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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Que tenha sido trágica

Eu estou triste pela eliminação do Brasil e arretado porque o time levou um gol de contra-ataque faltando 15 segundos pra terminar o jogo. Mas não é sobre ontem que eu quero falar.

Quero falar que, mesmo sem título, as meninas fizeram uma campanha histórica, quase irretocável. E quero dizer que, mesmo sem título, eu vou sempre me lembrar com carinho da virada sobre a França. Mas ainda não é disso que eu quero falar.

Porque eu quero falar sobre 19 de dezembro, sobre o dia seguinte a esse mundial no Brasil.

Até esse campeonato, o handebol sempre teve fama de ser o esporte mais praticado nas escolas, mas nunca havia conseguido transformar essa prática em gosto verdadeiro pelo jogo. Porque, se houvesse uma relação de causa e consequência entre jogar na escolar e amar o handebol depois dela, a fila de emissoras pra transmitir os campeonatos nacionais e internacionais da modalidade dobraria o quarteirão. E o número de times da Liga Nacional não daria conta dos praticantes da bola na mão país afora.

Se esse time lutará por medalha em Londres ou no mundial da Sérvia, em 2013, é difícil prever (o fator casa, em mundiais de handebol, já levou a Tunísia a uma semifinal masculina, mas o esporte por lá jamais conquistou outro resultado relevante).

Mas, se o empenho e a qualidade que essas meninas demonstraram no Ibirapuera esses dias servirem para que o handebol ganhe novos adeptos, mais patrocinadores e anime alguém a estruturar a confederação brasileira (ou, até, impulsione alguém a concorrer com o atual presidente, que está lá há quase 20 anos), então, a missão delas foi cumprida. E o título perdido dramática e precocemente para Espanha, servirá de incentivo a uma nova obsessão nacional, uma obsessão boa e pertinente, como foi a de vencer a Copa do Mundo de Futebol, depois do Maracanaço de 1950.

Se isso acontecer, o handebol brasileiro pensará em títulos e os historiadores, cronistas, torcedores e ex-atletas jamais deixarão essa derrota de ontem dormir em paz – o que é bom.