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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Um lado azul, o outro, vermelho

Nas duas partidas semifinais do Mundial de masculino de Handebol, o melhor time foi a França e o melhor jogador, o goleiro da Dinamarca, Jacobsen.

A França não teve muita dificuldade contra a Suécia, apesar do habitual cochilo do segundo tempo, quando viu a diferença cair de 24-17 pra 25-22. Mas a reação sueca não foi além.

Já o Dinamarca x Espanha parecia o Coiote contra o Papaléguas. Toda vez que a Dinamarca abria boa vantagem, a Espanha reduzia, encostava e via os nórdicos se distanciarem de novo.

O melhor momento da Espanha no jogo foi no segundo período, quando tirou uma diferença de 23-20 para 23-23, sendo que os dois últimos gols foram com um jogador a menos. Contudo, a Espanha logo em seguida teve outro jogador excluído e não resistiu a quase 4 min seguidos em inferioridade numérica. A Dinamarca abriu 4 gols e ficou trocando pontos com os espanhóis até o final.

Domingo, França e Dinamarca decidem o título.

A Dinamarca está com aproveitamento de 100%, enquanto a França tem seguido cirurgicamente no campeonato, fazendo só o necessário para vencer e ser bi.

Ou melhor, tetra, já que, além do último mundial, também ganhou em 1995 e 2001. Ou será que os dinamarqueses, que só haviam chegado uma vez à final (em 1967 e foram vice-campeões) podem quebra a incrível sequência francesa – Olimpíadas de 2008, Mundial de 2009 e Europeu de 2010?

Dinamarca ou França? Vermelho ou Azul? Quem vencerá o Handebol de Parintins?

domingo, 16 de janeiro de 2011

Segredo islandês

Resolvi, sem mas ou mais, implicar com a Islândia. Não preciso esconder que a razão é a vitória islandesa sobre o Brasil, pelo Mundial masculino de Handebol. Registre-se em ata que foi uma vitória folgada, esperada e – que tristeza! – obrigatória. A Islândia vencer o Brasil no Handebol é obrigação. Não deveria ser.

Brasil e Islândia se enfrentaram na estreia das Olimpíadas de Barcelona/1992. Era a primeira participação brasileira, enquanto os islandeses haviam disputado os dois Jogos anteriores, sem jamais haver passado da primeira fase. O time brasileiro, por sua vez, só estava ali porque Cuba desistira de mandar seu handebol à Barcelona (herdamos vaga cubana, também, em 1996).

O resultado do jogo? Um suado 19 a 18 em favor dos europeus. Aliás, naqueles Jogos, eles perderam a disputa pelo bronze contra a França, enquanto os brasileiros voltaram para casa sem um único ponto na bagagem.

Há dezoito anos, a distância do handebol islandês para o brasileiro começou com um gol e terminou com um sendo semifinalista e o outro, lanterna. Isso era um prenúncio de que os islandeses estavam em franca ascendência e que o céu seria o limite? Não.

Danado é que, depois disso, os ilhéus passaram longe do pódio nas competições que disputaram, ficaram fora dos Jogos de Atlanta e Sydney e nunca chegaram nem perto de uma boa campanha em mundiais, nem no que sediaram, em 1995.

Com boa vontade, dava para dizer que, nesse tempo, o handebol dos dois países estaria num nível parecido, já que o Brasil teve participação (discreta) em todos os mundiais de 1995 para cá e em todas as Olimpíadas – exceto, a de 2000.

Estaria, até vir o grande salto. O salto nórdico.

De 2008 para cá, a Islândia passou misteriosamente a figurar entre os grandes. Foi prata em Pequim, conquistou o bronze no Europeu do ano passado e chegou ao Mundial da Suécia sabendo que bateria o Brasil.

Aí, alguém pode dizer que a Islândia está nesse nível porque o esporte lá tem um tratamento diferenciado. Pode até ter, mas não o de alto rendimento. Até hoje, o país só conquistou quatro medalhas olímpicas – uma prata e um bronze no atletismo, um bronze no judô e a prata no handebol – e nunca, sequer, em olimpíadas consecutivas. Antes que alguém pergunte, Jogos de Inverno nunca viram um islandês no pódio, embora não haja islandês que não tenha neve no quintal o ano quase todo.

Não é pela tradição esportiva que a Islândia vence o Brasil no Handebol. E também não é, com certeza, porque a geografia o determine.

Fosse um estado brasileiro, a Islândia seria o 19º estado em extensão territorial e o último em população. Donde se conclui que, por mais “País do Futebol” que seja o Brasil, deveria haver, no mínimo, tanto espaço para o Handebol aqui quanto na ilha nórdica. Espaço e material humano.

Então, a resposta deveria estar no próprio Handebol. Os islandeses têm um handebol forte, há um bom número de times no país e que jogam muitas partidas por ano, né? Não.

Se, no Brasil, a Liga Nacional dura cinco meses e, na primeira fase, cada time disputa 14 partidas, o campeonato nacional deles dura oito meses, mas o número de jogos nem é tão grande assim – apenas 21 na fase inicial. Isso quer dizer, por exemplo, que um jogador brasileiro que dispute o Campeonato Paulista (único estadual decente no Brasil e que deveria ser o bastante para superar, pelo menos, o handebol de lá) e a Liga Nacional tem mais jogos por seu clube do que um jogador islandês.

E antes, mesmo, que alguém diga, “então, os clubes islandeses disputam muitos torneios continentais”, digo o contrário. Nenhum clube do país participa de nenhuma das quatro competições continentais no masculino – Liga dos Campeões, Copa da Europa, Copa dos Campeões ou Challenge Cup.

Então, o motivo de a Islândia já entrar em quadra ganhando do Brasil por um a zero está nos jogadores. Nenhum deles joga em clubes do próprio país. Eles se dividem entre times alemães e dinamarqueses – só o goleiro Gustavsson joga num time suíço.

Se isso revela o segredo do sucesso islandês, suscita outra dúvida: se os clubes são fracos, como os atletas têm chance de aparecer no cenário internacional? Se a resposta for que é por causa da seleção, o círculo volta ao quinto parágrafo, digo que a seleção nacional não tinha grande representatividade até dois anos atrás, e que não há uma explicação sensata para o sucesso internacional do time nórdico.

Descubro que minha implicância foi em vão. Tenho muitas perguntas e nenhuma resposta. O fato é que, da próxima vez que a Islândia cruzar o caminho do Handebol Brasileiro, tenho certeza de que é azar nosso e de que a derrota é certa. Incerto, inexpugnável, insuspeito, ainda, continuará sendo o motivo.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Musa

Marta ganhar o prêmio de melhor do mundo não é surpresa. Sentadas lado a lado no auditório em Zurique, as duas – Marta e Prinz – sabiam que o prêmio era da alagoana. A alemã, aliás, sabia disso há mais tempo.

Birgit Prinz descobriu, em 2007, que o troféu de 2010 iria para Marta. Não porque a brasileira defendesse o troféu de 2006, mas porque, naquele ano, a alemã vencera a Copa do Mundo e ainda viu Marta, na hora fatal, desperdiçar o pênalti que empataria o jogo. Ali, com um bicampeonato mundial no peito, Prinz percebeu que o título de melhor do mundo nunca mais iria para suas mãos.

É claro que, em 2007, Marta trocaria de bom grado o troféu de melhor jogadora pelo título que a alemã conquistou. Mas o danado é que a fisionomia incrédula de Prinz denunciava que ela aceitaria a troca como se lhe fizessem um favor, sem fazer maiores concessões.

Desde então, seja em dezembro, seja em janeiro, ano após ano, as duas chegam à Suíça sabendo qual vai ser a vencedora. Prinz, antes de premiação, já tem um olhar distante, abatido, como se tivesse burlado a surpresa do envelope lacrado e visse novamente o nome de Marta. A surpresa esse ano foi outra.

Prinz, sempre da maquiagem sóbria e óculos discretos, que lhe atribuem rumor culto à beleza, na premiação dessa tarde, foi ofuscada por Marta. Não pelo futebol de Marta, mas pela exuberância de Marta.

Longe do uniforme masculinizante dos gramados, Marta mostrou ter a mesma beleza do futebol que joga. Ela já era a melhor do mundo, a Pelé de saias, e, agora, é a musa da premiação da Fifa – acho que, essa, Prinz também sabe que perdeu.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Melhor que a encomenda

Ontem à noite, a Seleção Brasileira masculina de Handebol chegou a Oslo.

Hoje, menos de 24 horas depois do desembarque, com 26 horas de voo na mala, o Brasil vence a Noruega (32-31) pela primeira vez na história.

Foi uma revanche dos 39-21 do Mundial da Croácia, há dois anos? Não. Melhor acreditar que é um bom prenúncio para o confronto entre os dois times, dia 18, pelo Mundial da Suécia. Aí, sim, o jogo que vale.

Amanhã logo cedo, os brasileiros seguem para a Dinamarca, onde disputam um torneio contra os anfitriões, os suecos e os tunisianos.

Melhor começo nesse giro pelo mundo nórdico impossível.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Voa, Canarinho, voa

A Seleção Brasileira masculina de Handebol já está na Europa, se aclimatando para o Mundial da Suécia. Pelo twitter, o goleiro Gil Pires (@Gilhandebol) postou que “Depois de 26 horas de viagem chegamos a Oslo na Noruega! 1º vista da cidade é de tudo muito branco”, disse o ponta, sem esquecer a neve.

Ainda de acordo com o jogador o Brasil, antes de chegar à Suécia, no dia 13, véspera da estreia, jogará “amanhã, contra a Noruega. Depois, embarcamos para a Dinamarca, onde jogaremos um torneio com Dinamarca, Suécia e Tunísia”, completou o jogador pela rede social.

O Brasil está no Grupo B, junto com Áustria, Hungria, Islândia, Noruega e Japão. Os três primeiros colocados avançam à segunda fase, acumulando os resultados entre si, e enfrentam os três melhores do Grupo A – que tem França, Alemanha, Espanha, Egito, Tunísia e Bahrein.

Pensar numa classificação à próxima fase talvez seja sonho – ainda mais para uma seleção que nunca fez isso num mundial masculino. A chave é bem complicada e o mais provável, mesmo, é que o Brasil brigue com o Japão para não ficar na lanterna. Mas nunca fará mal lembrar que a saga vencedora do futebol brasileiro começou exatamente na Suécia, 53 anos atrás. E a estreia é contra a Áustria? Em 1958 também foi…

MUNDIAL MASCULINO DE HANDEBOL – SUÉCIA/2011
GRUPO A
França
Alemanha
Espanha
Egito
Tunísia
Bahrein

GRUPO B
Islândia
Noruega
Hungria
Áustria
Brasil
Japão

GRUPO C
Croácia
Dinamarca
Sérvia
Romênia
Argélia
Austrália

GRUPO D
Suécia
Coreia do Sul
Polônia
Eslováquia
Argentina
Chile

Jogos do Brasil
Dia 14 – Brasil x Áustria 16:30
Dia 15 – Brasil x Islândia 16:00
Dia 17 – Brasil x Hungria 12:00
Dia 18 – Brasil x Noruega 14:10
Dia 19 – Brasil x Japão 12:00
* Horário de Pernambuco

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Londres sem Diana?

O Basquete feminino dos EUA pode perder Diana Taurasi para as Olimpíadas de 2012. Atuando pelo Fenerbahçe desde o fim da temporada da WNBA (onde joga pelo Phoenix Mercury), Taurasi testou positivamente para a estimulante modafinil no dia 13 de novembro. O resultado positivo foi divulgado no dia 24 de dezembro e, hoje, o laboratório turco informou que a contraprova também foi positiva. A punição para a jogadora pode chegar a dois anos de suspensão.

O curioso da história é que a tcheca Horakova e a australiana Penny Taylor, companheiras de time de Taurasi na Turquia, se recusaram a fazer o teste nesse laboratório, depois da divulgação do resultado positivo do exame. Elas teriam ido fazer o anti-doping num laboratório em Colônia, na Alemanha.

Até agora, não houve pronunciamento oficial da federação turca, do Fenerbahçe ou da Wada (a agência mundial do controle anti-doping) sobre o assunto.

Diana Taurasi, 28, foi medalhista de ouro nos Jogos de Atenas/2004 e Pequim/2008, campeã mundial em 2010 e bronze em 2006. No Mundial da República Tcheca, a armadora foi a cestinha do time norte-americano, com média de 12 pontos por partida, e foi a segunda melhor assistente da equipe, atrás, apenas, de Sue Bird – 2,6 assistências por jogo.

Em 2003, no Mundial de Atletismo de Paris, a velocista norte-americana Kelli White perdeu as duas medalhas de ouro que conquistou nos 100 e 200m rasos por ter testado positivamente para modafinil, a mesma substância supostamente encontrada no exame de Taurasi. White foi banida por dois anos, em 2004, teve todos os resultados obtidos de 2000 até aquela data anulados e, em 2006, ela se retirou do esporte.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Esticar, melhorar, desobedecer

Este ano, faz duas décadas que a Fifa começou a promover a Copa do Mundo feminina de Futebol. Com efeito, faz 15 anos que a modalidade se tornou olímpica. Com duas datas significativas, é hora de avaliar a modalidade sob o ponto de vista do espetáculo.

De antemão, objetivamente, comparemos a altura das goleiras e dos goleiros e pensemos que a altura da meta não muda. Enquanto a alemã Angerer tem 1,74m, o espanhol Casillas, o melhor da última Copa do Mundo passada, tem 1,85m (e olhe que ele não é considerado alto para a posição). Mas Angerer tem dois motivos para não ficar triste com isso: primeiro, porque as norte-americanas Hope Solo e Briana Scurry têm apenas um centímetro a mais que ela, e Bárbara, titular do Brasil a partir do terceiro jogo da campanha de Pequim, tem 1,70m; segundo, porque, mesmo com essa estatura, ela não sofreu um único gol na campanha vitoriosa do mundial de 2007.

De qualquer forma, se é difícil encontrar jogadoras mais altas – já que estas acabam optando pelo Basquete, pelo Vôlei ou pelo Handebol –, a dispendiosa solução para melhorar o espetáculo seria diminuir a altura e a largura do gol, como o Vôlei faz com a altura da rede. Mas isso, convenhamos, não vai acontecer nunca (e vai haver quem lembre que a Fiba não diminui a altura do aro e da tabela para as basqueteiras).

Contudo, se é caro adaptar as balizas do mundo inteiro para as meninas, não seria exorbitante exigir da Fifa que escalasse árbitras, pelo menos, razoáveis nas competições vitais do esporte – Copa do Mundo e Olimpíadas. É impressionante como a arbitragem feminina não gosta de aplicar o cartão vermelho. Não fosse assim, num exemplo aleatório, Marta teria sido expulsa na semifinal de Pequim, contra a Alemanha.

Aliás, em toda a história olímpica do Futebol Feminino, só houve três jogadoras expulsas de campo, e todas em Atlanta/1996. Ou seja, a partir de Sydney/2000, nenhuma árbitra exibiu, sequer, um cartão vermelho. Fair Play?

Por fim, para melhorar a competitividade do jogo (subjetivamente falando), peço encarecidamente às jogadoras menos obediência tática. Finzinho de jogo, time perdendo por um a zero: é hora de pressão absoluta, de colocar zagueira alta jogando de centroavante, de atacar com as duas laterais e as cabeças-de-área? Não.

O gostoso de ver uma partida de futebol é que, do nada, aos 44 do segundo tempo, um gol no abafa destrói uma retranca bem feitinha, um bombão pra área desvia na cabeça de alguém e morre no fundo do gol. Mas isso raríssimas vezes pude ver no Futebol Feminino. Raras, mesmo – lembro, por assim dizer, a Suécia pressionando, brutalmente e sem sucesso, a Alemanha nos últimos minutos da final de 2003.

Nesses 15 anos de Olimpíadas e 20 de Copa do Mundo, dá para ver que a modalidade cresceu bastante, em número e qualidade de atletas e de clubes. E para que continue se expandindo e atraindo mais público, creio ser premente encontrar goleiras altas, investir na arbitragem (até, se for o caso, escalando árbitrOs de Copa do Mundo, para as partidas mais importantes) e, especialmente, desobedecer o treinador, colocando em campo mais coração do que mente – que, no fim, é a graça desse jogo que os bretões inventaram.

Gamova? Não. Mustafina

A eleição de Gamova como maior atleta da Rússia de 2010 tem muito mérito. Foi uma eleição popular promovida pelo canal de televisão Russia 2 e pelo portal digital Sportbox.ru.

A disputa se deu por etapas. Primeiro, mês a mês, o público escolhia um atleta finalista – fevereiro, por exemplo, Ivan Skobrev, prata e bronze na Patinação de Velocidade, nos Jogos Olímpicos de Vancouver. Em seguida, os 12 campeões mensais foram divididos em quatro chaves com três concorrentes. Os ganhadores avançavam às semifinais e, depois, à final, quando Gamova (novembro) venceu o goleiro do CSKA Igor Akinfeev (outubro) por 52,7% a 47,3%.

A vitória de Gamova reflete, primeiro, a importância que tem o Vôlei na Rússia, e, segundo, o quanto ela foi importante na conquista do título mundial. Nem é preciso lembrar que ela fez 35 pontos contra o Brasil, na decisão, sendo oito só no tie break. Qual seja, ela teve mérito. Mas houve quem merecesse mais.

Creio que o tempo mostrará que a atleta russa do ano foi a ginasta Aliya Mustafna. Em outubro (e olhe que ela perdeu a eleição mensal para Akinfeev), ela conquistou o título mundial por equipes e o individual geral.

Desde Svetlana Khorkina, em 2003, uma russa não era campeão do individual geral.

Além disso, a ginástica russa estava numa fase decadente. O último título mundial por equipes foi em 1991 (ainda como União Sovética). Nas Olimpíadas de Pequim, o time russo não foi ao pódio, pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos (exceto em 1984, pelo boicote). Aliás, em 2008, a equipe feminina da Rússia voltou para casa de mãos e pescoço vazios: não houve uma única russa no pódio – é claro que Nastia Liukin não conta, porque ela competiu pelos Estados Unidos.

E Mustafina conduziu a Rússia de volta ao topo da Ginástica.

Por tudo o que representam as conquistas de Aliya Mustafina, queiram ou não queiram os juízes, ela foi a atleta russa do ano passado.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Logo, logos

Devo ser um cara antiquado. Melhor: sou um cara antiquado.

Consultei duas comunidades do orkut, olhei alguns depoimentos no twitter. A imensa maioria dos internautas que se manifestaram sobre a logomarca dos Jogos Olímpicos de 2016 gostou do que viu. Um triplo abraço em 3D, valorizando as cores da Bandeira Nacional. A forma, além do um abraço, remete abstratamente ao Pão de Açúcar.

Essa junção de símbolo do Rio com signo da modernidade agradou quase em cheio na rede. Quase.

Olhando logomarcas de todos os outros Jogos Olímpicos, disponibilizado nesse link do globoesporte.com, dá para ver a “evolução” (não sei se o termo se aplica ao caso) dos desenhos ao longo do tempo – dos trabalhos artísticos dos primeiros Jogos, passando pela exaltação à tradição e chegando ao culto da logomarca em sentido absoluto.

È possível notar, por exemplo, que os Jogos de Saint Louis, em 1904, eram apenas um cartaz anunciando a Feira Mundial. É possível enxergar que a figura do atleta esteve presente até Amsterdã/1928 (exceto em Paris/1924) e só voltou, ainda que de maneira espectral, na logo de Pequim/2008.

Há menção a monumentos, como as Ruínas Gregas (Atenas/1896) e o Palácio de Westminster (Londres/1948), e a reprodução da Lupa Capitolina, estátua de bronze da idade média que retrata a loba amamentando Rômulo e Remo (Roma/1960).

Tem a simplicidade geométrica dos contornos na logo do da Cidade do México/1968 e na espiral de Munique/1972. Ou a simplicidade franciscana das logomarcas de Montreal/1976 e Moscou/1980 (a mais bela de todas, na minha visão caquética).

Tem a fixação ianque pelas próprias estrelas (Los Angeles/1984 e Atlanta/1996), a bandeira nipônica mostrando como se utilizar a cor branca (Tóquio/1964) e, até, um mapa nacional (Melbourne/1956).

Mas essa logomarca do Rio/2016 me deixou com uma sensação antiolímpica de vazio. Tenho a impressão de estar vendo nada.

Na melhor das hipóteses, posso pensar uma gravura dadaísta. Ou, na pior, achar que “faltou dinheiro para fazer o resto”. É claro que eu estou errado.