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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Não é só por aqui


Deu no site do canadense Edmonton Journal: governadora da província de Alberta, Alison Redford (foto), torrou mais de meio milhão de dólares canadenses em Londres, durante os Jogos Olímpicos – pouco mais de um milhão de reais. Ela capitaneou o passeio para 29 pessoas, entre as quais ministros e artistas, com o intuito, segundo a própria governadora, de “atrair investimentos a longo prazo para Alberta”.

Mais do que o dinheiro gasto na viagem, o que chamou a atenção do periódico foi o montante desperdiçado pela intrépida trupe oficial. Com a desistência de quatro ministros convidados, quartos de hotel reservados à ordem de 113 mil dólares canadenses foram pagos pelos cofres públicos, pois não houve possibilidade de ressarcimento.

A história, pelo jeito, vai causa mais indignação por lá do que os 23 milhões de reais que o COB gastou na Casa Brasil.

De volta

Sem maiores desculpas, sem grandes justificativas ou longo tratado sobre por que não tenho atualizado o blog, voltei. Eu poderia dizer que, sim, estive nos Jogos de Londres e, de lá, mantive uma coluna diária na Gazeta do Estado (GO), mas não vou fazer isso. Também não vou contar como foi difícil mandar os textos de lá, já que o wi-fi não foi gentil comigo, tampouco vou levar a crer que foi por dificuldades de conexão que o blog ficou desatualizado durante esse período. Não, eu não vou fazer isso. Prefiro é seguir sem me explicar, como se eu houvesse passado a semana comentando sobre o caso estapafúrdio de espionagem e pirataria do Comitê Organizador dos Jogos do Rio/2016 ao dos Jogos londrinos, e dedicado o fim de semana a tratar do escândalo das apostas no handebol francês. Prefiro que o blog prossiga seu curso como se, desde o fim dos Jogos, eu estivesse falando dos mundiais do ano que vem (de esportes aquáticos, em Barcelona, de atletismo, em Moscou, de ginástica artística, na Antuérpia, de judô, no Brasil, de handebol masculino, na Espanha, e feminino, na Sérvia), e como as Paralimpíadas e os eventos sucessores, com vôlei de praia, natação e judô, já tivessem sido pisado e repisados por aqui. Esqueçamos os formalismos. Porque não faltam nem quatro anos para as próximas olimpíadas - menos de um ano e meio, na verdade, pois em 2014 tem as de inverno. O tempo urge, o jogo segue.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Disciplina maldita

A convocação das sete ginastas brasileiras que vão para a aclimatação em Londres (disputam cinco vagas nos Jogos) foi um tremendo tiro no pé. A exclusão aparentemente definitiva de Jade Barbosa das Olimpíadas é o pior desfecho possível para a tragédia de erros que foi o caso envolvendo a atleta contra a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). Todos erraram, mas nem todos os erros têm o mesmo peso.

Jade errou. Hesitou na hora de assinar o tal termo de compromisso para vestir a camisa da CBG, que tem patrocinador diferente do seu, e não se apresentou à seleção, ao contrário das outras colegas convocadas. Percebeu o erro. Demorou pra fazê-lo, é verdade, mas o fez. Implorou pra voltar e disse que aceita as condições da Confederação. Pronto. Isso deveria bastar.

A CBG erra. Primeiro, porque foi tão intransigente quanto a própria atleta no caso do termo não assinado. E erra, agora, porque, com o intuito de mostrar força e de dar um recado de intolerância contra a indisciplina, deixou em casa a melhor ginasta do time. Duvido, no fim das contas, que o patrocinador da Confederação queira o fardo de ter sido pivô involuntário da celeuma. E esse caso pode resultar desastroso para a equipe em Londres (o discurso hipócrita da CBG de que o Brasil já está entre os 12 melhores do mundo não vai convencer ninguém, quando o resultado mostrar que as meninas não foram além disso nos Jogos).

É preciso dizer que o Brasil por muito pouco não ficou sem equipe feminina na ginástica artística. A vaga veio com a repescagem, dependendo de uma nota razoável de Daniele Hypólito na trave, com drama, sem brilho. Sinal de uma modalidade que renovou muito pouco desde nos últimos quatro anos e que, indiscutivelmente, o país ficou para trás no cenário mundial da disputa. Abrir mão da única ginasta que teve alguma atuação decente pela seleção nesses últimos anos beira a burrice.

Nesse ciclo olímpico, na prova do salto, Jade conquistou medalha de bronze no Mundial de Roterdã/2010 e foi quarta colocada no de Tóquio, ano passado. Esses dois resultados foram as únicas participações de uma brasileira numa final por aparelhos, nos últimos três anos.

Além disso, ela coleciona um bronze no individual geral do Mundial de Stuttgart/2007 e foi décima colocada em Pequim, quando competiu gravemente contundida na mão e teve de ficar um ano afastada do esporte por isso. Foi, também a dona das melhores notas da seleção, na campanha olímpica de 2008, que deixou o Brasil em oitavo lugar.

Uma medalha para Jade não era provável, diga-se, mas ela era, sem dúvida, a melhor aposta da ginástica feminina brasileira. Poderia fazer, ao menos, um bom papel no salto e no individual geral.

Currículo, ela tem. Pedir desculpas, ela pediu. Mas isso não foi suficiente para que a CBG perdoasse a moça. O discurso de que o time é vencedor só por estar lá já começou a ganhar eco. E, pelo jeito, estará na bagagem da delegação, quando desembarcar ao Brasil.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Foi a folhinha

Ter vencido a seletiva norte-americana com o segundo melhor tempo do ano, ser o atual campeão olímpico e vice mundial da prova não foram apelo forte o suficiente para que Michael Phelps disputasse os 200m livre em Londres. O ianque, segundo seu treinador, preferiu se concentrar mais nas provas de revezamento.

É possível que o calendário olímpico da natação tenha feito o multimedalhista abdicar dessa disputa. As eliminatórias dos 200m livre estão marcadas para a sessão matutina do dia 29, com as semifinais para a noturna. Nestas mesmas sessões, o revezamento 4x100m livre dos EUA entra na piscina para defender o título suado 2008. A decisão dos 200 livre está marcada para a noite do dia 30, quando estão marcadas também as semifinais dos 200 borboleta (eliminatárias pela manhã).

Qual seja, em dois dias, se tudo der certo, o norte-americano terá nadado sete vezes, com perspeciva de, no dia seguinte, cair na piscina outras três - para as provas do 4x200 livre e para a final dos 200 borboleta. Claro que provavelmente ele seja poupado de uma ou outra prova de revezamento, mas vai ser, ainda assim, uma maratona desgastante.

Porque, no fim das contas, Michael Phelps vai disputar os 100 e 200 borboleta, os 200 e 400 medley e os revezamentos 4x100 livre e medley e 4x200 livre. E disputar sete medalhas nos Jogos Olímpicos, para quem completou 27 anos no sábado passado, é um desafio ao condicionamento físico, um acinte. Sete medalhas em Londres, sem importar a cor delas, se vierem, virão com mais sacrifício do que os oito ouros de Pequim, quando, inclusive, o calendário lhe foi mais simpático.

Olhos abertos


(foto: zimbio.com)

Ninguém duvidava que Usain Bolt se classificasse para defender, em Londres, os títulos dos 100 e 200m rasos. E suas marcas nas seletivas jamaicanas não foram nada desprezíveis - 9s86 e 19s83, respectivamente. Entretanto, o que deve estar tirando o sono do jamaicano é que esses tempos não foram suficientes para bater seu compatriota Yohan Blake.

É claro que o importante numa seletiva olímpica é a vaga. Mas é pouco achar que Bolt estava correndo em Kingston só pensando no carimbo no passaporte, e não, no resultado em si. Ele sabe - Blake também - que esse duelo caseiro era uma importante batalha de uma guerra psicológica que deve eclodir em Londres. E Blake, essa batalha, venceu.

Admito que o título mundial nos 100m rasos não foi o que mais me espantou em Blake - e acho que nem a Bolt. Porque muito mais se creditou sua vitória ao erro do adversário, que queimou a largada, do que à velocidade do campeão. Só fui perceber que o homem era rápido de verdade, quando venceu os 200m rasos no meeting de Bruxelas, com um tempo muito próximo do recorde do compatriota (até fiz uma crônica sobre o caso).

Se eu já pensava que Blake poderia vencer os 200m rasos em Londres, começo a acreditar que isso seja possível, também, nos 100. E acho que agora até o Homem-Raio, embora ainda favorito, também acredita nisso.

domingo, 1 de julho de 2012

As últimas



Com a vitória do Canadá agora há pouco sobre o Japão, estão definidas as seleções do femininas de basquete em Londres. As canadenses ficaram com a quinta e última vaga do pré-olímpico. A superstição recomenda champagne: as duas últimas participações canadenses em Jogos Olímpicos coincidiram com as duas únicas medalhas do basquete feminino do Brasil.

O Canadá se junta a Croácia, Turquia, França e Rep. Tcheca, que haviam conquistado a vaga anteontem, a Brasil, Angola, Austrália, Rússia e China, campeões dos pré-olímpicos continentais, EUA, campeão mundial, e Grã Bretanha, país-sede.

Entre as doze seleções estão todas as medalhistas das quatro últimas olimpíadas (EUA, Austrália, Rússia e Brasil) Em relação às Olimpíadas de Pequim, são seis novas seleções: saem Mali, Nova Zelândia, Letônia, Bielorrússia, Espanha e Coreia do Sul, entram França, Canadá, Angola, Turquia, Croácia e Grã Bretanha. Essas quatro últimas seleções, aliás, estreantes na modalidade.

Ficam, também, definidas as duas chaves olímpicas. O Brasil estreia contra a França. A tabela brasileira está aqui.

Grupo A
EUA
Rep. Tcheca
China
Angola
Croácia
Turquia

Grupo B
Austrália
Rússia
Brasil
França
Canadá
Grã Bretanha

Sem parâmetro

A edição do Grand Prix de vôlei deste ano foi das mais fracas. Difícil fazer prognóstico para Londres tendo o resultado da competição como base. Uma pena, porque mostra que a competição anual, com ausências e times mistos, tem perdido importância.

O título conquistado pelos EUA até pode ser considerado como demonstração de força. É o terceiro consecutivo das ianques, igualando a marca brasileira entre 2004 e 2006, foi um campeonato invicto, foi uma campanha que começou com o time titular e terminou com o reserva sendo campeão. Ouro certo em Londres? Isso já não dá pra dizer.

Porque se é verdade que as meninas de Hugh McCutcheon bateram adversárias da primeira fase olímpica - Brasil, China, Turquia e Sérvia -, por outro lado, não jogaram contra o time principal da Itália nem contra a Rússia, que não dá muita bola mesmo ao Grand Prix.

No fundo, o torneio deste ano só serviu, mesmo, para mostrar que dois times sempre candidatos a medalha estão ainda longe dela. Com um elenco bem jovem, a China parece mais um time para 2016 do que para 2012. E o Brasil, que parece ter definido apenas parcialmente o plantel para Londres, encontrou dificuldades nas primeiras rodadas contras times medianos e, o cúmulo, perdeu para o time reserva dos EUA nas finais.

O Grand Prix deixa como certeza o poderio do elenco norte-americano. E só.

sábado, 30 de junho de 2012

Do bronze e do nada ao penta sem África



Dez anos atrás, a Família Scolari conquistou, na Ásia, o improvável quinto título brasileiro numa Copa do Mundo de futebol. Um time que tinha oito remanescentes de dois dos mais retumbantes fracassos da longa história do Futebol Brasileiro.

Campeões mundiais em 2002, os titulares Roberto Carlos, Rivaldo e Ronaldo e os reservas Dida, Luizão e Juninho Paulista estavam no time medalhista de bronze em Atlanta/1996. Os outros dois ex-olímpicos foram os também titulares Ronaldinho Gaúcho e Lúcio, que estavam no grupo que naufragou em Sydney/2000.

Em 1996, depois de uma campanha titubeante na primeira fase, quando até perdeu para o Japão, o Brasil chegou às semifinais e foi eliminado num jogo dramático e inesqucível contra a Nigéria de Kanu. A Seleção Canarinho ainda conquistou o bronze, dois dias depois, goleando Portugal, mas aumentou o vexame das semis, se recusando a esperar pelo pódio no dia seguinte - as medalhas foram entregues logo depois do jogo, sem muita cerimônia, sem qualquer brilho, como fora, aliás, o futebol do time naqueles Jogos.

Quatro anos mais tarde, num time sem qualquer jogador acima dos 23 anos, a Seleção fraquejou, novamente, diante do futebol africano e não conseguiu avançar para a final. Nem para as semifinais, aliás. Derrotado pela África do Sul na primeira fase, o time enfrentou Camarões nas quartas e conseguiu a proeza de ser eliminado com um gol de ouro, quando tinha dois jogadores a mais em campo.

Curiosamente, a Copa de 2002 foi a única entre 1994 e 2010 que o Brasil não jogou contra nenhum time africano. Quase enfrentou Senegal nas semis, mas os turcos se encarregaram de tirar os senegaleses da Copa. Deve ter sido melhor assim. Porque seria injusto um futebol em que Rivaldo e Ronaldo jamais fossem protagonistas de um título mundial.

(foto: FIFA.com)

Resta um

O pré-olímpico feminino de basquete da Turquia se revelou generoso com as seleções europeias. Das cinco vagas em jogo, quatro foram definidas ontem, nos confrontos das quartas de final, e se viram arrebatadas pelos quatro times do Velho Continente. Assim, Croácia, que nem havia participado do último mundial, Rep. Tcheca, atual vice-campeã do mundo, França e Turquia vão a Londres.

(Comentário necessário: assim como no pré-olímpico de boxe masculino e de vôlei feminino, a Turquia se aproveitou do fator casa.)

Agora, Argentina, Canadá, Coreia do Sul e Japão disputam a vaga restante. Pela campanha que fez no campeonato mundial de dois anos atrás, quando terminou entre as oito primeiras do torneio, dá pra pensar que as sul-coreanas sejam favoritas ao lugar que restou no avião olimpico.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Classificação calculada

Acabou o suspense: o Brasil está na fase final da Liga Mundial de Vôlei. A França era a última ameaça ao posto brasileiro de melhor segundo colocado, e não podia perder ponto algum nos confrontos deste fim de semana. Porém, agora há pouco, em Dallas, os franceses venceram os italianos por 3 sets a 2 e perderam um ponto precioso. Com isso, o Brasil se junta a Polônia, Alemanha, Bulgária e Cuba na fase decisiva da competição. França e EUA ainda disputam a outra vaga, com direito a um confronto direto amanhã à noite, também na terra do Tio Sam.

O vôlei do Brasil não foi dos melhores nessa fase inicial da Liga, houve três derrotas para a Polônia (e uma para o Canadá), mas os pontos conquistados sobre a Finlândia e o próprio Canadá mantiveram a equipe na luta pelo decacampeonato.

A fase final será disputada a partir da próxima quarta-feira, em Sófia, na Bulgária.

Sem goleira-artilheira



Saiu agora há pouco a convocação da Seleção Brasileira feminina de handebol para os Jogos Olímpicos de Londres. Das 14 convocadas, apenas a goleira Mayssa Pessoa não esteve no elenco nacional que disputou o Mundial do ano passado, em São Paulo. Sobrou, assim, para a goleira reserva Babi, que, em São Paulo, havia até começado algumas partidas em lugar de Chana Masson, a titular da meta brasileira.

Babi ganhou notoriedade no esporte nacional quando fez o gol da vitória do time misto da Seleção sobre a Tunísia, na última rodada da primeira fase. Curiosamente, a goleira repetiu o lance no jogo seguinte, contra a Costa do Marfim, mas o árbitro não validou o gol, alegando que o jogo já havia encerrado. É possível que o técnico da seleção, o dinamarquês Morten Soubak, tenha optado pela experiência de Mayssa, que tem 28 anos de idade, contra 24 de Babi.

Seleção Brasileira feminina de Handebol - Convocadas

Goleiras - Chana, Mayssa
Armadoras-Centrais - Ana Paula, Mayara
Armadoras-Esquerda - Duda Amorim, Silvia Helena
Armadoras-Direita - Deonise, Francine
Ponteiras-Esquerda - Fernanda, Samira
Ponteiras-Direita - Alexndra, Jéssica

Foto: handballbrazil2011.com

sábado, 23 de junho de 2012

Idade olímpica

Além do dia da noite da fogueira de São João, a folha indica que 23 de junho é o Dia Olímpico. Nesta data, em 1894, o Barão de Coubertin fundou o Comitê Olímpico Internacional e revigorou (ressuscitou, na verdade) a tradição dos Jogos pagãos da Grécia Antiga. Daquele 23 de junho em diante, a chama do ideal olímpico jamais se apartaria da humanidade, embora alguma vez ou outra o terror e a guerra tenham intentado apagá-la.

Por isso, hoje, 23 de junho, a 34 dias da Abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, é dia para homenagear quatro atletas para quem o fogo sagrado de Olímpia ainda flameja elevado, sem se acomodar com os troféus e medalhas na estante nem se conformar com a passagem indescutível do tempo.


Quando começou a competir, a ginasta Oksana Chusovitina defendia a União Soviética. Em 1990, nos Jogos de Amizade (alguém aí se lembra dos Goodwill Games?), ela conquistou a medalha de ouro na prova do salto (quando ainda era "sobre o cavalo"). No ano seguinte, em Indianápolis, ela se tornou campeã mundial no solo e por equipes. Aí, a URSS acabou, as 15 repúblicas foram cada uma para um lado e, só para competir nos Jogos de Barcelona/92, 12 delas se reuniram sob o pavilhão olímpico e com a alcunha de Comunidade dos Estados Independentes (CEI).

Foi com a equipe da CEI que Chusovitina se tornou campeã olímpica. Nas três olimpíadas seguintes, ela representou seu país natal, o Uzbequistão, e não conquistou medalha alguma. Daí, ela se naturalizou alemã e, em Pequim, com 33 anos de idade, foi prata na prova do salto. Um feito grandioso para quem ainda só competia para pagar o tratamento médico do filho.

O menino, felizmente, já está curado da leucemia, mas a mãe ainda compete. E, no próximo fim de semana, ela vai disputar uma vaga na equipe alemã que vai para Londres. Num esporte em que juventude é fundamental, em que há uma idade mínima limite para disputa de campeonatos internacionais (16 anos), Oksana Chusovitina, aos 37, desdenha da ditadura do tempo e ainda é temida pelas rivais.

Ela não é a única que impõe medo, que quer ir a Londres e que não liga muito para idade.


Intitular sua história como "O Estranho Caso de Dara Torres" não seria ofensa à nadadora norte-americana, nem qualquer insinuação sobre doping, nada disso. Seria, apenas, reconhecer o espantoso rendimento que essa mulher tem nas piscinas, mesmo depois dos 40. Ou melhor, principalmente depois dos 40.

Dara conquistou uma medalha de ouro nos Jogos de Los Angeles, com 17 anos, no revezamento 4x100m livre, sem participar de nenhuma prova individual. Quatro anos mais tarde, em Seul, ela voltou para casa com duas outras medalhas, uma prata e um bronze, ambas em revezamentos. Na prova individual de que participou, os 100m livre, teve de se contentar com o sétimo lugar. Em Barcelona/92, já com 25 anos (idade com que Ian Thorpe, por exemplo, já havia anunciado aposentadoria), ela ajudou o revezamento dos EUA a ficar com o ouro no 4x100m livre. E houve um hiato.

Se não competiu em Atlanta/96, Dara Torres voltou à cena em Sydney/2000 e saiu da piscina com cinco medalhas - dois ouros em revezamentos e três bronzes em provas individuais - 50 e 100m livre e 100m borboleta. Ela era a nadadora mais velha da equipe norte-americana e foi a maior medalhista do time. E houve outro hiato.

Se estava velha para ir a Atenas, com 37 anos, estava em plena forma para nadar em Pequim, com 41. Se não conquistou medalhas de ouro - pois os revezamentos 4x100m livre e medley dos EUA ficaram com a prata -, por outro lado, voltou para casa com o melhor resultado individual de sua carreira olímpica. Superada em 0s01, Dara Torres foi segunda colocada na prova mais rápida da natação. E é nos 50m livre que ela, com 45, disputa no próximo dia primeiro a seletiva olímpica nacional.

Outra que, embora sem sucesso, tentou competir em Londres este ano foi a ciclista francesa Jennifer Longo. Ela pleiteava uma vaga no time nacional da prova de estrada do contra-relógio, mas o quinto lugar no campeonato francês frustrou sua expectativa, e ela não foi convocada para o selecionado olímpico. Teria sido sua oitava olimpíada consecutiva.

A francesa participou de todos os Jogos entre Los Angeles/84 e Pequim/2008. Em 1984 e 1988, a longa prova de estrada não trouxe medalha para Longo. A prata que conquistou em Barcelona/92, na mesma modalidade, não foi bem recebida por ela.

Por isso, quando Jeannie Longo venceu em Atlanta/1996, com 37 anos, depois de pedalar por mais de 100 Km e cruzar a linha de chegada 25s à frente da vice-campeã, diferença absurda no ciclismo, era de se imaginar que ali ela se aposentasse. Mas, não. Em Sydney/2000, ela foi medalhista de bronze no contra-relógio, foi décima colocada na disputa de estrada em Atenas/2004 e, incrívelmente, quarta em Pequim/2008 no contra-relógio.

Se a história de Jennifer Longo-Ciprelli não tivesse um exame positivo de doping em 1987 e uma suspeita recente de uso de EPO, sua carreira esportiva seria, sem dúvida, das mais bonitas. Ainda mais por ter tentado participar dos Jogos de Londres com quase 54 anos de idade.


Também cinquentona em atividade, e que também já teve problemas com um exame antidoping, é a velocista Merlene Ottey. Jamaicana naturalizada eslovena, Ottey vai disputar o campeonato europeu de atletismo na próxima semana, para tentar classificar o revezamento de sua nação adotiva para Londres. Se conseguir, será um feito quase tão extraordinário quanto as medalhas que já conquistou.

Em duas olimpíadas estigmatizadas por boicotes, Ottey saiu das pistas com três bronzes - dois nos 200m rasos em Moscou e Los Angeles, e um nos 100m, em 1984. Seul/1988 não rendeu pódio à jamaicana, mas, em Barcelona, a corrida de 200m rasos teve Ottey na terceira posição outra vez. Em Atlanta/1996, outro bronze (dessa vez, no 4x100m), mas com duas pratas em provas individuais - nos 100 e 200m rasos.

A medalha que lhe faltou nas Olimpíadas, ela só pôde conquistar em campeonatos mundiais. Foi campeã com o revezamento jamaicano do 4x100m em 1991 e foi bicampeã nos 200 em 1993 e 1995. Uma carreira irretocável, diga-se, não fosse uma polêmica em 1999.

Primeiro, foi anunciado que seu exame antidoping dera positivo, mesmo resultado da contra-prova. Ela foi suspensa, não participou do mundial de Sevilla. Entretanto, em 2000, às vésperas dos Jogos de Sydney, ela foi julgada e absolvida. Competiu nas Olimpíadas, tomando, inclusive, o lugar de uma companheira de time que obtivera resultados melhores que os seus na seletiva nacional, e ajudou o time jamaicano a ficar com a medalha de prata no 4x100m. Herdou, ainda, graças à eliminação de Marion Jones, por doping, um lugar no pódio dos 100m rasos - novamente, o terceiro posto. Mas já tinha 40 anos de idade e o ouro ausente nem fez muita falta.

Em Atenas/2004, ela já havia se naturalizado eslovena, mas não trouxe medalhas para sua casa nova, nem nos 100, nem nos 200m rasos. Agora, com 52 anos de idade, Merlene Ottey quer voltar ao cenário olímpico, tentando empurrar o improvável revezamento da Eslovênia.

Se Oksana Chusovitina, Dara Torres e Marlene Ottey estarão em Londres ou não, pouca importa. Elas - assim como Jennifer Longo, que já sabe que não vai - são prova de que medalhas não são o todo do esporte competitivo. Desafiar todo o tempo o próprio tempo é a competição mais dura. Competição que o movimento olímpico disputa há 118 anos, graças ao Barão de Coubertin, que não via razão para os antigos Jogos Olímpicos ficassem esquecidos por mais tempo.

(fotos: ffgym.com; facebook.com)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Pontualidade britânica




Com a divulgação dos grupos e tabelas do vôlei e do handebol, o torcedor brasileiro já pode se programar para acompanhar a Seleção Canarinho pela TV, nos Jogos de Londres. Pelo menos, na primeira fase de cada um dos esportes coletivos.

A participação tupiniquim nas Olimpíadas começa dois dias antes da Cerimônia de Abertura, com o futebol. No dia 25, fazendo o jogo de fundo de uma rodada dupla, em Cardiff, o time de Marta entra em campo contra Camarões. No dia seguinte, no mesmo estádio, será a vez do sub-23 masculino estrear contra outro time africano - o Egito.

No dia 28, o primeiro de competições pós-Abertura, a TV Record, que transmite os Jogos Olímpicos com exclusividade na TV aberta, terá de escolher entre mostrar, às 10h30 (horário de Recife e Brasília), o time feminino de futebol do Brasil enfrentando a Nova Zelândia ou o de handebol estreando contra a Croácia. Esse problema não existe para as TV por assinatura (ESPN Brasil e SporTV), já que devem exibir os jogos em mais de um canal - o BandSports não disse, ainda, se vai disponibilizar mais de um canal de transmissão para seus assinantes.

Essa coincidência de horários em partidas das seleções brasileiras ocorre ainda algumas vezes nesses primeiros dias de Olimpíadas. No dia 30, por exemplo, enquanto Brasil e Rússia se enfrentam no basquete feminino, Brasil e EUA entram em quadra pelo vôlei feminino.

Em relação aos horários, o mais cedo que um time brasileiro entrará em campo ou em quadra será em 3 de agosto, com Brasil x China pelo vôlei feminino. No mais, todas as partidas envolvendo um selecionado verde-amarelo não vai ocorrer antes das 7h15 da manhã - bom, especialmente, para as TVs.

Outro fato a ser observado é que o vôlei masculino do Brasil, embora cambaleante nas duas últimas temporadas, foi bastante privilegiado na confecção da tabela. Todas as partidas do sexteto nacional serão em horário nobre em Londres, na sessão noturna (no caso do vôlei, a partir das 20h, horário local, 16h, horário de Recife e Brasília). E mais: quatro dos cinco jogos da primeira fase são dos que encerram o dia de competições, estão marcados, a princípio, para as 22h no relógio britânico.

Para que se tenha ideia do que isso significa, o time masculino de basquete dos EUA jogou todas suas partidas de primeira fase em Pequim/2008 na sessão da noite. Além do quê, a previsão é de que, às 22h, as competições diárias de atletismo, ginástica e natação (três modalidades de grande audiência global nos Jogos) já tenham encerrado, restando poucas opções TV ao espectador olímpico.

Veja a tabela de partidas do Brasil na primeira fase dos esportes coletivos. Os horários são de Recife e Brasília, quatro horas a menos que o fuso horário inglês no período.

25/7
14h45 - Futebol fem. - Brasil x Camarões

26/7
15h45 - Futebol masc. - Brasil x Egito

28/7
10h30 - Futebol fem. - Brasil x Nova Zelândia
10h30 - Handebol fem. - Brasil x Croácia
16h00 - Basquete fem. - Brasil x França
18h00 - Vôlei fem. - Brasil x Turquia

29/7
07h15 - Basquete masc. - Brasil x Austrália
11h00 - Futebol masc. - Brasil x Bielorrússia
18h00 - Vôlei masc. - Brasil x Tunísia

30/7
12h45 - Vôlei fem. - Brasil x EUA
12h45 - Basquete fem. - Brasil x Rússia
15h30 - Handebol fem. - Brasil x Montenegro

31/7
12h45 - Basquete masc. - Brasil x Grã Bretanha
15h45 - Futebol fem. - Brasil x Grã Bretanha
18h00 - Vôlei masc. - Brasil x Rússia

1º/8
10h30 - Futebol masc. - Brasil x Nova Zelândia
10h30 - Basquete fem. - Brasil x Austrália
12h15 - Handebol fem. - Brasil x Grã Bretanha
18h00 - Vôlei fem. - Brasil x Coreia do Sul

02/8
12h45 - Basquete masc. - Brasil x 3º Pré-Olímpico Mundial
16h00 - Vôlei masc. - Brasil x EUA

03/8
05h30 - Vôlei fem. - Brasil x China
10h30 - Basquete fem. - Brasil x Canadá
12h15 - Handebol fem. - Brasil x Rússia

04/8
12h45 - Basquete masc. - Brasil x China
18h00 - Vôlei masc. - Brasil x Sérvia

05/8
07h15 - Handebol fem. - Brasil x Angola
18h00 - Vôlei fem. - Brasil x Sérvia
18h15 - Basquete fem. - Brasil x Grã Bretanha

06/8
16h00 - Basquete masc. - Brasil x Espanha
18h00 - Vôlei masc. - Brasil x Alemanha

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Últimos times

A partir da próxima segunda-feira, o basquete começa a definir as últimas equipes classificadas para os Jogos Olímpicos. As últimas, mesmo. Porque todos os outros esportes coletivos já definiram seus representantes.

Semana que vem, em Ankara, na Turquia, 12 seleções definem as cinco últimas vagas para o basquete feminino. Na semana seguinte, em Caracas, Venezuela, 12 brigarão pelas três vagas restantes no masculino.

Em ambos os pré-olímpicos, o mesmo sistema de disputas: na primeira fase serão quatro grupos com três times, passando os dois melhores aos mata-matas. No feminino, quem vencer o primeiro jogo play-off estará classificado automaticamente para Londres, restando, aos quatro perdedores, lutar por uma vaga. No masculino, os vencedores do primeiro play-off irão às semifinais, onde, aí, sim, os dois ganhadores se classificarão para Londres, ao que os perdedores se baterão pelo terceiro posto.


Basquete Feminino - Ankara, Turquia - 25/6 a 1º/7

Grupo A - Turquia, Japão, Porto Rico
Grupo B - Rep. Tcheca, Nova Zelândia, Argentina
Grupo C - Croácia, Coreia do Sul, Moçambique
Grupo D - França, Mali, Canadá

Basquete Masculino - Caracas, Venezuela - 02/7 a 08/7

Grupo A - Grécia, Porto Rico, Jordânia
Grupo B - Venezuela, Lituânia, Nigéria
Grupo C - Coreia do Sul, Rússia e Rep. Dominicana
Grupo D - Macedônia, Angola, Nova Zelândia

terça-feira, 19 de junho de 2012

Bandeira do tênis

Primeiro, Novak Djokovic foi escolhido para carregar o pavilhão da Sérvia na Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Londres/2012. Agora, Maria Sharapova foi apontada como a porta-bandeira da Rússia no desfile. Existe, na Espanha, uma campanha muito forte - entre os próprios atletas, diga-se - para que Rafael Nadal entre no Estádio Olímpico, dia 27 de julho, carregando o pendão nacional. E ainda é possível que Roger Federer também conduza a bandeira suíça - o que só não deve ocorrer por ele já ter recebido essa homenagem em Pequim/2008.

O tênis, que será disputado na grama sagrada de Wimbledon, está em alta ou não está, nos Jogos de Londres?

Em contrapartida, o Brasil depende de convite para inscrever alguém na modalidade. E o trunfo do país, obviamente, não são os títulos do postulante principal da vaga, Thomaz Bellucci, mas o simples fato de o Brasil sediar a próxima olimpíada. Pouco para quem já teve uma bicampeã de Wimbledon e um tricampeão em Roland Garros.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Amador




Teófilo Stevenson Laurence (1952-2012)

domingo, 10 de junho de 2012

Naide, triste fado

Naide Gomes está fora dos Jogos Olímpicos de Londres. Ontem, a saltadora portuguesa em distância rompeu o tendão de aquiles quando competia em Lisboa e será operada amanhã. Uma pena. Ainda mais porque, muito possivelmente, era a última chance olímpica da moça.

Nascida em São Tomé e Príncipe, Naide só defendeu a bandeira de origem nas Olimpíadas de Sydney/2000, quando foi última colocada numa bateria eliminatória para os 100m c/ barreira. Em 2001, ela se naturalizou e passou a defender a Pátria de Camões.

Em Atenas/2004, competindo no Heptatlo, Naide ficou com o 13º lugar. No mundial de Hensinque, em 2005, com o sétimo lugar. Contudo, o ciclo olímpico para Pequim não seria das sete provas, mas, apenas, do salto em distância.

Depois do bronze no mundial indoor de Moscou/2006, a neolusitana se agigantou na caixa de areia. Em 2008, começou o ano se tornando campeã mundial indoor, em Valência. E às vésperas dos Jogos Olímpicos, saltou 7,12m. Era favorita ao ouro que Maurren levou. Sorte da brasileira é que Naide saltou pessimamente nas eliminatórias e, sequer, teve o gostinho de disputar a final olímpica.

A final poderia ter vindo em Londres, já que, nos dois últimos mundiais outdoor - Berlim/2009 e Daegu/2011 -, mesmo sem medalha, ela esteve entre as melhores. Talvez não estivesse mais entre as favoritas, mas seria, decerto, candidata. Boa candidata.

Não dá pra dizer que o sonho da medalha de Naide Gomes ficou adiado para o Rio, em 2016. Porque aí ela terá 36 anos. E o tempo, curto para recuperação para Londres, é cruel para quem busca a primeira medalha no salto em distância.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Crash! Bolt sem limite

Ninguém dirá que o jamaicano Usain Bolt não é favorito ao bi-olímpico nos 100m rasos. A impressão cada vez mais clara é de que o homem-raio só perde o ouro se lhe acontecer um acidente antes da largada, como o que lhe tirou o título mundial em Daegu, ano passado, quando foi mais rápido que o tiro de partida.

Porque, se o acidente acontecer depois da linha de chegada, tudo bem. Pelo menos, pra ele.

Na etapa de Oslo, nessa quinta-feira, Bolt bateu os adversários com o tempo de 9s79. Suas marcas são tão expressivas que fazem uma dessas quase parecer irrelevante. E foi a mesma marca, diga-se, que deu o falso ouro ao tolo Ben Johnson em Seul/1988. Isso porque Usain Bolt venceu em Pequim/2008 com 9s69, foi campeão do mundo em Berlim/2009 com 9s58 e, em 2012, já correu a distância em 9s76. Por isso, 9s79, que é extraordinário, nem parece.

Ainda mais porque a cena do dia aconteceu depois dos 9s79, uns cinco segundos depois do fim da prova, na verdade. A loirinha que entregava o ramalhete aos vencedores foi mais rápida (!) do que Bolt, queria lhe entregar o prêmio imediatamente. O jamaicano parecia distraído com seu compatriota Asafa Powell e aí...

domingo, 3 de junho de 2012

Youtube olímpico IX

Dores num joelho operado há dois anos encerraram uma das carreiras mais brilhantes deste século na ginástica artística. A uma semana do pré-olímpico nacional, a norte-americana Shawn Johnson anunciou, neste domingo, que não tentará vaga no time para Londres, porque está definitivamente aposentada.

Johnson havia se afastado da ginástica logo depois das Olimpíadas de Pequim. Em janeiro de 2010, quando sofreu um acidente enquanto esquiava e feriu gravemente o joelho, disse que entendia, com a contusão, que não conseguiria viver sem o esporte. Voltou a competir, ganhou uma medalha de ouro por equipes no Pan de Guadalajara/2011, mas nunca voltou a ser a atleta que fora até 2008.

No mundial de Stuttgart/2007, então com 15 anos de idade, foi (entre homens e mulheres) a atleta mais premiada da competição, conquistando três medalhas de ouro, sendo uma com a equipe dos EUA, uma no solo e, a mais consagradora, uma no individual geral.

A vida da moça (e da equipe norte-americana) não foi nada fácil, contudo, nos Jogos Olímpicos do ano seguinte. Primeiro, as chinesas não deram chance a ninguém na competição por equipes e deixou os EUA com a prata. Depois, no individual geral, Shawn Johnson encontrou, no próprio time, uma adversária à altura. A russa naturalizada norte-americana Nastia Liukin só permitiu à compatriota o prêmio de prata. E do solo colheu outro segundo lugar, superada que foi pela romena Sandra Izbasa. Os três títulos mundiais do ano véspera se transformaram em três pratas olímpicas. Bom, sem dúvida, embora um tanto frustrante.

Faltava, ainda, a trave, no último dia de disputas da ginástica. A trave e... um trauma?

Em Stuttgart, as medalhas de ouro no pescoço foram um peso insuportável para Johnson, que, na final da trave, caiu do aparelho duas vezes e terminou na oitava posição entre as oito finalistas.

Trauma? Que nada.

Johnson aumentou, nas olimpíadas, a dificuldade de sua série em relação ao mundial e bateu Liukin justamente por causa da escolha dos exercícios: se na nota de execução Liukin fez 9,425 contra 9,225 de Johnson, a nota de dificuldade Johnson foi 7,000 contra 6,600 da compatriota. O resultado da soma lhe deu medalha de ouro. A única da carreira olímpica de Shawn Johnson.

sábado, 2 de junho de 2012

Na casa dos caras

Comprovando a boa forma, o chinês Liu Xiang venceu os 110m c/ barreiras, no meeting atletismo de Eugene (EUA), o Prefontaine Classic, válido como etapa da Diamond League. Seu tempo de 12,87s igualou a melhor marca mundial do cubano Dayron Robles, mas não conta para homologação do recorde por causa do vento, que tinha velocidade superior de 2,4m/s no instante da prova.

Mesmo sem o recorde homologado, foi uma grande vitória de Xiang sobre Arries Merrit, segundo, com 12,97s, Jason Richardson, campeão mundial ano passado, e David Oliver, melhor corredor da prova neste ciclo olímpico. A vitória em território ianque, contra os melhores ianques dessa competição, atesta, assim como a conquista em Xangai, há algumas semanas, que Xiang é forte candidato ao ouro em Londres. Hoje, talvez, o mais forte de todos.

Primeira lista

A União Internacional de Pentatlo Moderno (UIPM) anunciou ontem o nome de 72 pentatletas aptos aos Jogos Olímpicos de Londres - 36 homens, 36 mulheres. Yane Marques, como se sabia, é a única brasileira. Ainda não são, contudo, os 72 classificados pros Jogos.

Cada país só pode mandar dois atletas por gênero. Assim, Alemanha, Itália, Rússia, Grã Bretanha, Coreia do Sul, China e Hungria terão de optar, até o dia 15 deste mês, por apenas dois de seus qualificados. No feminino, a Grã Bretanha, com cinco selecionáveis, é quem terá de cortar mais da própria carne, ao que Rússia e Itália, no masculino, com quatro, são os que deixarão em casa mais gente apta. A Rússia, aliás, também terá de escolher por duas entre quatro participantes do feminino, e é, portanto, o país que qualificou mais pentatletas e o único que formaria uma seleção olímpica B.

Graças a essa cota, ainda há sete vagas no masculino indefinidas e nove entre as mulheres. A lista definitiva dos 72 vai ser divulgada no próximo dia 16.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Se deu mal


(foto: eurohandball.com)


O treinador da Seleção Russa feminina de handebol, Yevgeny Trefilov, é conhecido pelo mau humor truculento com que comanda as meninas em quadra, independentemente do placar do jogo. No mundial do Brasil, em dezembro, chegava a discutir com jornalistas durante as entrevistas coletivas. Diante das câmeras, ele parece sempre ranzinza, bravo... bom, pra quem acompanha minimamente o handebol internacional, dispensa-se apresentá-lo.

Encontrei, por acaso, um vídeo recente de Trefilov. Quem o vê com tanta aspereza nos jogos da Rússia pode imaginar que ele seja temido (não me refiro ao lado esportivo) pessoalmente; pode acreditar que ele seja um cara que imponha medo pelo porte físico e pelo jeito pouco sutil de reclamar com suas atletas. Mas vê-se aqui que não é. Pelo menos, seu colega Alexei Gumyanov não tem medo dele.

Fim de jogo, o Lada, de Trefilov, venceu o Kuban por 35-26. Enquanto as jogadoras se cumprimentam monotonamente em quadra, Gumyanov, derrotado, reclama na mesa de arbitragem e o técnico oponente espera para cumprimentá-lo também. Aparentemente, Gumyanov se recusa a apertar a mão do vencedor, que, dizem, lhe disse algo desagradável - nem quero imaginar o sentido que tenha "desagradável" numa discussão com Trefilov. Aí, Gumyanov, que é bem menor do que o outro, tomou uma atitude extrema, um atentado, diga-se, ao espírito esportivo. Dê uma olhada:



A partida foi disputada no dia 10 deste mês. Yevgeny Trefilov quebrou o nariz e foi suspenso por três jogos da Liga Russa de Handebol. Alexei Gumyanov pegou cinco jogos de gancho. A justificativa da punição para ambos, segundo o ex-goleiro russo Andrey Lavrov, é simples. "Handebol não é hóquei", sentenciou o agora dirigente esportivo. Nem boxe, complete-se.

É isso mesmo?

No domingo logo cedo, com a lista dos doze classificados na mão, o blog de Bruno Voloch cravou os dois grupos do vôlei feminino para os Jogos de Londres. De um lado, Brasil, EUA, China, Sérvia, Turquia e Coreia do Sul; na outra chave, Grã Bretanha, Itália, Japão, Rússia, Argélia e República Dominicana. Segundo Voloch, a divisão dos grupos se deu pelo ranking das equipes, o que tem uma certa lógica.

Os EUA lideram o ranking mundial e a Grã Bretanha é o país-sede. São, pois, os cabeças-de-chave. O Brasil é o segundo do ranking e com o Japão em terceiro, foi um para cada lado, o que se sucedeu até que os dois piores ranqueados, Argélia e Coreia do Sul também seguissem para grupos diferentes. O problema, porém, não é o grupo em que o Brasil caiu, que é bem difícil nesse panorama; o problema é que o blog dele, até o momento, é a única fonte confiável que deu essa divisão (sim, confiável).

Procurei no site da FIVB, e nada. No dos Jogos Olímpicos, zero. No da CBV, idem. Menos ainda no site oficial do vôlei norte-americano e no italiano. Só encontrei referência a esses supostos grupos nas páginas em inglês e em polonês da Wikipédia. Páginas, registre-se, atualizadas depois da postagem de Voloch.

Há três hipóteses e, ao que me parece, todas igualmente válidas:

1) eu não procurei direito. Existe, em algum lugar da web, uma informação ofical e precisa que confirma a notícia trazida por Bruno Voloch e que vai me fazer, assim que a encontrar, postar um novo texto sobre o assunto, pedindo desculpas ou coisa assim;

2) um dia, em algum site oficial (FIVB.org, por exemplo) foi dito que os grupos seriam divididos assim. Voloch, atento, anotou. E, agora, a página foi retirada do ar, pois eu não a encontrei. Essa hipótese se parece muito com a primeira e me fará, também, pedir desculpas, também com algum constrangimento;

3) ou, numa variação da última hipótese, o anúncio era de que o ranking seria utilizado no emparceiramento do sorteio das chaves - algo que o handebol, por exemplo, fez. Assim, digamos, EUA e Grã Bretanha seriam cabeças de chave, e o sorteio vai dizer se vão enfrentar Brasil ou Japão, Itália ou China, Rússia ou Sérvia etc., e essa informação tenha causado o que me parece a confusão no blog de Voloch.

Por hora, eu vou acreditar nessa terceira hipótese. Voloch pode ter, simplesmente, cometido um engano, nada que diminua a credibilidade (falando sério) de um dos poucos jornalistas corajosos que reprovaram a marmelada do Brasil contra a Bulgária no mundial passado.http://www.blogger.com/img/blank.gif

Se você encontrar um link que esclareça o assunto, ponha aí no comentário. Minha busca continua.



Nova atualização: não mencionei, também, que o blog das Irmãs Mello, Vôlei sem Fronteiras, também informou que os grupos seriam esses. A fonte delas é o site russo championat.ru.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Youtube olímpico VIII

Mesmo sem um título olímpico ou sem um recorde mundial, um dos nomes mais respeitados da história do atletismo é o do norte-americano Steve Prefontaine. Morto aos 24 de idade, Prefontaine era recordista nacional das duas e três milhas, e dos 5.000m e 10.000m, com marcas estabelecidas abril e julho de 1974. Ele e o maratonista Frank Shorter, campeão em Munique/1972 e vice em Montreal/1976, foram os grandes responsáveis, nos anos 70, pela popularização das corridas de longa distância nos EUA.

A única aventura olímpica de Pre, como era conhecido, foi em Munique/1972. Com os Jogos e atletas já bastante estremecidos pelo atentado terrorista do Setembro Negro, cinco dias antes, a prova dos 5.000m rasos se desenvolveu em 10 de setembro, penúltimo dia de competições. O ianque era apontado como um dos maiores candidatos ao ouro da prova, mas o grande favorito era mesmo o finlandês Lasse Viren, que, dias antes, havia faturado a prova dos 10.000m. Outro candidato ao ouro era o tunisiano Mohamed Gammoudi, que defendia o título conquistado na Cidade do México/1968.

A pouco mais de um quilômetro do fim da prova, Prefontaine tomou a dianteira e tentou imprimir um ritmo forte, talvez para explorar o cansaço de Viren e Gammoudi, que haviam corrido, também, a prova dos 10 Km. Só que a tática do norte-americano, rapidamente, se mostrou ineficaz. Na abertura da penúltima volta, o finlandês se recuperou espetacularmente, depois de correr encaixotado entre os intermediários durante muito tempo, e tomou a ponta. Prefontaine apertou o passo e 200 metros adiante, retomou a liderança. Cedo demais.

Viren conseguiu abrir a última volta em primeiro. A liderança poderia ser definitiva, mas Gammoudi o acompanhou e os dois fizeram a curva seguinte quase emparelhados, com o tunisiano por fora. Na reta oposta, Gammoudi passou à liderança e Prefontaine, num sprint inacreditável, também ultrapassou Viren, encostando perigosamente no novo líder. O esforço, no entanto, foi demasiado para Prefontaine.

Ele perdeu a passada por um momento e, enquanto Viren o ultrapassava por dentro, o ianque olhava para trás, claramente preocupado em assegurar um lugar no pódio. A cerca de 150 metros do fim, Gammoudi procurou Lasse Viren no retrovisor e viu Prefontaine, que retomava a velocidade mais uma vez.

Quando os três, separados pela expessura de uma lâmina, entraram na reta de chegada, Viren ultrapassou Gammoudi por fora e não deixou a corrida escapar. Gammoudi se conformou com a prata passou a controlar as passadas de Prefontaine. E o ianque, entretido na briga com os dois líderes, perdeu fôlego e foi ultrapassado pelo britânico Ian Stewart, que não tinha entrado na história. Uma das mais emocionantes provas de 5 Km da história.

Em 30 de maio de 1975, há exatamente 37 anos, poucos dias depois de vencer o primeiro meeting internacional de Eugene, universidade onde estudava e competia, Steve Prefontaine morreu num acidente de carro. O meeting, que é disputado ainda hoje, faz parte da Diamond League e se chama Prefontaine Classic - prova que vai ocorrer no próximo sábado, dia 2.

As marcas obtidas por Prefontaine, depois de Munique, foram melhores do que as que deram a Viren o bi-olímpico em Montreal/1976, tanto nos 5.000 quanto nos 10.000 metros. Se é leviano dizer que, por isso, Pre teria ficado com as duas medalhas de ouro, é de se imaginar, por outro lado, como teria sido a revanche olímpica entre os dois. O fato é que a única vez que Prefontaine e Viren se encontraram nas pistas foi um momento histórico, uma corrida inesquecível. O vídeo é mais eloquente do que o relato.


Fácil e preocupante

O sorteio desta tarde colocou Rússia, Croácia, Montenegro, Angola e Grã Bretanhano caminho da Seleção Brasileira feminina de handebol. Carne de pescoço, mesmo, é a Rússia, campeã mundial em 2009, medalha de prata em Pequim/2008. Croácia e Montenegro não têm lá muita tradição na modalidade (a Croácia é potência do handebol, mas só do masculino). Angola tem um handebol emergente, sempre conquista títulos africanos, sempre consegue um ou outro bom resultado em mundiais, mas nunca levantou nenhuma taça relevante de verdade (feito o Brasil, diga-se). E a Grã Bretanha, que montou um time só pra participar dos Jogos Olímpicos, não deve oferecer resistência a ninguém, deve ser uma anfitriã generosa e derrotada - ao menos, no handebol. No mundial passado, o Brasil, no torneio que decidia entre o quinto e o oitavo lugar, venceu a Croácia por um gol de diferença e a Rússia por incríveis 16. Assim, não será surpresa se o Brasil, apesar da pouca tradição, terminar em segundo ou até em primeiro no grupo. Tudo certo, não é? O sorteio trouxe boa sorte às brasileiras, hein?

Não. Não é bem assim.

O grupo pode ser considerado fácil. Tanto pelo momento que as meninas do handebol atravessam, com vitórias recentes sobre França, Suécia, Rússia e dois empates contra a Noruega, quanto, principalmente, pelos times que formam o outro grupo - Noruega, França, Espanha, Dinamarca (as quatro semifinalistas do mundial passado), Suécia (campeã europeia) e Coreia do Sul (seleção não-europeia mais tradicional do esporte). Daí, vem a preocupação.

Se o Brasil passar (e, convenhamos, vai passar) para as quartas-de-final, é certo que vai enfrentar uma seleção de ponta - exceção que talvez se faça à Suécia. Por isso, não entendo ainda ao certo o clima de otimismo dos sites nacionais, exaltando a "sorte" que as brasileiras deram ao escapar do grupo da morte. Porque é uma sobrevivente da lá que as aguarda no primeiro mata-mata.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Pela cara?


(foto: ITTF.com)

A Seleção Brasileira feminina de tênis de mesa terá, em Londres, uma chinesa naturalizada. Gui Lin tem 18 anos de idade e mora no país desde os 12. Curioso é que a convocação dela deixou Jéssica Yamada fora do time e dos Jogos, mesmo depois de ela haver competido, inclusive, no mundial por equipes deste ano, em Dortmund. Lin se junta à veterana Lígia Silva, que vai para a terceira olímpiada, e Caroline Kumahara.

Não vou criticar tecnicamente a decisão. Também não vou aludir o ranking mundial pra dizer se a decisão foi correta, já que as duas estão muito próximas nessa classificação - de acordo com o site da Federação Internacional de Tênis de Mesa, Jéssica é a 247ª do mundo, enquanto Gui Lin, a 258ª, ou seja, posições bastante parecidas. Não posso é deixar de refletir sobre duas questões.

1) Teria Jéssica Yamada sido preterida por ser Gui Lin uma chinesa? Espero que não. Porque esse pensamento determinista é tão ingênuo (e preconceituoso) quanto o de quem acha que todo brasileiro é apaixonado por futebol e pela seleção, de que todo nordestino sabe dançar forró ou mesmo que, como no ensinamento execrável e ultrapassado de Cesare Lombroso, criminoso tem cara de mau. Que a escolha da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa tenha sido por Gui Lin, e não, "pela chinesa".

2) Qual o ganho da naturalização de atletas pro esporte brasileiro? Além do tênis de mesa, o basquete masculino vai contar com um estrageiro no elenco, o armador norte-americano Larry Taylor. E é claro, também, que não são os primeiros naturalizados defendendo as cores do país numa edição olímpica. Foi assim com três argentinos de nascimento, o basqueteiro dos anos 1960 Antonio Succar, o tenista Fernando Meligeni e canoísta Sebastián Cuattrin, foi assim com a pentatleta norte-americana Samantha Harvey, foi assim com o soviético da Bielorrúsia Victor Mirshauswka, que defendeu o basquete brasileiro na medalha de bronze em Tóquio/1964. Nada que sugira, como se vê, que o esporte nacional esteja contratando atletas estrangeiros (como algumas federações nacionais fazem) ou que haja uma campanha de importação de desportistas em massa. Nada disso. Também é diferente do caso do ginete Rodrigo Pessoa, que nasceu em Paris, mas, sendo filho do brasileiro Nelson Pessoa, é cidadão brasileiro.

O que me dá medo é que, um dia, algum gênio de cartola perceba que é mais rápido e barato naturalizar campeões em potencial do que formar atletas brasileiros. E aí, sim, o esporte brasileiro passe a correr o risco de ser um fim em si mesmo, com o resultado - a medalha - sendo mais importante do que a popularização e massificação da prática esportiva, e que as categorias de base e o esporte escolar percam ainda mais o pouco da importância que têm por aqui.

domingo, 27 de maio de 2012

Sem adivinhação

Das seis seleções classificadas para os Jogos de Londres esta semana, no handebol feminino, quatro enfrentaram o Brasil no Mundial de 2011. A Espanha, algoz da seleção nas quartas, conseguiu uma das vaga. Rússia, Croácia e França, batidas pelas brasileiras em dezembro passado, também vão às Olimpíadas. Dinamarca, tricampeã olímpica que volta aos Jogos depois da ausência em Pequim, e Montenegro foram as outras equipes classificadas da semana.

Com isso, os oito primeiros colocados no Mundial do Brasil - Noruega, França, Espanha, Dinamarca, Brasil, Rússia, Croácia e Angola - estarão em Londres. A eles se juntam Montenegro (que eliminou a Romênia), Coreia do Sul (tradicionalíssima), Suécia (campeã europeia) e Grã Bretanha (só pra constar mesmo). Ainda que haja um ligeiro favoritismo para a Noruega, a promessa de muito equilíbrio. Talvez o pódio de esporte coletivo mais difícil de prever para as Olimpíadas deste ano. E o legal é que as brasileiras têm jogado de igual pra igual com essa turma.

Ligeiro balanço

A vitória da Sérvia por 3-2 sobre o Japão classificou os dois times para os Jogos de Olímpicos. As duas últimas vagas do vôlei feminino. Dançou a Tailândia. Hora de fazer o balanço.

Serão, em Londres, quatro times diferentes em relação a Pequim. Saem Cuba, Venezuela, Cazaquistão e Polônia, entram República Dominicana, Coreia do Sul e as estreantes Turquia e Grã Bretanha. Nada excepcional. A título de comparação, de 2004 para 2008, foram quatro equipes novas também.

A grande estreia é mesmo a Turquia, vôlei que investiu em profissionais estrangeiros nos clubes e no comando técnico da seleção. Porque a estreia da Grã Bretanha não vai acrescentar um grama ao peso da competição, é estreia com cara de despedida.

Cuba é a ausência mais dolorosa. Mas só pela tradição, pelo nome, pela camisa. A bola que as chicas vêm jogando não faz falta. Mas que vai ser estranho uma olimpíada sem elas, isso vai ser.

Favoritismo é, pela ordem, da Itália (que sempre fraqueja nessas horas) e dos EUA. Mas ninguém menospreze a força das russas, das brasileiras e das chinesas. O pódio não deve ter ninguém fora desse grupo celeto e de sempre. Também não se substime o Japão, que não joga nada há dois anos, mas foi bronze no mundial de 2010. Turquia e Coreia do Sul devem dar algum trabalho, são seleções emergentes, mas não devem ir além das quartas - o que não será mau para elas. As outras seleções devem fazer figuração. Só.

sábado, 26 de maio de 2012

Fiel da balança


Exceto para a Rússia, que já se classificou, e para Taiwan e Peru, já que ninguém achava mesmo que fossem pras Olimpíadas, a madrugada promete muita emoção no pré-olímpico feminino de vôlei. Ou não! Porque se Cuba vencer a Tailândia, no primeiro jogo da rodada derradeira, Coreia do Sul, Japão e Sérvia nem precisarão entrar em quadra para irem aos Jogos de Londres.

Triste que o vôlei das cubanas só tenha relevância, num pré-olímpico, por um resultado que possa interessar a terceiros. Triste que o time nem ia disputar o campeonato por falta de grana e ficou fora das olimpíadas por falta de bola.

Cuba é tricampeã olímpica e tri-mundial. Hoje, é só o fiel da balança, é o time que divide os classificados e os eliminados. Essas "chicas" não saltam.

(foto: FIVB.org)

De volta ao pódio

Depois de três anos, a brasileira Yane Marques voltou, finalmente, ao pódio mundial do pentatlo moderno. Em Chengdu, na China, na final da Copa do Mundo, o terceiro meeting mais importante do ano, Yane conquistou a medalha de bronze, atrás, pela ordem, da lituana Laura Asadauskaite e da britânica Heather Fell - prata em Pequim/2008, mas ainda sem vaga assegurada para os Jogos deste ano. A última e única vez em que a brasileira havia conquistado uma medalha numa etapa da Copa do Mundo foi na final de 2009, disputada no Rio de Janeiro, quando ficou com a prata.

Antes que trombetas verde-amarelas soem para cravar Yane como favorita nos Jogos Olímpicos, é preciso fazer uma ressalva. Várias boas pentatletas não quiseram ir à China. Lena Schoneborn, Elodie Clouvel, Amélie Cazé e Anastasyia Prokopenko, que venceram as quatro etapas anteriores da Copa, não estavam lá. A campeã mundial de 2011, Victoria Tereshuk, e a de 2012, Mhairi Spence, também não. Aliás, não havia nenhuma ex-campeã mundial na prova. Ponto.

As ausências, contudo, não tiram o mérito nem o brilho do bronze da pernambucana. Se não foram, azar delas, não é? Se é verdade que ela não é favorita ao título nem mesmo ao pódio londrino, também é verdade que esse resultado, o sexto lugar no mundial de Roma e os quintos lugares dela noutras duas etapdas da Copa do Mundo põem Yane como candidata (vou repetir, usando caixa alta, aspas e negrito: "CANDIDATA") a uma medalha olímpica e como figura quase certa entre as dez primeiras a cruzar a linha de chegada no Greenwich Park.

Sem ufanismo: a loirinha de Afogados da Ingazeira vai com um moral arretado pra sua segunda olimpíada.

sábado, 19 de maio de 2012

Medo medalhando



O revezamento da Tocha Olímpica começou nesse sábado. O fogo sagrado veio de Olímpia, na Grécia, e aportou na Grã Bretanha, onde percorrerá, durante 69 dias, algo em torno de 13 mil quilômetros e será conduzido por oito mil pessoas. Quem acenderá a Pira Olímpica é sempre o segredo-mor da Cerimônia de Abertura, mas é certo que o atleta que recebeu a tocha em território britânico foi escolhido muito bem, o iatista Ben Ainslie, medalhista de ouro nas três últimas olímpiadas. A festa para a chegada do fogo pagão à terra da rainha não esconde, porém, que até esse revezamento da tocha passa pelo chato espírito proibitivo que tomou conta das olimpíadas londrinas.

Por medida de segurança, está proibido o uso de telefone celular nos locais de competição durante as Olimpíadas. Também é por questão de segurança que falam em instalar mísseis em prédios residenciais próximos ao Parque Olímpico. O medo britânico do terrorismo é bem justificável, diga-se. O atentado do Setembro Negro, em Munique/1972, e a bomba que explodiu no parque olímpico de Atlanta/1996, durante um show musical, já são, por si sós, bons indicativos de que é necessário cuidar da segurança. E imagine, então, o efeito causado pelos atentados ao metrô londrino, dois dias depois de a cidade ter sido eleita para sediar os Jogos.

As medidas, contudo, não ficam só nisso aí.

Por questão de higiene e, consequemente, de saúde, os atletas britânicos receberam a recomendação de não apertarem a mão de seus adversários. Alegando proteção aos direitos da marca olímpica, o comitê organizador conseguiu vetar uma série de palavras e expressões das propagandas de quem não patrocine as Olimpíadas - expressões como dois mil e doze, Londres 2012, vinte doze e outras só podem aparecer nas campanhas publicitárias, se obedecerem a algumas normas. Prometem, também, ficar atentos ao marketing de emboscada, como o de uma cervejaria que colocou um monte de modelos holandesas uniformizadas nas arquibancadas da Copa da Àfrica do Sul, há dois anos. E exortando a proteção aos direitos de transmissão dos Jogos, está proibida a veiculação de fotografias e vídeos de competições olímpicas por parte de espectadores nas redes sociais.

Medo de terroristas, medo de mãos sujas, medo de golpes do capitalismo estão transformando os Jogos Olímpicos de Londres num chatice sem tamanho, num festival de proibições. Nem o revezamento da tocha escapou.

Com medo de que a tocha seja alvo de protesto em redor do mundo, como foi em 2008, o fogo olímpico não sairá da Grã Bretanha. A corrida, que serve para engajar os povos no movimento olímpico, que mostra que os Jogos não são de uma cidade ou de um país, mas da humanidade inteira, ficou restrita, fechada, sem a graça de antes.

O cronograma da organização dos Jogos está sendo cumprido à risca, o orçamento, dizem, não extrapolou, os estádios e arenas foram construídos de modo sustentável, o Parque Olímpico revitalizou uma zona esquecida da cidade de Londres etc., etc. Tudo perfeito, não fosse o medo. O medo de tudo.

(foto: london2012.com)

Acabou a pose




Depois de ter ameaçado não disputar o pré-olímpico feminino de vôlei no Japão, por falta de dinheiro, a Seleção Cubana corre, de fato, o risco de não se classificar para Londres. E na bola, não na grana. Porque o time perdeu por 3-0 da Coreia do Sul na estreia do pré-olímpico e a eliminação parece eminente. Se não for aos Jogos, será uma pena, porque a tradição cubana no vôlei é imensa, mas não será injusto, porque faz tempo que as chicas não assustam ninugém.

Além de Cuba e Coreia do Sul, participam do torneio a Rússia e a Sérvia, representando a europa, o Peru, pela América do Sul, e Japão, Taiwan e Tailândia, que são os asiáticos ao lado das sul-coreanas. A distribuição de vagas é generosa: os três primeiros colocados na competição, que é de pontos corridos, se classificam para Londres, bem como o melhor asiático fora desse grupo. Como indica minha calculadora científica, são quatro vagas para oito times, concorrência de um para dois, o que é só matemático, não é prático.

Na prática, Peru, Tailândia e Taiwan não oferecem muito risco a ninguém. Uma vitória de alguém do trio contra alguém do quinteto será surpresa, zebra, mesmo! Sobram, de fato, cinco times para quatro vagas.

A Rússia, mesmo com a força que tem feito para perder títulos, não ficará fora dos Jogos de Londres. Nem que queira. O Japão, pela tradição que tem, pela campanha que fez no mundial de 2010 e pelo fato de jogar (de novo) em casa, também não deverá ficar sem vaga para as Olimpíadas. Sobram Sérvia, Cuba e Coreia do Sul para duas vagas.

Nas condições normais, Cuba nem estaria jogando esse pré-olímpico, mas teria, sim, ficado com a vaga da Norceca - que perdeu para a República Dominicana. O ciclo olímpico das cubanas é tenebroso, é ainda pior do que fora o de Pequim/2008. Há muito tempo o time não faz uma campanha decente no Grand Prix e fez um mundial bisonho no Japão, há dois anos, quando perdeu sete dos onze jogos que disputou. Some-se aí o eterno fantasma desertor, quando as jogadoras ouvem o canto sereia capitalista e abandonam a seleção noutro pais, fenômeno que se acentuou bastante nos últimos anos e tirou algumas das melhores jogadoras da ilha. Por isso, como as condições não são nada normais, Cuba perder para a Coreia do Sul foi normal. E não será nenhum assombro se perder para as russas e japonesas.

Se não ocorrer nada fora do previsto, resta às cubanas um jogo pela classificação. Nesta quarta-feira, pela quarta rodada, as caribenhas enfrentam a Sérvia. Se vencerem, as chances de visarem o passaporte para o Reino Unido são grandes; se perderem, dirão que a ajuda que a FIVB deu ao time foi dinheiro desperdiçado. Haja o o que houver nesse pre-olímpico, é triste ver o que o voleibol mais vitorioso dos anos 90 está jogando em 2012.

(foto: FIVB.com)

No tempo certo




Depois de um título surpreendente em Atenas/2004 e de uma frustração em Pequim/2008, Liu Xiang resolveu não deixar dúvida nenhuma no começo desta temporada: vai a Londres atrás do bicampeonato olímpico. Hoje, na etapa de Xangai da Diamond League, a segunda do circuito, o chinês venceu os 110m c/ barreiras com o tempo arrasador de 12s97. A marca é muito significativa. Não só é a melhor do ano como também faz do ex-campeão o segundo corredor, desde 2009, a concluir a prova abaixo dos 13s - o norte-americano David Oliver é o outro.

Não quer dizer, no entanto, que Xiang seja favorito absoluto ao título. A meu ver, inclusive, com gente como Xiang, Oliver, o cubano campeão olímpico, Dayron Robles, e o norte-americano campeão mundial, Jason Richardson, a corrida dos 110 com barreira tem tudo pra ser de tirar o fôlego, algo como foi o 4x100m livre da natação masculina em Pequim. O que a marca comprova é que a prata que Xiang conquistou no mundial de Daegu (ou o ouro que perdeu, graças ao esbarrão de Dayron Robles) não foi à toa. Ele está bem fisicamente e os anos de contusão e ostracismo estão superados.

domingo, 6 de maio de 2012

Ferimento. Apenas, ferimento



Desde que venceu o Mundial feminino do Japão/2010, a Seleção Russa de vôlei estancou subitamente. O fracasso no pré-olímpico foi só outro atestado da queda brusca do jogo delas.

Primeiro, em Moscou, na Copa Yeltsin do ano passado, a Rússia perdeu para um time B do Brasil nas semifinais. Depois, no Grand Prix, perdeu para a Seleção Brasileira novamente. Aí, no europeu, o time não conseguiu vaga nem para a Copa do Mundo do ano passado nem para o Grand Prix deste ano. E, agora, sem ter a Itália pelo caminho, Gamova & Cia. não conseguiram a vaga olímpica no classificatório continental.

É nítido que, em quadra, o time russo sente muita falta de Kosheleva, um dos destaques do título mundial de 2010, contundida já há um bocado de tempo. Ausência que levou a uma inexplicável convocação de Artamonova, repetindo o erro da campanha de Pequim. O passe continua uma lástima, Startseva, a levantadora, não é lá essas coisas e Gamova não consegue mais pontuar de qualquer ponto da quadra.

Fim das russas? Calma.

Jogar o qualificatório no Japão ainda não é o fim dos tempos. São oito times (dois europeus) brigando por três vagas, sem a concorrência de Cuba e, possívelmente, do Brasil. Assim, convenhamos, a Rússia se classifica pra Londres.

E em Londres, depois desse sufoco, é bom lembrar que o último título olímpico da Rússia/URSS foi nessas condições. Em 1988, numa época em que só havia oito times no vÔlei olímpico feminino (e não 12), a vaga europeia ficou com a Alemanha Oriental, que bateu a URSS na decisão do europeu de 1987. A sorte das sovieticas é que o Continente Africano preferiu não mandar time nenhum para Seul, o que abriu uma vaga num pré-olímpico mundial. Resultado? A URSS venceu o pré-olímpico e, em Seul/1988, não perdeu para ninguém. Serve para os que gostam de história e, até, para os supersticiosos...

Sim, o vôlei das russas está mal. Mas, não, elas não são peso morto. Em Londres, como sempre acontece, darão trabalho e lutarão pelo título. Ninguém pense nada diferente.

(foto: FIVB.org)

Não à toa, é da Turquia




Se o boxe amador turco se aproveitou do fato de lutar em casa no pré-olímpico, o vôlei feminino da Turquia não deixou por menos. Bateu todo mundo em Ankara, jogou a Rússia no qualificatório mundial do Japão e garantiu vaga, neste domingo, para os Jogos Olímpicos de Londres.

É claro que resumir a conquista ao fator caseiro é muito simplista, porque, nos últimos anos, o vôlei turco tem importado técnicos e jogadoras de primeira linha e mostrou que aprendeu muito com esse pessoal. Não é à toa que José Roberto Guimarães treina o Fenehbarçe, não é à toa que ele conta, no time, com jogadoras como a Logan Tom, Sokolova, Fabiana e Yeon-Kung Kim. Não é à toa que os dois últimos campeões europeus de clube, no vôlei feminino, Vakif, ano passado, e Fenehbarçe, este ano, são turcos. Aliás, o técnico da seleção turca é o brasileiro Marco Aurélio Motta, sucedido na seleção canarinho em 2003, por Zé Roberto.

É por essas e por jogadoras como Darnel Neslihan, Eda Erdem e Neriman Oszoy que as turcas estarão nas Olimpíadas. Pode até ser supresa, mas não é à toa.

(foto: CEV.lu)

domingo, 29 de abril de 2012

Pode correr



O velocista britânico Dwain Chambers está apto a disputar uma vaga nos Jogos Olímpicos de Londres. Pelo menos, é o que determina a decisão da Corte Arbitral do Esporte (CAS). Ela contrariou a Associação Olímpica Britânica (BOA, na sigla em inglês), que o havia banido por envolvimento no escândalo de doping da Balco, em 2003. O julgamento começou no mês passado e sentença foi divulgada hoje.

Chambers foi medalhista de bronze nos 60m rasos, no Mundial indoor de Atletismo de Istambul, mês passado. Sua única participação olímpica foi em Sydney/2000, quando foi quarto colocado nos 100m rasos. Desde que voltou a competir, em 2006, o corredor só conseguiu uma única vez uma marca abaixo dos 10s nessa prova. Por outro lado, desde 2008, ele sempre termina a temporada como britânico mais rápido do ano.

Em março, o presidente da comissão organizadora dos Jogos de Londres, Sebastian Coe, se pronunciou favorável ao banimento do atleta. Mesmo que contrarie a lógica dos últimos anos e Dwain Chambers não consiga vaga no time britânico, a decisão cria jurisprudência para derrubar a resolução da BOA, que bane do esporte quem tiver suspensão igual ou superior a dois anos por uso de doping.

(foto: iaaf.org)

sábado, 28 de abril de 2012

Os 17 com ele


(foto: fivb.org)

É claro que a convocação de Ricardinho pra disputa da Liga Mundial deste ano monopolizou o noticiário do vôlei neste fim de semana. Até o blog de Bruno Voloch reconheceu. O cara não joga pela Seleção Brasileira desde a Liga Mundial de 2007, quando, aliás, foi até escolhido o melhor jogador do campeonato, e não é pra menos o alvoroço causado pelo retorno dele. Ele é um dos melhores levantadores da história (talvez, o melhor) e sua ausência pode ter sido um dos fatores que levaram o Brasil a não trazer o ouro de Pequim (enfatizo, um dos fatores, um dos!). Todas as explicações sobre o corte dele pro Pan do Rio/2007 me soam estranhas e nem vou repeti-las ou especular. Passou - eu acho. Certo é que a lista de Bernardinho teve muito mais que o nome agora ex-desafeto.

Lucarelli e Maurício foram ótimas convocações. Estão entre os 18 jogadores da primeira fase da Liga Mundial e, ao que parece, concorrem com João Paulo Bravo pela vaga como quarto ponteiro no time definitivo - somente 14 disputarão a fase final da Liga, na Bulgária. Maurício foi campeão da Liga em 2010, mas atuando como líbero reserva de Mário Júnior. Assim como Bravo, se destaca no passe. Já Lucarelli, se aprender a passar e continuar com a potência que tem no ataque, será titular absoluto da seleção no próximo ciclo olímpico. Pensando no presente, com Dante, Murilo e Giba no elenco, o que, teoricamente, faz com que reste apenas uma vaga na posição, acho que João Paulo Bravo e Maurício têm mais chances do que Lucarelli, com pequena vantagem para Bravo, pois tem sido convocado regularmente. Contudo, o exemplo de Marlon, que revezava a titularidade do time com Bruno, deve alertá-lo.

(Convocar Bruno em vez de Marlon tem o mesmo efeito prático do contrário. Os dois têm um estilo parecido, oscilam bastante e não era incomum o reserva terminar uma competição no time principal. No fim das contas, Ricardinho volta mesmo é pra ser titular da seleção.)

Já na saída de rede, a surpresa foi Renan. O cara tem 22 anos e 2,17m e, com Leandro Vissotto, Théo e Wallace, está com o grupo só pela experiência mesmo. Vissotto, que tem sido titular da posição, dificilmente deixará de ser convocado pra fase decisiva da Liga e pras Olimpíadas. Se Bernardinho optar por três opostos, sem problemas, Théo e Wallace (que é o do Cruzeiro, não o do Sesi) estão dentro. Mas, se apenas dois jogadores da posição forem convocados, acho que o cruzeirense tem vantagem, embora Théo tenha sido convocado mais vezes e até tenha sido campeão mundial na Itália/2010.

Serginho e Mário Jr. como líberos era o esperado. Assim como, no meio-de-rede, a não convocação de Gustavo, com Éder, Lucão e Sidão no elenco. Até aqui, uma convocação indiscutível.

O único senão na lista é Rodrigão. Certo, ele foi, pra mim, o melhor jogador da seleção no Mundial da Italia há dois anos, tem uma história longa e vitoriosa no time etc., etc. Mas não vem jogando mais nada. Aliás, esse ano, passou mais tempo na reserva do Sesi do que em quadra. Repito, é o único senão.

Se a seleção não tem mais o favoritismo destacado que teve nos últimos anos, ao menos tem time pra disputar, de igual pra igual, com qualquer um. Conquistar o deca da Liga Mundial e o tri olímpico não são obrigação. Mas elenco para lutar por esses títulos, ao que indica a convocação de ontem, a seleção tem.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Youtube olímpico VII

Em homenagem ao Dia do Goleiro, um momento histórico para um guarda-metas brasileiro numa Olimpíada. O momento maior, talvez.

Seul, 1988. Naqueles Jogos, assim como em Los Angeles/1984, não havia limite de idade para inscrever um jogador no torneio olímpico de futebol. Essa restrição de seleções sub-23, inchertadas por até três atletas de qualquer idade, só começou a valer em 1992. Em 1984 e 1988, a única restrição era que o jogador jamais houvesse disputado uma Copa do Mundo.

A Seleção Brasileira fazia uma campanha irretocável na Ásia. Sob comando técnico de Carlos Alberto Silva, o time de Romário, Bebeto, Neto, Jorginho, Valdo, André Cruz e Geovani venceu todos os jogos da primeira fase (4-0 Nigéria, 3-0 Austrália e 2-1 Iugoslávia). Nas quartas, a vítima foi a rival eterna Argentina, num suado 1-0, gol de Geovani lá de longe. Parêntese: depois dessa derrota para o Brasil, nunca mais a Argentina competiu no futebol olímpico sem chegar à decisão do torneio - não foi a Barcelona/92 nem a Sydney/2000, foi prata em Atlanta/1996 e ouro em Atenas/2004 e Pequim/2008. Nas semis, Brasil vs Alemanha. Alemanha Ocidental.

Nos tempos do (pseudo-)amadorismo, a Alemanha do lado leste do muro tinha muita tradição olímpica, com quatro medalhas e um título em Montreal/1976. Mas, nas Copas do Mundo, nada. Já os alemães capitalistas, ao contrário, tinham tradição de apanhar nos campeonatos do COI, mas, vira e mexe, sempre estavam (e estão) entre os quatro melhores dos mundiais da Fifa. Contudo, os germano-ocidentais desses Jogos eram diferentes: como pregava o regulamento, eram profissionais virgens de Copa, mas bons de bola, como Juergen Klismann, que seria campeão mundial na Itália, dois anos depois - daquele time, além de Klinsmann, Thomas Haessler, Frank Mill e Karlheinz Riedle também venceram a Copa de 1990.

A campanha alemã em Seul era bastante tranquila. Na fase inicial, 3-0 sobre a China e 4-1 na Tunísia, com uma derrota muito a contento diante da Suécia, por 2-1. Derrota boa (que é o outro nome para resultado arranjado) porque colocou os germânicos diante de Zâmbia no mata-mata. Zâmbia, que assombrara o mundo fazendo 4-0 na Itália, recebeu o placar de volta nas quartas e voltou pra casa. E a Alemanha Ocidental estava nas semifinais olímpicas, pela primeira vez.

O jogo entre Brasil e Alemanha foi dominado amplamente pelos europeus no tempo normal. Depois de um injusto 0-0 no primeiro tempo, Holger Fach inaugura o marcador aos 5 minutos da segunda etapa, graças à falha da linha burra brasileira. Só aí é que o Brasil acordou em campo e chegou ao empate aos 34, com um gol do Romário (prenúncio de que, em semifinal, o baixinho faz gol de cabeça). Mas, um minuto e meio depois, Klinsmann sofre um pênalti que vai mudar a história do jogo.

O zagueirão Wolfgang Funkel cobrou rasteiro, no canto esquerdo, e foi a vez do herói brasileiro naquele dia aparecer. Taffarel fez a defesa em dois tempos, não deu rebote e levou o jogo para a prorrogação. Diga-se, de passagem, que ele já havia feito ótimas defesas durante a partida e era somente graças a ele que a vitória não foi alemã já no primeiro tempo.

Na prorrogação, os dois times cansaram, mas destaca-se uma arrancada de Romário que quase parou dentro do gol. E foi só. Pênaltis. Um momento histórico, de verdade.

Taffarel abriu os trabalhos defendendo a cobrança de Janssen, ao que João Paulo converteu seu chute e fez Brasil 1-0. Aí, Klinsmann deslocou o goleiro e acertou a trave, enquanto Luis Carlos Winck (se lembra dele?) quase não tomou distância pra dobrar a vantagem da seleção canarinho. Kleppinger e Romário deixaram o marcador em 3-1, e bastava ao Brasil um gol ou uma defesa para ir à final. Fach fez. E André Cruz, famoso por suas cobranças de falta, não. Brasil 3-2. Perigo? Tudo certo. O dia era de Taffarel e ele espalmou pra longe o chute de Wuttke e as chances alemãs. Brasil na final. Taffarel? Três pênaltis defendidos, o herói do dia. E, um dia, se converteria num herói das decisões por pênaltis também em Copas do Mundo.

Quatro dias depois, o Brasil seria derrotado pela União Soviética por 2-1 e ficaria com a prata. Na luta pelo bronze, os alemães passariam por cima do time italiano com um 3-0.

O mais curioso de tudo é que, depois desse 27 de setembro de 1988, nunca mais uma seleção masculina alemã foi derrotada numa decisão por pênaltis. Falo em Copas do Mundo, Mundiais sub-17 e sub-20, campeonatos europeus (adultos ou de jovens). Histórico o feito de Taffarel ou não? E também nunca mais o futebol masculino alemão conseguiu chegar, de novo, aos Jogos Olímpicos.

Por tudo disso, em homenagem ao Dia do Goleiro, é que vale a pena ver essa meia hora de vídeo, com narração alemã, do compacto da partida. Uma das grande partidas de futebol nos Jogos Olímpicos.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Começa por aqui




A saga brasileira nos Jogos Olímpicos de Londres/2012 começa no dia 25, antevéspera da cerimônia de abertura, quando as meninas do futebol entrarem em campo contra Camarões. A partida será no Millennium Stadium, em Cardiff, um dos estádios mais bonitos do mundo, que já foi sede, inclusive, da Copa do Mundo de Rugby de 1999. No dia seguinte, no mesmo gramado, o time masculino enfrenta o Egito.

Quis o sorteio que o País de Gales fosse a porta de entrada para a delegação do Brasil nas Olimpíadas do Reino Unido. Quis o sorteio, também, que a seleção feminina, cambaleante como está, ficasse num grupo relativamente fácil, em que pudesse enfrentar a Grã Bretanha, mas também Nova Zelândia e Camarões.

O sorteio ainda determinou que o time de Mano Menezes também ficasse numa chave tranquila e com boas possibilidades de pegar um adversário mediano nas quartas-de-final, pois, se terminar mesmo em primeiro lugar, joga contra o segundo colocado do grupo da Espanha - que deve ser, convenhamos, Honduras, Japão ou Marrocos.

O primeiro evento olímpico de verdade foi hoje. E o Brasil começou, ao que parece, com sorte.

Futebol - Torneio masculino
Grupo A
Grã Bretanha
Senegal
Emirados Árabes
Uruguai

Grupo B
México
Coreia do Sul
Gabão
Suíça

Grupo C
Brasil
Egito
Bielorrúsia
Nova Zelândia

Grupo D
Espanha
Honduras
Japão
Marrocos

Futebol - Torneio feminino
Grupo E
Grã Bretanha
Nova Zelândia
Camarões
Brasil

Grupo F
Japão
Suécia
Africa do Sul
Canadá

Grupo G
EUA
França
Colômbia
Coreia do Norte

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Luvas de casa



No mundial masculino de boxe amador do ano passado, em Baku, que distribuía entre seis e dez vagas olímpicas para cada uma das 11 categorias de peso, os turcos não conseguiram nada. Zero vaga. Mas, aí, no pré-olímpico europeu, que terminou no último sábado, a reviravolta. Enquanto França e Grã Bretanha conquistaram duas vagas cada uma, e Rússia, Itália e Alemanha só aumentaram em um o número de seus atletas no ringue londrino, a Turquia carimbou logo seis passaportes. O pré-olímpico foi em Trabzon, na Turquia, e isso pode explicar essa enxurrada turca no torneio continental. E traz, por que não?, boas perspectivas para o córner brasileiro também.

O pré-olímpico das Américas é entre 4 e 13 de maio, no Rio de Janeiro. O Brasil já tem três vagas asseguradas (todas muito bem conquistadas no mundial) e deve conseguir mais algumas. Talvez, até, supere o número de seis lutadores numa Olimpíada, recorde nacional estabelecido em Helsinque/1952 e igualado em Atlanta/1996, Sydney/2000 e Pequim/2008. Não só porque Cuba, o bicho papão, já tenha sete classificados e só possa pleitear mais quatro vagas, mas porque lutar em casa propicia esses milagres. Por quê?

Não sei. Sei, porém, é que o santo caseiro dos ringues, que esteve na Turquia semana passada, já deu um título pan-americano ao brasileiro Pedro Lima, no Rio/2007, na categoria meio-médio ligeiro, mas ele, sequer, conseguiu representar o país em Pequim. Se o pré-olímpico tivesse sido aqui, e não, no Caribe...

domingo, 22 de abril de 2012

Tudo se explica



A quarta e penúltima etapa da Copa do Mundo de Pentatlo Moderno, em Rostov, Rússia, mostrou, mais uma vez, que o equilíbrio no feminino é muito grande. Ou, então, que tem gente escondendo o jogo. Ou, ainda, que a competição tem servido apenas como treinamento para o Mundial de Roma e, principalmente, para as Olimpíadas de Londres - hipótese que complementa a anterior. Ou que, como só os três melhores resultados é que contam na classificação para a final da Copa do Mundo, que é o quinto torneio, daqui a um mês, em Chengdu, quem estava satisfeita com os pontos no ranking foi passando a vez - é o que pode ter acontecido, por exemplo, a Lena Schoneborn, Elodie Clouvel e Amélie Cazé, vencedoras das etapas anteriores, ausentes na Rússia.

Se a hipótese válida for a do equilíbrio, registre-se em ata que as 12 medalhas disputadas nessas etapas foram para 11 mulheres. Sim, só uma delas subiu duas vezes no pódio. A bielorrussa Anastasyia Prokopenko, autora da façanha, ainda corre atrás de pontos no ranking para assegurar um lugar na disputa em Londres. Deve ser por isso que não se importou de pendurar, no sábado, uma medalha de ouro no pescoço, depois de ter sido premiada em Charlotte com um bronze - ou, então, ela faltou à reunião em que decidiram que ninguém levaria duas medalhas da Copa pra casa.

Compare o pódio de Rostov com o das outras etapas da Copa do Mundo:

Charlotte (EUA) - 1ª etapa
1 - Lena Schoneborn (Alemanha)
2 - Mhairi Spence (Grã Bretanha)
3 - Anastasyia Prokopenko (Bielorrússia)

Rio de Janeiro (BRasil) - 2ª etapa
1 - Elodie Clouvel (França)
2 - Ekaterina Khuraskina (Rússia)
3 - Chloe Esposito (Austrália)

Szazhalombatta (Hungria) - 3ª etapa
1 - Amélie Cazé (França)
2 - Donata Rimsaite (Rússia)
3 - Laura Asadauskaite (Lituânia)

Rostov (Rússia) - 4ª etapa
1 - Anastasyia Prokopenko (Bielorrússia)
2 - Victoria Tereshuk (Ucrânia)
3 - Samantha Murray )Grã Bretanha)

Yane Marques repetiu o quinto lugar conquistado no Rio de Janeiro e segue firme para melhorar, em Londres, o 18º lugar de Pequim. Priscila Oliveira, que pleiteava vaga olímpica também, teve uma participação fraca no torneio. Ela ficou em último lugar em sua bateria classificatória e está quase fora dos Jogos.

(foto: facebook.com/modpen)

sábado, 21 de abril de 2012

Entre bandeiras




O Kosovo ganhou um aliado importante para ter seu pavilhão desfraudado nos Jogos Olímpicos. Ontem, a federação de judô do país foi aceita como membro da federação internacional do esporte. Na prática, isso significa mais pressão sobre o Comitê Olímpico Internacional, que ainda não acolheu os kosovares pela falta de um comitê no país. O Kosovo se declarou independente da Sérvia em 2008, mas também ainda não integra a ONU e tem seu território reivindicado pelos sérvios.

Se o Kosovo não for reconhecido pelo olimpismo como estado independente ou membro, é possível que os atletas de lá participem dos Jogos sob uma bandeira olímpica ou, ainda, como parte da delegação da Albânia, já que a maior parte da população local tem ascedência albanesa.

Em miúdos, pelo desenho atual, se Majlinda Kelmendi, quinta colocada no ranking mundial até 52 Kg, conquistar uma medalha em Londres, a bandeira hasteada poderá ser a albanesa (como até já aconteceu em etapas da Copa do Mundo) ou a do COI. O pavilhão de seu país, por enquanto, ainda não pode tremular no território olímpico. Por enquanto.

(foto: IJF.org)