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domingo, 2 de janeiro de 2011

Esticar, melhorar, desobedecer

Este ano, faz duas décadas que a Fifa começou a promover a Copa do Mundo feminina de Futebol. Com efeito, faz 15 anos que a modalidade se tornou olímpica. Com duas datas significativas, é hora de avaliar a modalidade sob o ponto de vista do espetáculo.

De antemão, objetivamente, comparemos a altura das goleiras e dos goleiros e pensemos que a altura da meta não muda. Enquanto a alemã Angerer tem 1,74m, o espanhol Casillas, o melhor da última Copa do Mundo passada, tem 1,85m (e olhe que ele não é considerado alto para a posição). Mas Angerer tem dois motivos para não ficar triste com isso: primeiro, porque as norte-americanas Hope Solo e Briana Scurry têm apenas um centímetro a mais que ela, e Bárbara, titular do Brasil a partir do terceiro jogo da campanha de Pequim, tem 1,70m; segundo, porque, mesmo com essa estatura, ela não sofreu um único gol na campanha vitoriosa do mundial de 2007.

De qualquer forma, se é difícil encontrar jogadoras mais altas – já que estas acabam optando pelo Basquete, pelo Vôlei ou pelo Handebol –, a dispendiosa solução para melhorar o espetáculo seria diminuir a altura e a largura do gol, como o Vôlei faz com a altura da rede. Mas isso, convenhamos, não vai acontecer nunca (e vai haver quem lembre que a Fiba não diminui a altura do aro e da tabela para as basqueteiras).

Contudo, se é caro adaptar as balizas do mundo inteiro para as meninas, não seria exorbitante exigir da Fifa que escalasse árbitras, pelo menos, razoáveis nas competições vitais do esporte – Copa do Mundo e Olimpíadas. É impressionante como a arbitragem feminina não gosta de aplicar o cartão vermelho. Não fosse assim, num exemplo aleatório, Marta teria sido expulsa na semifinal de Pequim, contra a Alemanha.

Aliás, em toda a história olímpica do Futebol Feminino, só houve três jogadoras expulsas de campo, e todas em Atlanta/1996. Ou seja, a partir de Sydney/2000, nenhuma árbitra exibiu, sequer, um cartão vermelho. Fair Play?

Por fim, para melhorar a competitividade do jogo (subjetivamente falando), peço encarecidamente às jogadoras menos obediência tática. Finzinho de jogo, time perdendo por um a zero: é hora de pressão absoluta, de colocar zagueira alta jogando de centroavante, de atacar com as duas laterais e as cabeças-de-área? Não.

O gostoso de ver uma partida de futebol é que, do nada, aos 44 do segundo tempo, um gol no abafa destrói uma retranca bem feitinha, um bombão pra área desvia na cabeça de alguém e morre no fundo do gol. Mas isso raríssimas vezes pude ver no Futebol Feminino. Raras, mesmo – lembro, por assim dizer, a Suécia pressionando, brutalmente e sem sucesso, a Alemanha nos últimos minutos da final de 2003.

Nesses 15 anos de Olimpíadas e 20 de Copa do Mundo, dá para ver que a modalidade cresceu bastante, em número e qualidade de atletas e de clubes. E para que continue se expandindo e atraindo mais público, creio ser premente encontrar goleiras altas, investir na arbitragem (até, se for o caso, escalando árbitrOs de Copa do Mundo, para as partidas mais importantes) e, especialmente, desobedecer o treinador, colocando em campo mais coração do que mente – que, no fim, é a graça desse jogo que os bretões inventaram.

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