Os EUA têm dois títulos e três terceiros lugares.

Em quatro edições do Futebol feminino em Olimpíadas, os EUA levaram três ouros e uma prata – perderam para a Noruega, em Sydney/2000, na prorrogação.

Nos torneios de grande relevância, as ianques sempre chegaram, pelo menos, nas semifinais. O detalhe é que nunca saíram sem medalham. Noutras palavras, quartas de final, até hoje, é uma terra em que elas não conhecem derrota.

A única coisa boa dessa história é que, com certeza, as americanas não gostaram nada, nada de enfrentar o Brasil no próximo domingo. Elas podem até se lembrar das duas últimas finais olímpicas, mas não se esqueceram da semifinal de 2007.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Quebrar o gelo e balançar a rede


(foto: Gazeta Esportiva)

A Copa América de Futebol não encanta. Mais do que pelo futebol pobre praticado pelas seleções do continente – e pelas sub-22 convidadas, México e Costa Rica – foi a falta de gols que chamou a atenção na primeira rodada. O fato de a rede não haver balançado no gol inaugural da competição (foto) foi um péssimo prenúncio.

As seis partidas do torneio produziram oito gols, o que dá uma média de 1,33 gols por partida – de quebra, ainda houve dois zero a zero. A Copa América, no entanto, não está sozinha: no começo, todo mundo é meio tímido.

Na Eurocopa de 2008, disputada na Suíça e na Áustria, a primeira rodada teve média de 2 gols por partida, o que não é muito animador. No fim das contas, a média foi de 2,48 gols por jogo. Nada excepcional, nada decepcionante. Normal.

Na Copa do Mundo da África do Sul, ano passado, a primeira rodada teve uma média (ridícula) de 1,56 gols por jogo. Míseros 25 gols em 16 partidas, e ainda contando com a benesse de a Alemanha ter feito quatro em cima da Austrália. Terminado mundial africano, Espanha campeã com a pior média de gols da história – oito tentos em sete prélios, média de 1,14 gols em cada jogo – a Copa, ao contrário do que tudo indicava, não teve a pior média da história (a honraria ainda cabe à Copa da Itália, em 1990): a média final foi de 2,26 g/p.

E, vejam, até as meninas ficam tímidas também. As oito partidas da primeira rodada da Copa do Mundo deste ano só viram a rede balançar 14 vezes. Mas, no segundo round, as coisas claramente melhoraram: com 24 gols, a rodada teve média de 3 gols em cada jogo.

Na Argentina, ainda tem muitas partidas pela frente. E tomara que muitos gols também.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Yane, sim! E Priscila e Larissa também


(na foto: LArissa Lellys, Yane Marques e Priscila Oliveira)

O ranking divulgado pela União Internacional de Pentatlo Moderno (UIPM) reflete o surpreendente crescimento do esporte nessas terras tupiniquins. Yane Marques atingiu sua melhor posição e é a quarta colocada, com Priscila Oliveira na 19ª posição e Larissa Lellys em 26º. Mais até do que isso, mostra o nível que o Pentatlo Moderno atingiu em Pernambuco – eis que todas moram e treinam no Recife.

Yane Marques ganhou fama nacional com o título no Pan do Rio, em 2007. No ano seguinte, a pentatleta de Afogados da Ingazeira se tornou a primeira brasileira nata disputando uma Olimpíada nesse esporte – antes dela, o Brasil importara Samantha Harvey, dos EUA, pros Jogos de Atenas/2004. E Yane, apesar dos problemas que teve na prova de equitação, ficou na 18ª colocação, superando o 25º lugar de Samantha, quatro anos antes.

Depois disso, ela ficou em segundo lugar na final da Copa do Mundo de 2009, no Rio de Janeiro, foi sexta colocada no Mundial de Chengdu, na China, ano passado e, agora, alcançou uma posição no ranking que lhe faz sonhar, quem sabe, com um pódio em Londres.

Mas se engana quem pensa que o pentatlo brasileiro é só Yane Marques.

O ranking de Priscila Oliveira e de Larissa Lellys faz as duas acreditarem que seja possível conquistar uma vaga olímpica. Como só é permitido que o país inscreva duas pentatletas, a briga entre as pernambucanas (Larissa nasceu na Paraíba, mas veio morar em Pernambuco com poucos dias de vida) promete ser muito boa. Boa como, aliás, vem sendo.

Mês passado, sem a presença de Yane, as duas disputaram ponto a ponto o campeonato sul-americano. O equilíbrio foi tamanho que, ao fim das provas de Esgrima, Natação e Equitação, as duas estavam empatadas na liderança. No biatlo (corrida e tiro), deu Priscila, com 34s de folga.

A briga por uma segunda vaga em Londres, ao que tudo indica, vai ficar aqui em Pernambuco mesmo. Mérito das pentatletas e, é claro, do técnico delas, Michael Cunningham.

Nesse fim de semana, em Londres, tem a final da Copa do Mundo. Do Brasil, só Yane participa. Do jeito que as coisas têm caminhado (e esgrimado e nadado e montado e atirado), é possível que, em 2012, a sertaneja volte à capital britânica, acompanhada de uma rival conterrânea.

domingo, 3 de julho de 2011

Três do trio

(foto: Fifa.com)

Se a Seleção Brasileira ainda não jogou um futebol primoroso, na Copa do Mundo da Alemanha, pelo menos o segundo tempo da partida contra a Noruega mostrou que o ataque brasileiro, finalmente, entrou em campo. Depois de um primeiro tempo amarrado, limitado a um chute de fora da área de Rosana e com um golaço irregular de Marta – ela derrubou duas norueguesas, uma com um drible, uma com um empurrão pelas costas –, o trio adiantado brasileiro voltou com vontade, no segundo tempo, resolveu o jogo em três minutos.

Primeiro, Marta fez uma jogada de Marta, tocou pro meio da área, Cristiane, com a visão de jogo que tinha há três anos, fez o corta-luz e Rosana marcou o segundo gol. Em seguida, Cristiane marcou a zagueira na entrada da área, conseguiu roubar a bola da goleira, mas chutou em cima da defensora. Marta aproveitou o rebote e sacramentou a classificação brasileira, 3 a 0, sem susto e com futebol. Elogios à zaga – Daiane, Aline e Érika – que não deu chance à bola alta das nórdicas.

O Brasil, em três minutos de segundo tempo, conseguiu vaga às quartas de final, conheceu um trio ofensivo competente e reencontrou o bom futebol de Marta. E que venha Suécia ou EUA.

Liga Mundial: de novo, um grupo da casa e um grupo da morte

Não entendo ao certo o critério da Federação Internacional de Vôlei (FIVB) na escolha das chaves da fase decisiva da Liga Mundial. Se foi por sorteio, deviam dizer que colocou as bolinhas no globo e quem as puxou.

Assim como na Liga Mundial de 2003, o time da casa este ano – a Polônia – foi agraciado com adversários bons, enquanto os “marvado” estão todos na outra chave.

Comparemos os grupos deste ano:

Grupo E:
Polônia (time da casa)
Argentina (um bom time e com um certo conjunto adquirido nas seleções de base, mas muito jovem ainda)
Itália (bastante renovada, se aproveitou do esfacelamento do time cubano)
Bulgária (que se classificou a duras penas, graças à incompetência da Sérvia)

Grupo F:
Brasil (dispensa credenciais)
EUA (atual campeão olímpico)
Rússia (melhor campanha da primeira fase)
Cuba (só é o mais fraco da chave porque perdeu três titulares esse ano, Simon, Hierrizuelo e Leal)

Melhor dizendo: num grupo está o pódio dos Jogos de Pequim (EUA, Brasil e Rússia), estão os dois finalistas do último mundial (Brasil e Cuba), ao passo que não há ninguém premiado recentemente na chave polonesa. Caminho aberto pro time da casa chegar às semifinais, assim como em 2003, né?

Só para ilustrar a composição das chaves, há oito anos: enquanto a Espanha enfrentou Sérvia, Grécia e Rep. Tcheca, no grupo E, Brasil, Rússia, Itália e Bulgária se digladiaram no grupo F. O resultado? A Espanha perdeu para Sérvia e Rep. Tcheca, ficou fora das semifinais e o Brasil voltou pra casa com o título.

Pode ter sido um bom prenúncio.

Sorte nas bolinhas

Para coroar a noite em que conquistou o Pan-Americano de Handebol (35-16 contra a Argentina), a Seleção Brasileira foi agraciada com uma boa chave no sorteio dos grupos para o Mundial feminino. Bem diferente do mundial de 2009, na China, quando o Brasil caiu no grupo de Suécia, Alemanha, França, Dinamarca e Congo!

As brasileiras escaparam das gigantes – as russas e as norueguesas –, e ao invés de enfrentarem Coreia do Sul ou Alemanha, que estavam no pote 3, vão jogar contra a Tunísia, cuja tradição no Handebol se resume ao time masculino. As adversárias mais fortes do grupo são a Romênia, terceira colocada no europeu do ano passado, e a França, vice-campeã do mundo em 2009, num campeonato em que, vejam só, estreou perdendo para o Brasil. Cuba, que há muito não assusta as brasileiras, e Japão completam o grupo C.

O emparelhamento das partidas nas fases de mata-mata ainda não está definido, portanto, ainda não dá pra dizer com time de que grupo o Brasil pode cruzar na segunda fase. Mas, como quatro times se classificam em cada chave, e pensando num confronto de oitavas de final, é importante que as brasileiras fiquem, pelo menos, em segundo lugar na chave para enfrentarem uma terceira colocada de outro grupo – posição que dificilmente será ocupada por Rússia, Noruega, Coreia do Sul, Suécia ou Dinamarca.

Também não está claro quem o Brasil enfrenta na abertura do Mundial, no dia 02/12. Contudo, se a ordem das seleções usada na tabela for a mesma que aparece no site da Federação Internacional de Handebol (IHF), o Brasil seria o time C3 e enfrentaria, na estreia, C5, que é Cuba. Mas isso é ESPECULAÇÃO, ainda faltam muitos esclarecimentos sobre a tabela por parte da IHF e, por que não, da Confederação Brasileira de Handebol, cujo site se encontra “em manutenção” há alguns dias.

Eis os grupos:
Grupo A
• Noruega
• Montenegro
• Angola
• Alemanha
• China
• Islândia

Grupo B
• Rússia
• Cazaquistão
• Holanda
• Coreia do Sul
• Espanha
• Austrália

Grupo C
• Romênia
• França
• Brasil
• Tunísia
• Cuba
• Japão

Grupo D
• Suécia
• Dinamarca
• Croácia
• Argentina
• Costa do Marfim
• Uruguai

sábado, 2 de julho de 2011

O mordomo nega tudo

Ainda não se sabe que suplemento alimentar foi usado por Cielo e cia., mas, http://www.blogger.com/img/blank.gifagora, já se sabe o nome da farmácia onde foi manipulado, em Santa Bárbara D'Oeste - Anna Terra. Enfim, um avanço, um segredo a menos.

E, então, um retrocesso, uma volta terrível à estaca zero: a farmácia apareceu pra negar a versão da CBDA. Disse que a contaminação "por suspensão de partículas" até pode ter havido, mas não é algo provável. Disse que as duas manipulações em questão foram feitas em cabines diferentes e que os "tabuleiros são higienizados após o uso."

Agora, por uma questão de transparência, a CBDA vai ter que abadonar o laconismo e mostrar esse tal relatório.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Não é estranho?

A farmácia de manipulação, em Santa Bárbara D’Oeste, que lidou com o suplemento alimentar dos nadadores admitiu a culpa. Antes da tal manipulação, o mesmo balcão tinha sido utilizado para manipular outro medicamento, que continha furosemida, e, pela pressa dos atletas, o farmacêutico descuidou da assepsia e acabou “contaminando” o suplemento com resquício do material que era utilizado no outro remédio. Tudo esclarecido. Já podemos passar para o próximo assunto – Copa América, quem sabe.

O que me deixa intrigado é que, se foi descuido, Cielo e cia. podem pedir na justiça uma indenização por danos materiais (perda de premiação do Maria Lenk, perda das medalhas e certificados) e danos morais (incalculável, ainda mais que Cielo é o nadador mais rápido do mundo e, portanto, de fama em escala planetária). Além do quê, essa farmácia, agora, também está com a imagem totalmente arranhada: você manipularia um medicamento num lugar sem higiene? Pois o erro alegado é de falta de higiene.

E, no entanto, a farmácia foi logo levantando a mão e dizendo "fui eu que errei."

Se você não acha isso estranho, eu acho.

P.S.: lamentável que Cielo tenha convocado a imprensa para ler uma nota oficial, redigida pela assessoria, e não tenha permitido que lhe perguntassem nada.

E a trama se complica

Se não fosse o Mundial de Xangai batendo à porta, os quatro nadadores seriam punidos com rigor? Ou será que os outros três pegaram carona na mesma pena de Cielo?

Daynara de Paula pegou seis meses de suspensão, ano passado, também por furosemida, e o médico do programa antidoping do COB diz que “Não podemos comparar penas. A substância pode ser a mesma, mas tem que avaliar se mostra negligência ou culpa do atleta. Seis meses, a pena tradicional, às vezes cai em um período em que o atleta não tem competição importante. Outra hora você dá dois meses e, se fossem três, tiraria do Mundial. Às vezes não é tão grande para tirar do Mundial por uma coisa não grave.”

A história é contada cada vez pior. Se a punição é para não punir de fato, para que punir, ou mesmo, para que o antidoping?

Em 2007, Jaqueline ficou fora dos Jogos Pan-Americanos por uso de sibutramina. Maurren Maggi, em 2003, foi flagrada com clostebol e não disputou o Pan de Sto. Domingo nem as Olimpíadas de Atenas, no ano seguinte. E agora o médico Comitê Olímpico Brasileiro, responsável pelo controle antidoping, diz que não vai suspender ninguém por causa do mundial?

Há algo de podre, não no reino da Dinamarca, e sim, na piscina brasileira. Pesos e medidas não estão conferindo.

Investigar, sim




Antes da punição branda a Cesar Cielo, Henrique Barbosa, Nicholas Santos e Vinicius Waked, uma advertência com base nos antecedentes dos nadadores, a CBDA deveria estar preocupada em investigar o caso.

Cielo, Henrique Barbosa e Nicholas são nadadores do Flamengo. Além disso, Waked e Nicholas Santos fazem parte do PRO (Projeto Rumo ao Ouro), criado pelo próprio Cesar Cielo para preparação de nadadores de alto nível e com chance de conquistar medalhas olímpicas e em mundiais. E os quatro testaram positivamente para furosemida, a mesma substância encontrada num exame em Daiane dos Santos, ano passado. Pelo que se diz, a substância em si não serve para melhorar o desempenho esportivo, mas para mascarar o uso de alguma substância dopante.

O que pode depor a favor dos atletas (embora se deva reconhecer que depoimento não é sentença) é que nenhum deles conquistou grandes marcas ou resultados na competição em que foi realizado o teste, o Troféu Maria Lenk, em maio. Cielo, inclusive, foi derrotado por Bruno Fratus, na prova dos 100m livre. Waked foi terceiro nos 200m livre e quarto nos 100m. Henrique Barbosa, com experiência olímpica em Pequim, terminou os 100m peito em quarto lugar. Nicholas Santos, que também competiu em http://www.blogger.com/img/blank.gifPequim, foi o terceiro na prova dos 50m livre.

Os maus resultados na competição no Maria Lenk não podem servir como álibi dos nadadores. É preciso que eles expliquem melhor que suplemento alimentar ingeriram – pois Cielo disse que consumiu, no período, um suplemento que usa habitualmente – e é preciso, inclusive, que os outros três não usem como escudo a figura do campeão olímpico. Todos devem, sim, explicações.

O Blog de José Cruz foi taxativo: chama de "farsa olímpica", fala em proteção da cartolagem a Cielo, inclusive no eufesmismo que usou para falar do doping – “resultado adverso”. Não quero ir, ainda, a tal extremo, apesar de concordar com o jornalista no tocante à hipocrisia vocabular da CBDA. Mas quero, sim, que o caso seja investigado e esclarecido. Por enquanto, tudo é névoa.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Blankas nuvens



(Foto divulgação: IAAF.org)

Não há dúvida de que a melhor saltadora em altura do mundo seja a croata Blanka Vlasic. Ela é bicampeã do mundo, tanto em competições indoor quanto ao ar livre, e até poderia ter na estante a medalha de ouro de Pequim, não fosse a zebra belga, Tia Hellebaut, tê-la vencido no desempate – coube-lhe a prata.

Também não há dúvida de que ela seja a saltadora melhor qualificada para superar o recorde mundial da prova – 2,09m, estabelecido em 1987 pela búlgara Stefka Kostadinova. Há dois anos Blanka ficou a um centímetro do recorde e sempre que ela vence as adversárias, seu divertimento é continuar no estádio tentando derrubar Kostadinova do topo. Mas isso não tem se repetido esse ano.

O melhor salto do mundo em 2011 é da própria Vlasic, com 2,00m – marca obtida semana passada. Ocorre que ela tem sido derrotada em etapas da Diamod League com uma frequência inesperada.

Hoje, em Lausanne, ela ficou com o sexto lugar, depois de falhar em 1,95m. Em Nova Iorque, ficou em segundo, falhando em 1,94m. As vitórias da croata, Xangai e Roma, foram com marcas muito aquém do potencial da saltadora – 1,94 e 1,95m, respectivamente.

O Mundial de Daegu, na Coreia do Sul, começa em 27 de agosto. Blanka é favorita ao tri. Já a marca de Kostadinova, pelo menos esse ano, parece a salvo: a croata tem competido cada vez mais com as adversárias do que com o livro de estatísticas.

Mundial com nova fórmula




Depois de o Brasil mudar quatro vezes a sede do Mundial feminino (primeiro, foi Santa Catarina, depois Santa Catarina e Paraná, depois apenas Santa Catarina novamente, e, por fim, São Paulo), foi a vez de a Federação Internacional de Handebol (IHF) fazer uma mudança também: a fórmula de disputa da competição é diferente da dos últimos mundiais.

Nos últimos quatro campeonatos, três de seis seleções de cada grupo se classificavam para a segunda fase. Nela, as 12 equipes eram divididas em grupos de seis times, os resultados da primeira fase dos jogos entre as seleções classificadas eram levados em conta e, daí, seguiam os times que disputariam os mata-matas (fosse quartas de final, como em 2007, fossem as semifinais, como em 2003, 2005 e 2009). Seja como for, havia duas fases de grupo.

No Mundial de São Paulo, não.

A primeira fase continua com as 24 seleções divididas em quatro grupos de seis equipes. A diferença é que se classificam os quatro primeiros de cada grupo e, a partir de então, todo jogo é eliminatório, das oitavas de final até a decisão.

De acordo com o site da IHF, a cidade de São Paulo é a sede de todas as partidas de quartas de final, semifinal e final. Cada um das quatro sedes – Barueri, Santos, São Bernardo do Campo e São Paulo – sediará duas partidas de oitavas de final. Mas, na primeira fase, não há indicação de que cada grupo terá sede própria. Ou seja, a primeira fase pode ser itinerante, a exemplo do que ocorre, hoje, com a Copa do Mundo de Futebol.

O calendário do Mundial feminino de Handebol está assim:

1ª fase – 24 times em quatro grupos – de 02/12 a 09/12
Oitavas de final (quatro melhores de cada grupo) – dias 11 e 12/12
President’s Cup (definição do 17º ao 24º lugar) – dias 11 e 12/12
Quartas de final – dia 14/12
Definição do 5º ao 8º lugar – dias 16 e 18/12
Semifinais – dia 16/12
Final e 3º lugar – dia 18/12

O sorteio dos grupos do mundial ocorre neste sábado, 2 de julho, às 21 horas, em São Bernardo do Campo, quando se definirem as donas das três vagas pan-americanas do mundial.

Brasil sem privilégio



Na teoria, não existem cabeças de chave no sorteio deste sábado, pro Mundial feminino de Handebol. Na prática, existem. E, o mais curioso, o Brasil, sede do evento, não está entre as cabeças.

As 24 seleções serão divididas em quatro grupos de seis seleções. Para o sorteio, as equipes estão divididas em potes. Na prática, as seleções do pote 1 são os times mais fortes, são os cabeças de chave: Rússia (atual bicampeão do mundo), Noruega (atual tetracampeã europeia e medalha de ouro em Pequim/2008), Suécia (atual vice-campeã europeia) e Romênia (terceira colocada no europeu do ano passado).

É curioso que Suécia e Romênia fiquem em posição melhor no sorteio que a França, vice-campeã do mundo há dois anos. As francesas estão no pote 2 e podem, perfeitamente, cair no grupo das russas ou da norueguesas. Interpretação lógica: a Federação Internacional de Handebol levou mais em conta o último torneio promovido pela federação europeia do que o último dela mesma.

O Brasil está no pote 3 e pode enfrentar qualquer time na primeira fase (das Américas, inclusive), exceto suas companheiras de pote Holanda, Croácia (vindas da repescagem europeia) e Angola (campeã africana). E diga-se: o Brasil só está nesse pote 3 por ser o país-sede, pois o time que vencer o pan-americano já está, automaticamente, no 4, junto com Coreia do Sul, Alemanha e Tunísia (esse pote até parece mais difícil, não?)

Uma observação pertinente é de que o Cazaquistão, que venceu o campeonato asiático, está no pote 2, ao passo que a Coreia do Sul, de seis medalhas olímpicas, incluindo os títulos de 1984 e 1988 e o bronze de Pequim/2008, está junto de seleções consideradas, no sorteio, de força menor.

Pote 1 – Rússia, Noruega, Suécia, Romênia
Pote 2 – Dinamarca, Cazaquistão, França, Montenegro
Pote 3 – Brasil, Angola, Holanda, Croácia
Pote 4 – Coreia do Sul, Alemanha, Tunísia, Campeão Pan-Americano
Pote 5 – China, Espanha, Costa do Marfim, Vice-campeão Pan-Americano
Pote 6 – Japão, Islândia, Austrália, 3º colocado do Pan-Americano

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Mortal




A estreia do Brasil na Copa do Mundo não foi das melhores. O resultado, ao menos, não foi pior do que as outras estreias da seleção em mundiais. A exemplo do que aconteceu na China/1991 (1 a 0 Japão), Suécia/1995 (1 a 0 Suécia), EUA/1999 (7 a 1 México), EUA/2003 (3 a 0 Coréia do Sul) e China/2007 (5 a 0 Nova Zelândia), a Seleção Brasileira feminina estreou na Alemanha vencendo a Austrália.

O resultado magro foi do tamanho do futebol que as brasileiras jogaram, especialmente no primeiro tempo, quando quem pegava na bola procurava Marta imediatamente. Isso, até, era esperado. O que não se esperava era que a Rainha, hoje, jogasse mal – mal, é claro, no padrão que ela mesma nos acostumou a vê-la, porque ela buscou jogo o tempo todo, apesar da marcação cerrada que sofreu.

Diga-se, ainda, que, como time, a Austrália mostrou-se ligeiramente superior ao Brasil. Não seria absurdo, mesmo, que as Matildas saíssem com a vitória. Talvez tivessem vencido, se a atacante Lisa de Vanna não fosse tão pouco oportunista na frente do gol.

Mas, voltando às brasileiras, os destaques individuais foram poucos. Maurine fez uma boa partida pela esquerda. Rosana, depois de um gol bisonhamente desperdiçado na primeira etapa, mostrou mais vontade no segundo tempo (jogando mais recuada, inclusive), fazendo um gol de muita habilidade. E Cristiane foi, para surpresa geral de quem tem visto seus jogos pela seleção de dezembro pra cá, a melhor brasileira em campo.

Cristiane não foi brilhante, mas conseguia driblar as adversárias, se movimentou bem no segundo tempo e fez uma jogada primorosa no gol de Rosana.

Ela ainda não é a mesma Cristiane que terminou os Jogos de Pequim como artilheira. É, no entanto, uma Cristiane que pode ser a ótima coadjuvante que sempre foi da Rainha Marta ou, eventualmente, assumir o papel de protagonista no jogo. Como fez hoje, com uma jogada e um passe mortais.

Desatenção

A Federação Pernambucana de Futebol marcou a segunda e última partida da final do estadual feminino para o dia 17 de julho, às 15 horas. Não deve ter notado, porém, que a final da Copa do Mundo da Alemanha será às 15:45 horas, pelo horário do Recife. Se o problema foi desatenção da FPF, é só obedecer ao bom senso e mudar a data da final do Pernambucano, para privilegiar o torcedor do estado que realmente gosta da modalidade. Fácil, sem maiores traumas.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Ruins de conta

O puxão de orelha é duplo.

A primeira orelha puxada é da Confederação Brasileira de Vôlei. Se as comissões técnicas das seleções brasileiras – masculina e feminina, diga-se – são conhecidas pelo auxílio estatístico que dão aos respectivos treinadores no estudo do jogo e na análise do adversário, é de ser admirar a tremenda bola na antena da CBV.

Na madrugada do domingo, dia 26, logo após a derrota contra os EUA, o site da entidade publicou que a seleção ainda tentaria garantir vaga na fase decisiva da Liga Mundial esta semana, contra a Polônia. Refeitas as contas, a correção veio na segunda-feira. Ao meio-dia, o site da confederação noticiou que o Brasil já estava classificado, dizendo, no entanto, que a classificação só veio no fim da rodada, quando os jogos dos outros grupos já haviam sido realizados.

Não foi assim.

No sábado à tarde, a Polônia venceu Porto Rico. À noite, os EUA fizeram 3-1 contra o Brasil. Com esse resultado, pelo possível desempate no set average, o Brasil só perde o primeiro lugar da chave para a Polônia, o que lhe dá, assim, a segunda vaga do grupo, classificação direta à fase final. Erro da CBV.

Certo, foi só um descuido, eu é que sou chato mesmo.

A segunda orelha puxada é da imprensa especializada.

Logo depois do jogo em questão, os portais nacionais de notícia lamentavam a chance de classificação desperdiçada:

“Em jogo nervoso, EUA vencem e adiam classificação do Brasil” (globoesporte.com)

“Brasil repete atuação, perde dos EUA e adia classificação” (ig.com.br)

“EUA vencem e adiam classificação brasileira na Liga Mundial” (terra.com.br)

“EUA vencem por 3 a 1 e adiam classificação do Brasil” (gazetaesportiva.net)

Até o blog de Bruno Voloch, na UOL, dizia, na manhã do domingo, 26, que “A seleção tem bola para se classificar contra a Polônia e certamente conseguirá.”

Compreendam: o problema, aqui, não está no erro matemático em si. A questão é que as correções nesses sites só ocorreram depois do release redentor da CBV. A investigação estava ao alcance de qualquer um e ninguém se preocupou em checar, de fato, se a matemática já não havia qualificado a seleção.

Esse equívoco é a repetição de uma confusão matemática ocorrida no Mundial feminino, ano passado.

Ao contrário da Liga deste ano, o primeiro critério de desempate não era o set average, mas o ponto average. Assim, quando o Brasil venceu os EUA por 3x1, na última rodada da segunda fase, houve quem dissesse que a Itália não tinha mais chances de chegar às semifinais. E tinha: bastaria às bambinas vencerem as cubanas por, digamos, um triplo 25/18 para que a vaga fosse delas. Mas a Itália perdeu o jogo e livrou a imprensa brasileira de maiores explicações.

A dez e mais dez




A Seleção Brasileira estreia nesta quarta-feira na Copa do Mundo feminina de Futebol, na Alemanha, mais dependente de Marta do que nunca. Isso preocupa.

Entre 2007 e 2008, quando a seleção entrava em campo com ares de favorita e pensando em decidir campeonato, os dribles de Marta, os gols de Marta e as arrancadas de Marta impressionavam. Mas também impressionava a potência dos chutes de longa distância de Daniela Alves e o oportunismo (e a habilidade, por que não?) de Cristiane. O trio de ferro levou a seleção a decidir uma Copa do Mundo e uma Olimpíada.

Quando Marta não estava num dia inspirado, como ocorreu nas quartas-de-final em Pequim, contra a Noruega, Daniela Alves mandou uma bomba da intermediária e abriu o placar. Quando Marta quase passou a primeira fase olímpica em branco, lá foi Cristiane fazer os gols que o time precisava.

Mas, agora, na Alemanha, o time só tem Marta.

Com Cristiane em má fase e Daniela Alves longe dos gramados há um bom tempo, a seleção de Kleiton Lima se resume a Marta, ofensivamente. Ao que parece, ainda não há, entre as novatas ninguém que possa dividir com a alagoana a responsabilidade ali na frente. E o que é pior: fico com a impressão de que todo mundo, a começar pelo treinador, se conformou com isso.

Quem viu a seleção jogar o torneio de São Paulo, no final do ano passado, e o amistoso contra o Chile, há algumas semanas, viu um time desorganizado, sem poder de marcação no meio-campo e na defesa, e com um ataque que reza para que a rainha jogue bola e resolva.

Não posso deixar de lembrar que, em 1994, tinha-se a mesma expectativa sobre Romário. Mas, diferentemente do time de Parreira, a defesa da seleção de Kleiton Lima é longe de ser boa, e não tem uma goleira que inspire confiança. Recordemos que Andréia, a provável titular contra a Austrália, começou as últimas olimpíadas no time principal, mas perdeu a vaga depois do segundo jogo, para Bárbara. Mas Bárbara, pelas falhas grotescas do amistoso contra a seleção pernambucana, também não está no melhor da forma (penso se, de repente, não pode pintar uma chance pra terceira goleira, Thaís).

Futebol surpreende? Que surpreenda mais uma vez.

Zebra em Pasto

Se a fase do Basquete Brasileiro masculino ainda não é das melhores, com estrela da NBA pedindo dispensa da seleção, a do feminino é bem ruim. Mas a terceira partida das meninas brasileiras, no sul-americano sub-17, foi pior do que qualquer má fase.

Jogando em Pasto, na Colômbia, as brasileiras foram derrotadas, agora há pouco, por 49-44 pelo time da casa, na prorrogação. Detalhe que, no primeiro quarto, o time comandado por Janeth Arcain fez cinco pontos. No quarto seguinte, apenas quatro. Ou seja, nos 20 primeiros minutos de basquete o Brasil só marcou 9 pontos. O jogo terminou empatado em 39 pontos, com a colombiana Marlyn Caicedo perdendo um lance livre a dois segundos do fim. No tempo extra, não teve perdão. A Colômbia dominou o placar e venceu por cinco pontos.

Na estreia, o Brasil havia vencido o Chile por 79-46. Depois, fez 92-25 no Uruguai. Agora, restam duas partidas à seleção nesta primeira fase: quarta, contra o Equador, e quinta, contra a Argentina.

domingo, 19 de junho de 2011

Ah, se fosse Londres...

Sem ufanismo, sem pachequismo, sem patriotada, sem empunhar com orgulho o Pavilhão Nacional, é preciso dizer que não pode passar em branco o bom fim de semana do esporte brasileiro.

Ontem, pelo GP de Natação de Santa Clara, nos Estados Unidos, Thiago Pereira bateu o norte-americano Ryan Lochte nos 400m medley. A ressalva é que o tempo de Thiago, 4min15s89, não foi lá essas coisas, mas o que valeu, aqui, foi a vitória em cima do favorito ao título olímpico e campeão do mundo.

No Mundial de Vôlei de Praia, em Roma, Juliana e Larissa conquistaram o título pela primeira vez, com uma virada fantástica no tie-break contra Walsh e May, a melhor dupla da história. No masculino, Emanuel e Alison, que haviam tirado a dupla campeã do mundo nas semifinais, Brinck e Rekermann, encabeçaram a dobradinha brasileira no masculino, deixando a prata com Ricardo e Márcio.

No Grand Slam de Judô, no Rio, o Brasil conquistou quatro ouros, com Érika Miranda (-52 Kg), Mayra Aguiar (-70 Kg), Leandro Guilheiro (-81 Kg) e João Gabriel Schilttler (+100 Kg). A observação a ser feita é que nem todas as categorias contaram com os melhores do ranking – mas isso acontece, também, nas etapas da Copa do Mundo e nas outras etapas do Grand Slam.

Não foi nada, não foi nada, e o fim de semana terminou com sete títulos importantes pro esporte nacional. Ainda falta quanto pra Londres, hein?

sábado, 18 de junho de 2011

Dois passos para trás

O Basquete masculino do Brasil não vai a uma Olimpíada desde 1996. Mas depois da onda de renovação pela qual o esporte tem passado no país, é de se supor que alguma coisa esteja mudando – e para melhor.

A NBB ainda não é um sucesso absoluto, mas já teve três edições e começou a flertar com a TV aberta. O Grego, que conseguia desagradar jogadores e clubes, deixou a CBB. Hoje, há quatro brasileiros na NBA e eles, em maior ou menor grau, têm sido utilizados em seus respectivos times – talvez só Splitter possa reclamar do tempo que seu time o deixava em quadra. E a Seleção, com técnico argentino e jogadores de alguma expressão internacional, fez um bom mundial na Turquia, com uma vitória sobre a Croácia e ótimas partidas contra EUA e Argentina. Parecia que alguma coisa estava entrando no eixo. Parecia.

Mas eis que a NBB retrocedeu. O namoro com a Globo roubou do basquete nacionaluma decisão em melhor de cinco partidas para a temporada que vem: em 2012, o campeonato será decidido em um jogo apenas, porque é demais pedir que a TV aberta transmita três, quatro ou cinco jogos de basquete – ainda que sejam jogos decisivos. Uma perda sensível de qualidade por trinta dinheiros.

E, ontem, um golpe profundo: Magnano convocou Larry Taylor para a Seleção e espera que ele consiga ser naturalizado (não tive como não pensar no Futebol do Catar querendo, recentemente, comprar a naturalização de Ailton, paraibano e artilheiro na Alemanha).

Não fui daqueles ufanistas que se posicionaram contra o argentino Magnano no comando da Seleção Brasileira. Acho que o trabalho dele pode servir de espelho para o próximo brasileiro que assumir o posto e, ainda, que ele, pelo currículo olímpico que tem (ouro em Atenas/2004) pode fazer o Brasil disputar a edição de Londres e, quem sabe, voltar de lá com uma medalha. Poderia.

Naturalizar um americano não é inédito no Basquete de alto nível. A Alemanha fez isso com Demond Greene e Chris Kaman. A Rússia fez isso com J.R. Holden, no masculino, e Rebecca Hammon, no feminino. Todos presentes em Pequim/2008. Mas isso não deveria servir de exemplo.

O perigoso caminho da naturalização pode não ter volta. Primeiro, descobriremos que é mais barato naturalizar um ianque do que investir nas categorias de base. Depois, os clubes descobrirão que é mais barato contratar jogadores de terceira ou quarta linha do Basquete Americano, pela grife, do que investir nos jogadores daqui, já que os melhores daqui vão para os states. E, talvez, em alguns anos mais, descobriremos que a Seleção Brasileira não sabe mais falar português. Pessimismo?

sábado, 4 de junho de 2011

Deu pro gasto

A Seleção Brasileira fez somente o necessário para vencer os poloneses pela Liga Mundial de Vôlei. O público que lotou o Maracanãzinho, na manhã deste sábado, não viu um bom jogo, mas deve ter voltado satisfeito para casa, com a atuação de Serginho e os surpreendentes últimos dois sets de Giba. O ex-melhor do mundo tinha uma atuação fraca, até que virou as duas últimas bolas no primeiro set. A partir daí, até em ataques pelo meio-fundo ele conseguiu pontuar. Arrisco dizer que ele foi o melhor do jogo, embora Vissotto tenha sido o pontuador máximo do duelo, com 20 pontos.

No mais, nada demais.

Porque João Paulo Bravo e os centrais demoraram muito a engrenar. E porque faltou a Bruno ousadia ou confiança para levantar pelo meio-fundo de quadra – a não ser, com Giba.

E porque a Polônia, renovada (ou desfalcada?) poderia ter vencido os dois primeiros sets, mas pecou na hora H. Resultado? Sai do ginásio sem ganhar um set.

Amanhã, às 10 horas, tem mais.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Campeonato secreto

Não há nada sobre o assunto no site da Confederação Brasileira de Vôlei. Portais de notícias, sites especializados e blogueiros (este, inclusive) também calaram. Mas hoje, com largo atraso, encontro a notícia publicada no último dia 15, no site da Federação Internacional de Vôlei (FIVB): o Brasil vai sediar o Mundial Júnior masculino de Vôlei este ano. As cidades-sede são Rio de Janeiro e Campo Grande.

Esta é a segunda vez que o Mundial masculino até 21 anos é disputado no país. A primeira vez foi justamente na estreia da competição, em 1977. Na ocasião, o título ficou com a antiga União Soviética, cabendo ao Brasil a terceira posição – a China, com a prata, completou o pódio.

A luta brasileira pelo quinto título, terceiro consecutivo, começa dia 1º de agosto. A competição contará com 16 seleções e a final será no dia 10 de agosto.

P.S.: se alguém encontrar um link com essa notícia em alguma página brasileira, eu assumo a barrigada, retiro o puxão geral de orelha e publico aqui.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Novas remadas

O Campeonato Pernambucano de Remo deste ano começa no próximo domingo, dia 20. A exemplo do ano passado, o estadual será uma disputa exclusiva entre Náutico, atual campeão, e Sport, que dominou as competições no estado entre 1985 e 2009.

De acordo com a Federação Pernambucana de Remo, este ano serão disputadas seis regatas, todas com previsão de 11 provas, sendo duas delas na categoria Master e as demais, em provas de categorias de base, divididas por faixa etária. Em cada prova, os clubes podem inscrever, até, duas embarcações. O detalhe é que as provas dos Masters não contam pontos para a classificação do Pernambucano.

A definição do título se dá na soma da pontuação obtida em cada prova e em cada regata. O clube vencedor de uma prova soma quatro pontos, o segundo colocado, dois, e o terceiro, um. Já o clube que vencer a regata – que é o cômputo geral das provas disputadas naquele dia, exceto entre os masters – ganha uma bonificação de três pontos.

Com competidoras solitárias nas categorias Duplo Skiff, na categoria Júnior feminino, e Skiff Individual, na Novos Talentos feminino, o Náutico larga à frente, na luta pelo bi. Além disso, nas provas de Skiff Individual, categoria Novos masculino, e Duplo Skiff, Novos masculino, são dois barcos alvirrubros contra um rubro-negro.

A única vantagem numérica do Leão sobre o Timbu é na prova do Skiff Individual, categoria Novos feminino, quando o Sport terá dois barcos contra um do rival.

A disputa da primeira regata começa às nove da manhã, deste domingo. A linha de chegada das provas será no Marco Zero, no Recife. As demais regatas estão marcadas para os dias 27 de março, 1º de maio, 11 de junho, 24 de julho e 9 de outubro.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Socorro providencial

O Estado de Santa Catarina escapou do que seria um fiasco histórico. Depois de anunciarem que sediariam sozinhos o Mundial feminino de Handebol, em dezembro deste ano, os catarinenses descobriram que não tinham rede hoteleira suficiente para hospedar as delegações nem ginásios o bastante com condições para as disputas. Sob risco de o Brasil perder o evento, o socorro veio do Paraná, que vai co-sediar o campeonato e salvou o vizinho de uma situação embaraçosa.

O Mundial será disputado por 24 equipes, divididas, na primeira fase, em quatro grupos de seis times. Pelo acerto entre os dois estados, o grupo que abrigar a Seleção Brasileira jogará em Curitiba na primeira fase, enquanto todo o restante da disputa será disputado em Santa Catarina. Blumenau, Brusque, Balneário Camboriú, Itajaí e Jaraguá do Sul devem ser as sedes do lado catarinense.

A abertura do Mundial será no dia 2 de dezembro, na estreia do Brasil em partida isolada. A final, no dia 18, deve ser na Arena Jaraguá, em Jaraguá do Sul (cidade famosa pelo futsal da Malwee, que contou, até ano passado, com Falcão no elenco), por ser o ginásio de maior capacidade do estado. A entrada para todos os jogos é franca.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A hora do Handebol

Terminar o mundial em 21º lugar não anima ninguém. O handebol masculino do Brasil repetiu a posição do campeonato de 2009 e isso significa dizer, vendo a situação a olho nu, que não houve evolução alguma nesse biênio. Pelo menos, dentro de quadra.

A ressalva tem motivos óbvios. E midiáticos.

Jamais houve um campeonato de handebol com tanta visibilidade no país. O Bandsports, na TV fechada, e o Esporte Interativo, na aberta e na internet, fizeram uma transmissão digna, por exemplo, do que se viu nos mundiais de basquete e de vôlei, do ano passado – pelo menos, em termos de transmissões em direto.

A exibição ao vivo e diária de duas ou três partidas, incluindo todas as da Seleção Brasileira na primeira fase, fizeram a alegria de um dos espectadores mais carentes do esporte nacional, o Amante do Handebol – com as devidas maiúsculas.

Acostumado a acompanhar VTs de partidas realizadas um mês atrás, o torcedor de handebol que tivesse TV por assinatura pôde escolher, certa vez, se assistiria à França dar uma surra na Tunísia ou à Islândia encarar a Hungria.

Por 17 dias, os gols de Hansen, as defesas de Omeyer e o contra-ataques de Zrnic se tornaram trivialidades nas redes sociais e artigo de inveja (de boa inveja) para quem quer ver o esporte das bandas de cá do Atlântico se expandir. Se o handebol da seleção foi pífio, o nível dos estrangeiros foi um imenso atrativo para quem quer tomar gosto pelo jogo. Nunca a mídia fez tanto pelo handebol.

Ainda não se sabe se a TV brasileira vai ter transmissão de algum campeonato europeu ou se a TV aberta vai, finalmente, exibir a Liga Nacional. Mas um passo importante foi dado e, com o mundial feminino batendo à porta, em Santa Catarina, não parece que vai haver retrocesso nesse avanço, pelo menos a curto prazo.

A chance de fazer o Handebol Brasileiro crescer é essa. A chance de formar uma geração que gosta do Handebol é essa. A chance de se tornar independente do investimento estatal e de captar patrocinadores é essa. Tolice da mídia é regredir. Tolice de quem dirige o esporte é não aproveitar.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Um lado azul, o outro, vermelho

Nas duas partidas semifinais do Mundial de masculino de Handebol, o melhor time foi a França e o melhor jogador, o goleiro da Dinamarca, Jacobsen.

A França não teve muita dificuldade contra a Suécia, apesar do habitual cochilo do segundo tempo, quando viu a diferença cair de 24-17 pra 25-22. Mas a reação sueca não foi além.

Já o Dinamarca x Espanha parecia o Coiote contra o Papaléguas. Toda vez que a Dinamarca abria boa vantagem, a Espanha reduzia, encostava e via os nórdicos se distanciarem de novo.

O melhor momento da Espanha no jogo foi no segundo período, quando tirou uma diferença de 23-20 para 23-23, sendo que os dois últimos gols foram com um jogador a menos. Contudo, a Espanha logo em seguida teve outro jogador excluído e não resistiu a quase 4 min seguidos em inferioridade numérica. A Dinamarca abriu 4 gols e ficou trocando pontos com os espanhóis até o final.

Domingo, França e Dinamarca decidem o título.

A Dinamarca está com aproveitamento de 100%, enquanto a França tem seguido cirurgicamente no campeonato, fazendo só o necessário para vencer e ser bi.

Ou melhor, tetra, já que, além do último mundial, também ganhou em 1995 e 2001. Ou será que os dinamarqueses, que só haviam chegado uma vez à final (em 1967 e foram vice-campeões) podem quebra a incrível sequência francesa – Olimpíadas de 2008, Mundial de 2009 e Europeu de 2010?

Dinamarca ou França? Vermelho ou Azul? Quem vencerá o Handebol de Parintins?

domingo, 16 de janeiro de 2011

Segredo islandês

Resolvi, sem mas ou mais, implicar com a Islândia. Não preciso esconder que a razão é a vitória islandesa sobre o Brasil, pelo Mundial masculino de Handebol. Registre-se em ata que foi uma vitória folgada, esperada e – que tristeza! – obrigatória. A Islândia vencer o Brasil no Handebol é obrigação. Não deveria ser.

Brasil e Islândia se enfrentaram na estreia das Olimpíadas de Barcelona/1992. Era a primeira participação brasileira, enquanto os islandeses haviam disputado os dois Jogos anteriores, sem jamais haver passado da primeira fase. O time brasileiro, por sua vez, só estava ali porque Cuba desistira de mandar seu handebol à Barcelona (herdamos vaga cubana, também, em 1996).

O resultado do jogo? Um suado 19 a 18 em favor dos europeus. Aliás, naqueles Jogos, eles perderam a disputa pelo bronze contra a França, enquanto os brasileiros voltaram para casa sem um único ponto na bagagem.

Há dezoito anos, a distância do handebol islandês para o brasileiro começou com um gol e terminou com um sendo semifinalista e o outro, lanterna. Isso era um prenúncio de que os islandeses estavam em franca ascendência e que o céu seria o limite? Não.

Danado é que, depois disso, os ilhéus passaram longe do pódio nas competições que disputaram, ficaram fora dos Jogos de Atlanta e Sydney e nunca chegaram nem perto de uma boa campanha em mundiais, nem no que sediaram, em 1995.

Com boa vontade, dava para dizer que, nesse tempo, o handebol dos dois países estaria num nível parecido, já que o Brasil teve participação (discreta) em todos os mundiais de 1995 para cá e em todas as Olimpíadas – exceto, a de 2000.

Estaria, até vir o grande salto. O salto nórdico.

De 2008 para cá, a Islândia passou misteriosamente a figurar entre os grandes. Foi prata em Pequim, conquistou o bronze no Europeu do ano passado e chegou ao Mundial da Suécia sabendo que bateria o Brasil.

Aí, alguém pode dizer que a Islândia está nesse nível porque o esporte lá tem um tratamento diferenciado. Pode até ter, mas não o de alto rendimento. Até hoje, o país só conquistou quatro medalhas olímpicas – uma prata e um bronze no atletismo, um bronze no judô e a prata no handebol – e nunca, sequer, em olimpíadas consecutivas. Antes que alguém pergunte, Jogos de Inverno nunca viram um islandês no pódio, embora não haja islandês que não tenha neve no quintal o ano quase todo.

Não é pela tradição esportiva que a Islândia vence o Brasil no Handebol. E também não é, com certeza, porque a geografia o determine.

Fosse um estado brasileiro, a Islândia seria o 19º estado em extensão territorial e o último em população. Donde se conclui que, por mais “País do Futebol” que seja o Brasil, deveria haver, no mínimo, tanto espaço para o Handebol aqui quanto na ilha nórdica. Espaço e material humano.

Então, a resposta deveria estar no próprio Handebol. Os islandeses têm um handebol forte, há um bom número de times no país e que jogam muitas partidas por ano, né? Não.

Se, no Brasil, a Liga Nacional dura cinco meses e, na primeira fase, cada time disputa 14 partidas, o campeonato nacional deles dura oito meses, mas o número de jogos nem é tão grande assim – apenas 21 na fase inicial. Isso quer dizer, por exemplo, que um jogador brasileiro que dispute o Campeonato Paulista (único estadual decente no Brasil e que deveria ser o bastante para superar, pelo menos, o handebol de lá) e a Liga Nacional tem mais jogos por seu clube do que um jogador islandês.

E antes, mesmo, que alguém diga, “então, os clubes islandeses disputam muitos torneios continentais”, digo o contrário. Nenhum clube do país participa de nenhuma das quatro competições continentais no masculino – Liga dos Campeões, Copa da Europa, Copa dos Campeões ou Challenge Cup.

Então, o motivo de a Islândia já entrar em quadra ganhando do Brasil por um a zero está nos jogadores. Nenhum deles joga em clubes do próprio país. Eles se dividem entre times alemães e dinamarqueses – só o goleiro Gustavsson joga num time suíço.

Se isso revela o segredo do sucesso islandês, suscita outra dúvida: se os clubes são fracos, como os atletas têm chance de aparecer no cenário internacional? Se a resposta for que é por causa da seleção, o círculo volta ao quinto parágrafo, digo que a seleção nacional não tinha grande representatividade até dois anos atrás, e que não há uma explicação sensata para o sucesso internacional do time nórdico.

Descubro que minha implicância foi em vão. Tenho muitas perguntas e nenhuma resposta. O fato é que, da próxima vez que a Islândia cruzar o caminho do Handebol Brasileiro, tenho certeza de que é azar nosso e de que a derrota é certa. Incerto, inexpugnável, insuspeito, ainda, continuará sendo o motivo.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Musa

Marta ganhar o prêmio de melhor do mundo não é surpresa. Sentadas lado a lado no auditório em Zurique, as duas – Marta e Prinz – sabiam que o prêmio era da alagoana. A alemã, aliás, sabia disso há mais tempo.

Birgit Prinz descobriu, em 2007, que o troféu de 2010 iria para Marta. Não porque a brasileira defendesse o troféu de 2006, mas porque, naquele ano, a alemã vencera a Copa do Mundo e ainda viu Marta, na hora fatal, desperdiçar o pênalti que empataria o jogo. Ali, com um bicampeonato mundial no peito, Prinz percebeu que o título de melhor do mundo nunca mais iria para suas mãos.

É claro que, em 2007, Marta trocaria de bom grado o troféu de melhor jogadora pelo título que a alemã conquistou. Mas o danado é que a fisionomia incrédula de Prinz denunciava que ela aceitaria a troca como se lhe fizessem um favor, sem fazer maiores concessões.

Desde então, seja em dezembro, seja em janeiro, ano após ano, as duas chegam à Suíça sabendo qual vai ser a vencedora. Prinz, antes de premiação, já tem um olhar distante, abatido, como se tivesse burlado a surpresa do envelope lacrado e visse novamente o nome de Marta. A surpresa esse ano foi outra.

Prinz, sempre da maquiagem sóbria e óculos discretos, que lhe atribuem rumor culto à beleza, na premiação dessa tarde, foi ofuscada por Marta. Não pelo futebol de Marta, mas pela exuberância de Marta.

Longe do uniforme masculinizante dos gramados, Marta mostrou ter a mesma beleza do futebol que joga. Ela já era a melhor do mundo, a Pelé de saias, e, agora, é a musa da premiação da Fifa – acho que, essa, Prinz também sabe que perdeu.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Melhor que a encomenda

Ontem à noite, a Seleção Brasileira masculina de Handebol chegou a Oslo.

Hoje, menos de 24 horas depois do desembarque, com 26 horas de voo na mala, o Brasil vence a Noruega (32-31) pela primeira vez na história.

Foi uma revanche dos 39-21 do Mundial da Croácia, há dois anos? Não. Melhor acreditar que é um bom prenúncio para o confronto entre os dois times, dia 18, pelo Mundial da Suécia. Aí, sim, o jogo que vale.

Amanhã logo cedo, os brasileiros seguem para a Dinamarca, onde disputam um torneio contra os anfitriões, os suecos e os tunisianos.

Melhor começo nesse giro pelo mundo nórdico impossível.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Voa, Canarinho, voa

A Seleção Brasileira masculina de Handebol já está na Europa, se aclimatando para o Mundial da Suécia. Pelo twitter, o goleiro Gil Pires (@Gilhandebol) postou que “Depois de 26 horas de viagem chegamos a Oslo na Noruega! 1º vista da cidade é de tudo muito branco”, disse o ponta, sem esquecer a neve.

Ainda de acordo com o jogador o Brasil, antes de chegar à Suécia, no dia 13, véspera da estreia, jogará “amanhã, contra a Noruega. Depois, embarcamos para a Dinamarca, onde jogaremos um torneio com Dinamarca, Suécia e Tunísia”, completou o jogador pela rede social.

O Brasil está no Grupo B, junto com Áustria, Hungria, Islândia, Noruega e Japão. Os três primeiros colocados avançam à segunda fase, acumulando os resultados entre si, e enfrentam os três melhores do Grupo A – que tem França, Alemanha, Espanha, Egito, Tunísia e Bahrein.

Pensar numa classificação à próxima fase talvez seja sonho – ainda mais para uma seleção que nunca fez isso num mundial masculino. A chave é bem complicada e o mais provável, mesmo, é que o Brasil brigue com o Japão para não ficar na lanterna. Mas nunca fará mal lembrar que a saga vencedora do futebol brasileiro começou exatamente na Suécia, 53 anos atrás. E a estreia é contra a Áustria? Em 1958 também foi…

MUNDIAL MASCULINO DE HANDEBOL – SUÉCIA/2011
GRUPO A
França
Alemanha
Espanha
Egito
Tunísia
Bahrein

GRUPO B
Islândia
Noruega
Hungria
Áustria
Brasil
Japão

GRUPO C
Croácia
Dinamarca
Sérvia
Romênia
Argélia
Austrália

GRUPO D
Suécia
Coreia do Sul
Polônia
Eslováquia
Argentina
Chile

Jogos do Brasil
Dia 14 – Brasil x Áustria 16:30
Dia 15 – Brasil x Islândia 16:00
Dia 17 – Brasil x Hungria 12:00
Dia 18 – Brasil x Noruega 14:10
Dia 19 – Brasil x Japão 12:00
* Horário de Pernambuco

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Londres sem Diana?

O Basquete feminino dos EUA pode perder Diana Taurasi para as Olimpíadas de 2012. Atuando pelo Fenerbahçe desde o fim da temporada da WNBA (onde joga pelo Phoenix Mercury), Taurasi testou positivamente para a estimulante modafinil no dia 13 de novembro. O resultado positivo foi divulgado no dia 24 de dezembro e, hoje, o laboratório turco informou que a contraprova também foi positiva. A punição para a jogadora pode chegar a dois anos de suspensão.

O curioso da história é que a tcheca Horakova e a australiana Penny Taylor, companheiras de time de Taurasi na Turquia, se recusaram a fazer o teste nesse laboratório, depois da divulgação do resultado positivo do exame. Elas teriam ido fazer o anti-doping num laboratório em Colônia, na Alemanha.

Até agora, não houve pronunciamento oficial da federação turca, do Fenerbahçe ou da Wada (a agência mundial do controle anti-doping) sobre o assunto.

Diana Taurasi, 28, foi medalhista de ouro nos Jogos de Atenas/2004 e Pequim/2008, campeã mundial em 2010 e bronze em 2006. No Mundial da República Tcheca, a armadora foi a cestinha do time norte-americano, com média de 12 pontos por partida, e foi a segunda melhor assistente da equipe, atrás, apenas, de Sue Bird – 2,6 assistências por jogo.

Em 2003, no Mundial de Atletismo de Paris, a velocista norte-americana Kelli White perdeu as duas medalhas de ouro que conquistou nos 100 e 200m rasos por ter testado positivamente para modafinil, a mesma substância supostamente encontrada no exame de Taurasi. White foi banida por dois anos, em 2004, teve todos os resultados obtidos de 2000 até aquela data anulados e, em 2006, ela se retirou do esporte.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Esticar, melhorar, desobedecer

Este ano, faz duas décadas que a Fifa começou a promover a Copa do Mundo feminina de Futebol. Com efeito, faz 15 anos que a modalidade se tornou olímpica. Com duas datas significativas, é hora de avaliar a modalidade sob o ponto de vista do espetáculo.

De antemão, objetivamente, comparemos a altura das goleiras e dos goleiros e pensemos que a altura da meta não muda. Enquanto a alemã Angerer tem 1,74m, o espanhol Casillas, o melhor da última Copa do Mundo passada, tem 1,85m (e olhe que ele não é considerado alto para a posição). Mas Angerer tem dois motivos para não ficar triste com isso: primeiro, porque as norte-americanas Hope Solo e Briana Scurry têm apenas um centímetro a mais que ela, e Bárbara, titular do Brasil a partir do terceiro jogo da campanha de Pequim, tem 1,70m; segundo, porque, mesmo com essa estatura, ela não sofreu um único gol na campanha vitoriosa do mundial de 2007.

De qualquer forma, se é difícil encontrar jogadoras mais altas – já que estas acabam optando pelo Basquete, pelo Vôlei ou pelo Handebol –, a dispendiosa solução para melhorar o espetáculo seria diminuir a altura e a largura do gol, como o Vôlei faz com a altura da rede. Mas isso, convenhamos, não vai acontecer nunca (e vai haver quem lembre que a Fiba não diminui a altura do aro e da tabela para as basqueteiras).

Contudo, se é caro adaptar as balizas do mundo inteiro para as meninas, não seria exorbitante exigir da Fifa que escalasse árbitras, pelo menos, razoáveis nas competições vitais do esporte – Copa do Mundo e Olimpíadas. É impressionante como a arbitragem feminina não gosta de aplicar o cartão vermelho. Não fosse assim, num exemplo aleatório, Marta teria sido expulsa na semifinal de Pequim, contra a Alemanha.

Aliás, em toda a história olímpica do Futebol Feminino, só houve três jogadoras expulsas de campo, e todas em Atlanta/1996. Ou seja, a partir de Sydney/2000, nenhuma árbitra exibiu, sequer, um cartão vermelho. Fair Play?

Por fim, para melhorar a competitividade do jogo (subjetivamente falando), peço encarecidamente às jogadoras menos obediência tática. Finzinho de jogo, time perdendo por um a zero: é hora de pressão absoluta, de colocar zagueira alta jogando de centroavante, de atacar com as duas laterais e as cabeças-de-área? Não.

O gostoso de ver uma partida de futebol é que, do nada, aos 44 do segundo tempo, um gol no abafa destrói uma retranca bem feitinha, um bombão pra área desvia na cabeça de alguém e morre no fundo do gol. Mas isso raríssimas vezes pude ver no Futebol Feminino. Raras, mesmo – lembro, por assim dizer, a Suécia pressionando, brutalmente e sem sucesso, a Alemanha nos últimos minutos da final de 2003.

Nesses 15 anos de Olimpíadas e 20 de Copa do Mundo, dá para ver que a modalidade cresceu bastante, em número e qualidade de atletas e de clubes. E para que continue se expandindo e atraindo mais público, creio ser premente encontrar goleiras altas, investir na arbitragem (até, se for o caso, escalando árbitrOs de Copa do Mundo, para as partidas mais importantes) e, especialmente, desobedecer o treinador, colocando em campo mais coração do que mente – que, no fim, é a graça desse jogo que os bretões inventaram.

Gamova? Não. Mustafina

A eleição de Gamova como maior atleta da Rússia de 2010 tem muito mérito. Foi uma eleição popular promovida pelo canal de televisão Russia 2 e pelo portal digital Sportbox.ru.

A disputa se deu por etapas. Primeiro, mês a mês, o público escolhia um atleta finalista – fevereiro, por exemplo, Ivan Skobrev, prata e bronze na Patinação de Velocidade, nos Jogos Olímpicos de Vancouver. Em seguida, os 12 campeões mensais foram divididos em quatro chaves com três concorrentes. Os ganhadores avançavam às semifinais e, depois, à final, quando Gamova (novembro) venceu o goleiro do CSKA Igor Akinfeev (outubro) por 52,7% a 47,3%.

A vitória de Gamova reflete, primeiro, a importância que tem o Vôlei na Rússia, e, segundo, o quanto ela foi importante na conquista do título mundial. Nem é preciso lembrar que ela fez 35 pontos contra o Brasil, na decisão, sendo oito só no tie break. Qual seja, ela teve mérito. Mas houve quem merecesse mais.

Creio que o tempo mostrará que a atleta russa do ano foi a ginasta Aliya Mustafna. Em outubro (e olhe que ela perdeu a eleição mensal para Akinfeev), ela conquistou o título mundial por equipes e o individual geral.

Desde Svetlana Khorkina, em 2003, uma russa não era campeão do individual geral.

Além disso, a ginástica russa estava numa fase decadente. O último título mundial por equipes foi em 1991 (ainda como União Sovética). Nas Olimpíadas de Pequim, o time russo não foi ao pódio, pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos (exceto em 1984, pelo boicote). Aliás, em 2008, a equipe feminina da Rússia voltou para casa de mãos e pescoço vazios: não houve uma única russa no pódio – é claro que Nastia Liukin não conta, porque ela competiu pelos Estados Unidos.

E Mustafina conduziu a Rússia de volta ao topo da Ginástica.

Por tudo o que representam as conquistas de Aliya Mustafina, queiram ou não queiram os juízes, ela foi a atleta russa do ano passado.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Logo, logos

Devo ser um cara antiquado. Melhor: sou um cara antiquado.

Consultei duas comunidades do orkut, olhei alguns depoimentos no twitter. A imensa maioria dos internautas que se manifestaram sobre a logomarca dos Jogos Olímpicos de 2016 gostou do que viu. Um triplo abraço em 3D, valorizando as cores da Bandeira Nacional. A forma, além do um abraço, remete abstratamente ao Pão de Açúcar.

Essa junção de símbolo do Rio com signo da modernidade agradou quase em cheio na rede. Quase.

Olhando logomarcas de todos os outros Jogos Olímpicos, disponibilizado nesse link do globoesporte.com, dá para ver a “evolução” (não sei se o termo se aplica ao caso) dos desenhos ao longo do tempo – dos trabalhos artísticos dos primeiros Jogos, passando pela exaltação à tradição e chegando ao culto da logomarca em sentido absoluto.

È possível notar, por exemplo, que os Jogos de Saint Louis, em 1904, eram apenas um cartaz anunciando a Feira Mundial. É possível enxergar que a figura do atleta esteve presente até Amsterdã/1928 (exceto em Paris/1924) e só voltou, ainda que de maneira espectral, na logo de Pequim/2008.

Há menção a monumentos, como as Ruínas Gregas (Atenas/1896) e o Palácio de Westminster (Londres/1948), e a reprodução da Lupa Capitolina, estátua de bronze da idade média que retrata a loba amamentando Rômulo e Remo (Roma/1960).

Tem a simplicidade geométrica dos contornos na logo do da Cidade do México/1968 e na espiral de Munique/1972. Ou a simplicidade franciscana das logomarcas de Montreal/1976 e Moscou/1980 (a mais bela de todas, na minha visão caquética).

Tem a fixação ianque pelas próprias estrelas (Los Angeles/1984 e Atlanta/1996), a bandeira nipônica mostrando como se utilizar a cor branca (Tóquio/1964) e, até, um mapa nacional (Melbourne/1956).

Mas essa logomarca do Rio/2016 me deixou com uma sensação antiolímpica de vazio. Tenho a impressão de estar vendo nada.

Na melhor das hipóteses, posso pensar uma gravura dadaísta. Ou, na pior, achar que “faltou dinheiro para fazer o resto”. É claro que eu estou errado.