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domingo, 16 de janeiro de 2011

Segredo islandês

Resolvi, sem mas ou mais, implicar com a Islândia. Não preciso esconder que a razão é a vitória islandesa sobre o Brasil, pelo Mundial masculino de Handebol. Registre-se em ata que foi uma vitória folgada, esperada e – que tristeza! – obrigatória. A Islândia vencer o Brasil no Handebol é obrigação. Não deveria ser.

Brasil e Islândia se enfrentaram na estreia das Olimpíadas de Barcelona/1992. Era a primeira participação brasileira, enquanto os islandeses haviam disputado os dois Jogos anteriores, sem jamais haver passado da primeira fase. O time brasileiro, por sua vez, só estava ali porque Cuba desistira de mandar seu handebol à Barcelona (herdamos vaga cubana, também, em 1996).

O resultado do jogo? Um suado 19 a 18 em favor dos europeus. Aliás, naqueles Jogos, eles perderam a disputa pelo bronze contra a França, enquanto os brasileiros voltaram para casa sem um único ponto na bagagem.

Há dezoito anos, a distância do handebol islandês para o brasileiro começou com um gol e terminou com um sendo semifinalista e o outro, lanterna. Isso era um prenúncio de que os islandeses estavam em franca ascendência e que o céu seria o limite? Não.

Danado é que, depois disso, os ilhéus passaram longe do pódio nas competições que disputaram, ficaram fora dos Jogos de Atlanta e Sydney e nunca chegaram nem perto de uma boa campanha em mundiais, nem no que sediaram, em 1995.

Com boa vontade, dava para dizer que, nesse tempo, o handebol dos dois países estaria num nível parecido, já que o Brasil teve participação (discreta) em todos os mundiais de 1995 para cá e em todas as Olimpíadas – exceto, a de 2000.

Estaria, até vir o grande salto. O salto nórdico.

De 2008 para cá, a Islândia passou misteriosamente a figurar entre os grandes. Foi prata em Pequim, conquistou o bronze no Europeu do ano passado e chegou ao Mundial da Suécia sabendo que bateria o Brasil.

Aí, alguém pode dizer que a Islândia está nesse nível porque o esporte lá tem um tratamento diferenciado. Pode até ter, mas não o de alto rendimento. Até hoje, o país só conquistou quatro medalhas olímpicas – uma prata e um bronze no atletismo, um bronze no judô e a prata no handebol – e nunca, sequer, em olimpíadas consecutivas. Antes que alguém pergunte, Jogos de Inverno nunca viram um islandês no pódio, embora não haja islandês que não tenha neve no quintal o ano quase todo.

Não é pela tradição esportiva que a Islândia vence o Brasil no Handebol. E também não é, com certeza, porque a geografia o determine.

Fosse um estado brasileiro, a Islândia seria o 19º estado em extensão territorial e o último em população. Donde se conclui que, por mais “País do Futebol” que seja o Brasil, deveria haver, no mínimo, tanto espaço para o Handebol aqui quanto na ilha nórdica. Espaço e material humano.

Então, a resposta deveria estar no próprio Handebol. Os islandeses têm um handebol forte, há um bom número de times no país e que jogam muitas partidas por ano, né? Não.

Se, no Brasil, a Liga Nacional dura cinco meses e, na primeira fase, cada time disputa 14 partidas, o campeonato nacional deles dura oito meses, mas o número de jogos nem é tão grande assim – apenas 21 na fase inicial. Isso quer dizer, por exemplo, que um jogador brasileiro que dispute o Campeonato Paulista (único estadual decente no Brasil e que deveria ser o bastante para superar, pelo menos, o handebol de lá) e a Liga Nacional tem mais jogos por seu clube do que um jogador islandês.

E antes, mesmo, que alguém diga, “então, os clubes islandeses disputam muitos torneios continentais”, digo o contrário. Nenhum clube do país participa de nenhuma das quatro competições continentais no masculino – Liga dos Campeões, Copa da Europa, Copa dos Campeões ou Challenge Cup.

Então, o motivo de a Islândia já entrar em quadra ganhando do Brasil por um a zero está nos jogadores. Nenhum deles joga em clubes do próprio país. Eles se dividem entre times alemães e dinamarqueses – só o goleiro Gustavsson joga num time suíço.

Se isso revela o segredo do sucesso islandês, suscita outra dúvida: se os clubes são fracos, como os atletas têm chance de aparecer no cenário internacional? Se a resposta for que é por causa da seleção, o círculo volta ao quinto parágrafo, digo que a seleção nacional não tinha grande representatividade até dois anos atrás, e que não há uma explicação sensata para o sucesso internacional do time nórdico.

Descubro que minha implicância foi em vão. Tenho muitas perguntas e nenhuma resposta. O fato é que, da próxima vez que a Islândia cruzar o caminho do Handebol Brasileiro, tenho certeza de que é azar nosso e de que a derrota é certa. Incerto, inexpugnável, insuspeito, ainda, continuará sendo o motivo.

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