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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Se deu mal


(foto: eurohandball.com)


O treinador da Seleção Russa feminina de handebol, Yevgeny Trefilov, é conhecido pelo mau humor truculento com que comanda as meninas em quadra, independentemente do placar do jogo. No mundial do Brasil, em dezembro, chegava a discutir com jornalistas durante as entrevistas coletivas. Diante das câmeras, ele parece sempre ranzinza, bravo... bom, pra quem acompanha minimamente o handebol internacional, dispensa-se apresentá-lo.

Encontrei, por acaso, um vídeo recente de Trefilov. Quem o vê com tanta aspereza nos jogos da Rússia pode imaginar que ele seja temido (não me refiro ao lado esportivo) pessoalmente; pode acreditar que ele seja um cara que imponha medo pelo porte físico e pelo jeito pouco sutil de reclamar com suas atletas. Mas vê-se aqui que não é. Pelo menos, seu colega Alexei Gumyanov não tem medo dele.

Fim de jogo, o Lada, de Trefilov, venceu o Kuban por 35-26. Enquanto as jogadoras se cumprimentam monotonamente em quadra, Gumyanov, derrotado, reclama na mesa de arbitragem e o técnico oponente espera para cumprimentá-lo também. Aparentemente, Gumyanov se recusa a apertar a mão do vencedor, que, dizem, lhe disse algo desagradável - nem quero imaginar o sentido que tenha "desagradável" numa discussão com Trefilov. Aí, Gumyanov, que é bem menor do que o outro, tomou uma atitude extrema, um atentado, diga-se, ao espírito esportivo. Dê uma olhada:



A partida foi disputada no dia 10 deste mês. Yevgeny Trefilov quebrou o nariz e foi suspenso por três jogos da Liga Russa de Handebol. Alexei Gumyanov pegou cinco jogos de gancho. A justificativa da punição para ambos, segundo o ex-goleiro russo Andrey Lavrov, é simples. "Handebol não é hóquei", sentenciou o agora dirigente esportivo. Nem boxe, complete-se.

É isso mesmo?

No domingo logo cedo, com a lista dos doze classificados na mão, o blog de Bruno Voloch cravou os dois grupos do vôlei feminino para os Jogos de Londres. De um lado, Brasil, EUA, China, Sérvia, Turquia e Coreia do Sul; na outra chave, Grã Bretanha, Itália, Japão, Rússia, Argélia e República Dominicana. Segundo Voloch, a divisão dos grupos se deu pelo ranking das equipes, o que tem uma certa lógica.

Os EUA lideram o ranking mundial e a Grã Bretanha é o país-sede. São, pois, os cabeças-de-chave. O Brasil é o segundo do ranking e com o Japão em terceiro, foi um para cada lado, o que se sucedeu até que os dois piores ranqueados, Argélia e Coreia do Sul também seguissem para grupos diferentes. O problema, porém, não é o grupo em que o Brasil caiu, que é bem difícil nesse panorama; o problema é que o blog dele, até o momento, é a única fonte confiável que deu essa divisão (sim, confiável).

Procurei no site da FIVB, e nada. No dos Jogos Olímpicos, zero. No da CBV, idem. Menos ainda no site oficial do vôlei norte-americano e no italiano. Só encontrei referência a esses supostos grupos nas páginas em inglês e em polonês da Wikipédia. Páginas, registre-se, atualizadas depois da postagem de Voloch.

Há três hipóteses e, ao que me parece, todas igualmente válidas:

1) eu não procurei direito. Existe, em algum lugar da web, uma informação ofical e precisa que confirma a notícia trazida por Bruno Voloch e que vai me fazer, assim que a encontrar, postar um novo texto sobre o assunto, pedindo desculpas ou coisa assim;

2) um dia, em algum site oficial (FIVB.org, por exemplo) foi dito que os grupos seriam divididos assim. Voloch, atento, anotou. E, agora, a página foi retirada do ar, pois eu não a encontrei. Essa hipótese se parece muito com a primeira e me fará, também, pedir desculpas, também com algum constrangimento;

3) ou, numa variação da última hipótese, o anúncio era de que o ranking seria utilizado no emparceiramento do sorteio das chaves - algo que o handebol, por exemplo, fez. Assim, digamos, EUA e Grã Bretanha seriam cabeças de chave, e o sorteio vai dizer se vão enfrentar Brasil ou Japão, Itália ou China, Rússia ou Sérvia etc., e essa informação tenha causado o que me parece a confusão no blog de Voloch.

Por hora, eu vou acreditar nessa terceira hipótese. Voloch pode ter, simplesmente, cometido um engano, nada que diminua a credibilidade (falando sério) de um dos poucos jornalistas corajosos que reprovaram a marmelada do Brasil contra a Bulgária no mundial passado.http://www.blogger.com/img/blank.gif

Se você encontrar um link que esclareça o assunto, ponha aí no comentário. Minha busca continua.



Nova atualização: não mencionei, também, que o blog das Irmãs Mello, Vôlei sem Fronteiras, também informou que os grupos seriam esses. A fonte delas é o site russo championat.ru.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Youtube olímpico VIII

Mesmo sem um título olímpico ou sem um recorde mundial, um dos nomes mais respeitados da história do atletismo é o do norte-americano Steve Prefontaine. Morto aos 24 de idade, Prefontaine era recordista nacional das duas e três milhas, e dos 5.000m e 10.000m, com marcas estabelecidas abril e julho de 1974. Ele e o maratonista Frank Shorter, campeão em Munique/1972 e vice em Montreal/1976, foram os grandes responsáveis, nos anos 70, pela popularização das corridas de longa distância nos EUA.

A única aventura olímpica de Pre, como era conhecido, foi em Munique/1972. Com os Jogos e atletas já bastante estremecidos pelo atentado terrorista do Setembro Negro, cinco dias antes, a prova dos 5.000m rasos se desenvolveu em 10 de setembro, penúltimo dia de competições. O ianque era apontado como um dos maiores candidatos ao ouro da prova, mas o grande favorito era mesmo o finlandês Lasse Viren, que, dias antes, havia faturado a prova dos 10.000m. Outro candidato ao ouro era o tunisiano Mohamed Gammoudi, que defendia o título conquistado na Cidade do México/1968.

A pouco mais de um quilômetro do fim da prova, Prefontaine tomou a dianteira e tentou imprimir um ritmo forte, talvez para explorar o cansaço de Viren e Gammoudi, que haviam corrido, também, a prova dos 10 Km. Só que a tática do norte-americano, rapidamente, se mostrou ineficaz. Na abertura da penúltima volta, o finlandês se recuperou espetacularmente, depois de correr encaixotado entre os intermediários durante muito tempo, e tomou a ponta. Prefontaine apertou o passo e 200 metros adiante, retomou a liderança. Cedo demais.

Viren conseguiu abrir a última volta em primeiro. A liderança poderia ser definitiva, mas Gammoudi o acompanhou e os dois fizeram a curva seguinte quase emparelhados, com o tunisiano por fora. Na reta oposta, Gammoudi passou à liderança e Prefontaine, num sprint inacreditável, também ultrapassou Viren, encostando perigosamente no novo líder. O esforço, no entanto, foi demasiado para Prefontaine.

Ele perdeu a passada por um momento e, enquanto Viren o ultrapassava por dentro, o ianque olhava para trás, claramente preocupado em assegurar um lugar no pódio. A cerca de 150 metros do fim, Gammoudi procurou Lasse Viren no retrovisor e viu Prefontaine, que retomava a velocidade mais uma vez.

Quando os três, separados pela expessura de uma lâmina, entraram na reta de chegada, Viren ultrapassou Gammoudi por fora e não deixou a corrida escapar. Gammoudi se conformou com a prata passou a controlar as passadas de Prefontaine. E o ianque, entretido na briga com os dois líderes, perdeu fôlego e foi ultrapassado pelo britânico Ian Stewart, que não tinha entrado na história. Uma das mais emocionantes provas de 5 Km da história.

Em 30 de maio de 1975, há exatamente 37 anos, poucos dias depois de vencer o primeiro meeting internacional de Eugene, universidade onde estudava e competia, Steve Prefontaine morreu num acidente de carro. O meeting, que é disputado ainda hoje, faz parte da Diamond League e se chama Prefontaine Classic - prova que vai ocorrer no próximo sábado, dia 2.

As marcas obtidas por Prefontaine, depois de Munique, foram melhores do que as que deram a Viren o bi-olímpico em Montreal/1976, tanto nos 5.000 quanto nos 10.000 metros. Se é leviano dizer que, por isso, Pre teria ficado com as duas medalhas de ouro, é de se imaginar, por outro lado, como teria sido a revanche olímpica entre os dois. O fato é que a única vez que Prefontaine e Viren se encontraram nas pistas foi um momento histórico, uma corrida inesquecível. O vídeo é mais eloquente do que o relato.


Fácil e preocupante

O sorteio desta tarde colocou Rússia, Croácia, Montenegro, Angola e Grã Bretanhano caminho da Seleção Brasileira feminina de handebol. Carne de pescoço, mesmo, é a Rússia, campeã mundial em 2009, medalha de prata em Pequim/2008. Croácia e Montenegro não têm lá muita tradição na modalidade (a Croácia é potência do handebol, mas só do masculino). Angola tem um handebol emergente, sempre conquista títulos africanos, sempre consegue um ou outro bom resultado em mundiais, mas nunca levantou nenhuma taça relevante de verdade (feito o Brasil, diga-se). E a Grã Bretanha, que montou um time só pra participar dos Jogos Olímpicos, não deve oferecer resistência a ninguém, deve ser uma anfitriã generosa e derrotada - ao menos, no handebol. No mundial passado, o Brasil, no torneio que decidia entre o quinto e o oitavo lugar, venceu a Croácia por um gol de diferença e a Rússia por incríveis 16. Assim, não será surpresa se o Brasil, apesar da pouca tradição, terminar em segundo ou até em primeiro no grupo. Tudo certo, não é? O sorteio trouxe boa sorte às brasileiras, hein?

Não. Não é bem assim.

O grupo pode ser considerado fácil. Tanto pelo momento que as meninas do handebol atravessam, com vitórias recentes sobre França, Suécia, Rússia e dois empates contra a Noruega, quanto, principalmente, pelos times que formam o outro grupo - Noruega, França, Espanha, Dinamarca (as quatro semifinalistas do mundial passado), Suécia (campeã europeia) e Coreia do Sul (seleção não-europeia mais tradicional do esporte). Daí, vem a preocupação.

Se o Brasil passar (e, convenhamos, vai passar) para as quartas-de-final, é certo que vai enfrentar uma seleção de ponta - exceção que talvez se faça à Suécia. Por isso, não entendo ainda ao certo o clima de otimismo dos sites nacionais, exaltando a "sorte" que as brasileiras deram ao escapar do grupo da morte. Porque é uma sobrevivente da lá que as aguarda no primeiro mata-mata.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Pela cara?


(foto: ITTF.com)

A Seleção Brasileira feminina de tênis de mesa terá, em Londres, uma chinesa naturalizada. Gui Lin tem 18 anos de idade e mora no país desde os 12. Curioso é que a convocação dela deixou Jéssica Yamada fora do time e dos Jogos, mesmo depois de ela haver competido, inclusive, no mundial por equipes deste ano, em Dortmund. Lin se junta à veterana Lígia Silva, que vai para a terceira olímpiada, e Caroline Kumahara.

Não vou criticar tecnicamente a decisão. Também não vou aludir o ranking mundial pra dizer se a decisão foi correta, já que as duas estão muito próximas nessa classificação - de acordo com o site da Federação Internacional de Tênis de Mesa, Jéssica é a 247ª do mundo, enquanto Gui Lin, a 258ª, ou seja, posições bastante parecidas. Não posso é deixar de refletir sobre duas questões.

1) Teria Jéssica Yamada sido preterida por ser Gui Lin uma chinesa? Espero que não. Porque esse pensamento determinista é tão ingênuo (e preconceituoso) quanto o de quem acha que todo brasileiro é apaixonado por futebol e pela seleção, de que todo nordestino sabe dançar forró ou mesmo que, como no ensinamento execrável e ultrapassado de Cesare Lombroso, criminoso tem cara de mau. Que a escolha da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa tenha sido por Gui Lin, e não, "pela chinesa".

2) Qual o ganho da naturalização de atletas pro esporte brasileiro? Além do tênis de mesa, o basquete masculino vai contar com um estrageiro no elenco, o armador norte-americano Larry Taylor. E é claro, também, que não são os primeiros naturalizados defendendo as cores do país numa edição olímpica. Foi assim com três argentinos de nascimento, o basqueteiro dos anos 1960 Antonio Succar, o tenista Fernando Meligeni e canoísta Sebastián Cuattrin, foi assim com a pentatleta norte-americana Samantha Harvey, foi assim com o soviético da Bielorrúsia Victor Mirshauswka, que defendeu o basquete brasileiro na medalha de bronze em Tóquio/1964. Nada que sugira, como se vê, que o esporte nacional esteja contratando atletas estrangeiros (como algumas federações nacionais fazem) ou que haja uma campanha de importação de desportistas em massa. Nada disso. Também é diferente do caso do ginete Rodrigo Pessoa, que nasceu em Paris, mas, sendo filho do brasileiro Nelson Pessoa, é cidadão brasileiro.

O que me dá medo é que, um dia, algum gênio de cartola perceba que é mais rápido e barato naturalizar campeões em potencial do que formar atletas brasileiros. E aí, sim, o esporte brasileiro passe a correr o risco de ser um fim em si mesmo, com o resultado - a medalha - sendo mais importante do que a popularização e massificação da prática esportiva, e que as categorias de base e o esporte escolar percam ainda mais o pouco da importância que têm por aqui.

domingo, 27 de maio de 2012

Sem adivinhação

Das seis seleções classificadas para os Jogos de Londres esta semana, no handebol feminino, quatro enfrentaram o Brasil no Mundial de 2011. A Espanha, algoz da seleção nas quartas, conseguiu uma das vaga. Rússia, Croácia e França, batidas pelas brasileiras em dezembro passado, também vão às Olimpíadas. Dinamarca, tricampeã olímpica que volta aos Jogos depois da ausência em Pequim, e Montenegro foram as outras equipes classificadas da semana.

Com isso, os oito primeiros colocados no Mundial do Brasil - Noruega, França, Espanha, Dinamarca, Brasil, Rússia, Croácia e Angola - estarão em Londres. A eles se juntam Montenegro (que eliminou a Romênia), Coreia do Sul (tradicionalíssima), Suécia (campeã europeia) e Grã Bretanha (só pra constar mesmo). Ainda que haja um ligeiro favoritismo para a Noruega, a promessa de muito equilíbrio. Talvez o pódio de esporte coletivo mais difícil de prever para as Olimpíadas deste ano. E o legal é que as brasileiras têm jogado de igual pra igual com essa turma.

Ligeiro balanço

A vitória da Sérvia por 3-2 sobre o Japão classificou os dois times para os Jogos de Olímpicos. As duas últimas vagas do vôlei feminino. Dançou a Tailândia. Hora de fazer o balanço.

Serão, em Londres, quatro times diferentes em relação a Pequim. Saem Cuba, Venezuela, Cazaquistão e Polônia, entram República Dominicana, Coreia do Sul e as estreantes Turquia e Grã Bretanha. Nada excepcional. A título de comparação, de 2004 para 2008, foram quatro equipes novas também.

A grande estreia é mesmo a Turquia, vôlei que investiu em profissionais estrangeiros nos clubes e no comando técnico da seleção. Porque a estreia da Grã Bretanha não vai acrescentar um grama ao peso da competição, é estreia com cara de despedida.

Cuba é a ausência mais dolorosa. Mas só pela tradição, pelo nome, pela camisa. A bola que as chicas vêm jogando não faz falta. Mas que vai ser estranho uma olimpíada sem elas, isso vai ser.

Favoritismo é, pela ordem, da Itália (que sempre fraqueja nessas horas) e dos EUA. Mas ninguém menospreze a força das russas, das brasileiras e das chinesas. O pódio não deve ter ninguém fora desse grupo celeto e de sempre. Também não se substime o Japão, que não joga nada há dois anos, mas foi bronze no mundial de 2010. Turquia e Coreia do Sul devem dar algum trabalho, são seleções emergentes, mas não devem ir além das quartas - o que não será mau para elas. As outras seleções devem fazer figuração. Só.

sábado, 26 de maio de 2012

Fiel da balança


Exceto para a Rússia, que já se classificou, e para Taiwan e Peru, já que ninguém achava mesmo que fossem pras Olimpíadas, a madrugada promete muita emoção no pré-olímpico feminino de vôlei. Ou não! Porque se Cuba vencer a Tailândia, no primeiro jogo da rodada derradeira, Coreia do Sul, Japão e Sérvia nem precisarão entrar em quadra para irem aos Jogos de Londres.

Triste que o vôlei das cubanas só tenha relevância, num pré-olímpico, por um resultado que possa interessar a terceiros. Triste que o time nem ia disputar o campeonato por falta de grana e ficou fora das olimpíadas por falta de bola.

Cuba é tricampeã olímpica e tri-mundial. Hoje, é só o fiel da balança, é o time que divide os classificados e os eliminados. Essas "chicas" não saltam.

(foto: FIVB.org)

De volta ao pódio

Depois de três anos, a brasileira Yane Marques voltou, finalmente, ao pódio mundial do pentatlo moderno. Em Chengdu, na China, na final da Copa do Mundo, o terceiro meeting mais importante do ano, Yane conquistou a medalha de bronze, atrás, pela ordem, da lituana Laura Asadauskaite e da britânica Heather Fell - prata em Pequim/2008, mas ainda sem vaga assegurada para os Jogos deste ano. A última e única vez em que a brasileira havia conquistado uma medalha numa etapa da Copa do Mundo foi na final de 2009, disputada no Rio de Janeiro, quando ficou com a prata.

Antes que trombetas verde-amarelas soem para cravar Yane como favorita nos Jogos Olímpicos, é preciso fazer uma ressalva. Várias boas pentatletas não quiseram ir à China. Lena Schoneborn, Elodie Clouvel, Amélie Cazé e Anastasyia Prokopenko, que venceram as quatro etapas anteriores da Copa, não estavam lá. A campeã mundial de 2011, Victoria Tereshuk, e a de 2012, Mhairi Spence, também não. Aliás, não havia nenhuma ex-campeã mundial na prova. Ponto.

As ausências, contudo, não tiram o mérito nem o brilho do bronze da pernambucana. Se não foram, azar delas, não é? Se é verdade que ela não é favorita ao título nem mesmo ao pódio londrino, também é verdade que esse resultado, o sexto lugar no mundial de Roma e os quintos lugares dela noutras duas etapdas da Copa do Mundo põem Yane como candidata (vou repetir, usando caixa alta, aspas e negrito: "CANDIDATA") a uma medalha olímpica e como figura quase certa entre as dez primeiras a cruzar a linha de chegada no Greenwich Park.

Sem ufanismo: a loirinha de Afogados da Ingazeira vai com um moral arretado pra sua segunda olimpíada.

sábado, 19 de maio de 2012

Medo medalhando



O revezamento da Tocha Olímpica começou nesse sábado. O fogo sagrado veio de Olímpia, na Grécia, e aportou na Grã Bretanha, onde percorrerá, durante 69 dias, algo em torno de 13 mil quilômetros e será conduzido por oito mil pessoas. Quem acenderá a Pira Olímpica é sempre o segredo-mor da Cerimônia de Abertura, mas é certo que o atleta que recebeu a tocha em território britânico foi escolhido muito bem, o iatista Ben Ainslie, medalhista de ouro nas três últimas olímpiadas. A festa para a chegada do fogo pagão à terra da rainha não esconde, porém, que até esse revezamento da tocha passa pelo chato espírito proibitivo que tomou conta das olimpíadas londrinas.

Por medida de segurança, está proibido o uso de telefone celular nos locais de competição durante as Olimpíadas. Também é por questão de segurança que falam em instalar mísseis em prédios residenciais próximos ao Parque Olímpico. O medo britânico do terrorismo é bem justificável, diga-se. O atentado do Setembro Negro, em Munique/1972, e a bomba que explodiu no parque olímpico de Atlanta/1996, durante um show musical, já são, por si sós, bons indicativos de que é necessário cuidar da segurança. E imagine, então, o efeito causado pelos atentados ao metrô londrino, dois dias depois de a cidade ter sido eleita para sediar os Jogos.

As medidas, contudo, não ficam só nisso aí.

Por questão de higiene e, consequemente, de saúde, os atletas britânicos receberam a recomendação de não apertarem a mão de seus adversários. Alegando proteção aos direitos da marca olímpica, o comitê organizador conseguiu vetar uma série de palavras e expressões das propagandas de quem não patrocine as Olimpíadas - expressões como dois mil e doze, Londres 2012, vinte doze e outras só podem aparecer nas campanhas publicitárias, se obedecerem a algumas normas. Prometem, também, ficar atentos ao marketing de emboscada, como o de uma cervejaria que colocou um monte de modelos holandesas uniformizadas nas arquibancadas da Copa da Àfrica do Sul, há dois anos. E exortando a proteção aos direitos de transmissão dos Jogos, está proibida a veiculação de fotografias e vídeos de competições olímpicas por parte de espectadores nas redes sociais.

Medo de terroristas, medo de mãos sujas, medo de golpes do capitalismo estão transformando os Jogos Olímpicos de Londres num chatice sem tamanho, num festival de proibições. Nem o revezamento da tocha escapou.

Com medo de que a tocha seja alvo de protesto em redor do mundo, como foi em 2008, o fogo olímpico não sairá da Grã Bretanha. A corrida, que serve para engajar os povos no movimento olímpico, que mostra que os Jogos não são de uma cidade ou de um país, mas da humanidade inteira, ficou restrita, fechada, sem a graça de antes.

O cronograma da organização dos Jogos está sendo cumprido à risca, o orçamento, dizem, não extrapolou, os estádios e arenas foram construídos de modo sustentável, o Parque Olímpico revitalizou uma zona esquecida da cidade de Londres etc., etc. Tudo perfeito, não fosse o medo. O medo de tudo.

(foto: london2012.com)

Acabou a pose




Depois de ter ameaçado não disputar o pré-olímpico feminino de vôlei no Japão, por falta de dinheiro, a Seleção Cubana corre, de fato, o risco de não se classificar para Londres. E na bola, não na grana. Porque o time perdeu por 3-0 da Coreia do Sul na estreia do pré-olímpico e a eliminação parece eminente. Se não for aos Jogos, será uma pena, porque a tradição cubana no vôlei é imensa, mas não será injusto, porque faz tempo que as chicas não assustam ninugém.

Além de Cuba e Coreia do Sul, participam do torneio a Rússia e a Sérvia, representando a europa, o Peru, pela América do Sul, e Japão, Taiwan e Tailândia, que são os asiáticos ao lado das sul-coreanas. A distribuição de vagas é generosa: os três primeiros colocados na competição, que é de pontos corridos, se classificam para Londres, bem como o melhor asiático fora desse grupo. Como indica minha calculadora científica, são quatro vagas para oito times, concorrência de um para dois, o que é só matemático, não é prático.

Na prática, Peru, Tailândia e Taiwan não oferecem muito risco a ninguém. Uma vitória de alguém do trio contra alguém do quinteto será surpresa, zebra, mesmo! Sobram, de fato, cinco times para quatro vagas.

A Rússia, mesmo com a força que tem feito para perder títulos, não ficará fora dos Jogos de Londres. Nem que queira. O Japão, pela tradição que tem, pela campanha que fez no mundial de 2010 e pelo fato de jogar (de novo) em casa, também não deverá ficar sem vaga para as Olimpíadas. Sobram Sérvia, Cuba e Coreia do Sul para duas vagas.

Nas condições normais, Cuba nem estaria jogando esse pré-olímpico, mas teria, sim, ficado com a vaga da Norceca - que perdeu para a República Dominicana. O ciclo olímpico das cubanas é tenebroso, é ainda pior do que fora o de Pequim/2008. Há muito tempo o time não faz uma campanha decente no Grand Prix e fez um mundial bisonho no Japão, há dois anos, quando perdeu sete dos onze jogos que disputou. Some-se aí o eterno fantasma desertor, quando as jogadoras ouvem o canto sereia capitalista e abandonam a seleção noutro pais, fenômeno que se acentuou bastante nos últimos anos e tirou algumas das melhores jogadoras da ilha. Por isso, como as condições não são nada normais, Cuba perder para a Coreia do Sul foi normal. E não será nenhum assombro se perder para as russas e japonesas.

Se não ocorrer nada fora do previsto, resta às cubanas um jogo pela classificação. Nesta quarta-feira, pela quarta rodada, as caribenhas enfrentam a Sérvia. Se vencerem, as chances de visarem o passaporte para o Reino Unido são grandes; se perderem, dirão que a ajuda que a FIVB deu ao time foi dinheiro desperdiçado. Haja o o que houver nesse pre-olímpico, é triste ver o que o voleibol mais vitorioso dos anos 90 está jogando em 2012.

(foto: FIVB.com)

No tempo certo




Depois de um título surpreendente em Atenas/2004 e de uma frustração em Pequim/2008, Liu Xiang resolveu não deixar dúvida nenhuma no começo desta temporada: vai a Londres atrás do bicampeonato olímpico. Hoje, na etapa de Xangai da Diamond League, a segunda do circuito, o chinês venceu os 110m c/ barreiras com o tempo arrasador de 12s97. A marca é muito significativa. Não só é a melhor do ano como também faz do ex-campeão o segundo corredor, desde 2009, a concluir a prova abaixo dos 13s - o norte-americano David Oliver é o outro.

Não quer dizer, no entanto, que Xiang seja favorito absoluto ao título. A meu ver, inclusive, com gente como Xiang, Oliver, o cubano campeão olímpico, Dayron Robles, e o norte-americano campeão mundial, Jason Richardson, a corrida dos 110 com barreira tem tudo pra ser de tirar o fôlego, algo como foi o 4x100m livre da natação masculina em Pequim. O que a marca comprova é que a prata que Xiang conquistou no mundial de Daegu (ou o ouro que perdeu, graças ao esbarrão de Dayron Robles) não foi à toa. Ele está bem fisicamente e os anos de contusão e ostracismo estão superados.

domingo, 6 de maio de 2012

Ferimento. Apenas, ferimento



Desde que venceu o Mundial feminino do Japão/2010, a Seleção Russa de vôlei estancou subitamente. O fracasso no pré-olímpico foi só outro atestado da queda brusca do jogo delas.

Primeiro, em Moscou, na Copa Yeltsin do ano passado, a Rússia perdeu para um time B do Brasil nas semifinais. Depois, no Grand Prix, perdeu para a Seleção Brasileira novamente. Aí, no europeu, o time não conseguiu vaga nem para a Copa do Mundo do ano passado nem para o Grand Prix deste ano. E, agora, sem ter a Itália pelo caminho, Gamova & Cia. não conseguiram a vaga olímpica no classificatório continental.

É nítido que, em quadra, o time russo sente muita falta de Kosheleva, um dos destaques do título mundial de 2010, contundida já há um bocado de tempo. Ausência que levou a uma inexplicável convocação de Artamonova, repetindo o erro da campanha de Pequim. O passe continua uma lástima, Startseva, a levantadora, não é lá essas coisas e Gamova não consegue mais pontuar de qualquer ponto da quadra.

Fim das russas? Calma.

Jogar o qualificatório no Japão ainda não é o fim dos tempos. São oito times (dois europeus) brigando por três vagas, sem a concorrência de Cuba e, possívelmente, do Brasil. Assim, convenhamos, a Rússia se classifica pra Londres.

E em Londres, depois desse sufoco, é bom lembrar que o último título olímpico da Rússia/URSS foi nessas condições. Em 1988, numa época em que só havia oito times no vÔlei olímpico feminino (e não 12), a vaga europeia ficou com a Alemanha Oriental, que bateu a URSS na decisão do europeu de 1987. A sorte das sovieticas é que o Continente Africano preferiu não mandar time nenhum para Seul, o que abriu uma vaga num pré-olímpico mundial. Resultado? A URSS venceu o pré-olímpico e, em Seul/1988, não perdeu para ninguém. Serve para os que gostam de história e, até, para os supersticiosos...

Sim, o vôlei das russas está mal. Mas, não, elas não são peso morto. Em Londres, como sempre acontece, darão trabalho e lutarão pelo título. Ninguém pense nada diferente.

(foto: FIVB.org)

Não à toa, é da Turquia




Se o boxe amador turco se aproveitou do fato de lutar em casa no pré-olímpico, o vôlei feminino da Turquia não deixou por menos. Bateu todo mundo em Ankara, jogou a Rússia no qualificatório mundial do Japão e garantiu vaga, neste domingo, para os Jogos Olímpicos de Londres.

É claro que resumir a conquista ao fator caseiro é muito simplista, porque, nos últimos anos, o vôlei turco tem importado técnicos e jogadoras de primeira linha e mostrou que aprendeu muito com esse pessoal. Não é à toa que José Roberto Guimarães treina o Fenehbarçe, não é à toa que ele conta, no time, com jogadoras como a Logan Tom, Sokolova, Fabiana e Yeon-Kung Kim. Não é à toa que os dois últimos campeões europeus de clube, no vôlei feminino, Vakif, ano passado, e Fenehbarçe, este ano, são turcos. Aliás, o técnico da seleção turca é o brasileiro Marco Aurélio Motta, sucedido na seleção canarinho em 2003, por Zé Roberto.

É por essas e por jogadoras como Darnel Neslihan, Eda Erdem e Neriman Oszoy que as turcas estarão nas Olimpíadas. Pode até ser supresa, mas não é à toa.

(foto: CEV.lu)