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domingo, 19 de fevereiro de 2012

O basquete do economista e o espírito do capitalismo




De duas semanas pra cá, o nome do esporte americano (mundial também?) é o de Jeremy Lin. O cara não chega a ser exatamente um novato, já que o site da NBA informa que, na temporada passada, ele disputou 29 jogos pelo Golden State Warriors, com uma média tímida de 2,6 pontos por partida e 1,4 de assistências. Nada extraordinário. A novidade em si é o basquete que ele tem apresentado em seu novo time, o New York Knicks.

Neste ano, ou melhor, nas últimas oito partidas, o armador assumiu a titularidade do time e, com uma média (quase inimaginável, para alguém nessa posição) de 24,6 pontos por jogo, ele levou a equipe a sete vitórias consecutivas – sequência só interrompida anteontem, pelo New Orleans Hornets. Sorte dos Knicks, que capengavam e, agora, acreditam na classificação pros play-offs? Sim. Mas sorte, sobretudo, da NBA.

Depois de uma greve que cancelou 16 rodadas e no meio de uma crise que atinge frontalmente o capitalismo global, a NBA encontrou em Jeremy Lin a salvação. A história dele rende espaço na mídia, rende assunto nas redes sociais da internet, vende camisas, vende ingressos, vende propagandas e vende, até, o ideal do sonho americano. Vejam se não vende?

“Economista formado em Harvard (faculdade que é o sonho de consumo de personagens dos filmes ianques) e filho de imigrantes taiwaneses (“América, Terra da Oportunidade”? É isso?), Jeremy Lin, depois de um ano sem muito brilho num time pequeno, foi para os Knicks, da gigantes New York. Quando a temporada parecia perdida para a franquia, ele se torna titular e muda a história do time no campeonato”.

Acrescentem aí umas cenas de estigma em Harvard, por ele jogar basquete, algum trote pesado em Golden State, por ele ser um nerd, uns olhares de desconfiança em Nova Iorque, por ninguém nunca ter ouvido falar nele, uma cena tocante em que ele, num treino, convence o coach de que merece uma chance no time e está pronto! O filme vai ser um sucesso e o roteiro vai concorrer ao Oscar (ou, pelo menos, vai passar na Sessão da Tarde).

Duvido que, mesmo em Harvard, o agora economista Jeremy Lin suspeitasse que fosse ser um soldado tão bom do capitalismo. Ele trouxe fôlego novo ao show do basquete, mesmo em tempos de crise, e garantiu que a NBA, mesmo depois de uma paralisação, continue sendo relevante (em termos comerciais, que fique claro, pois esphttp://www.blogger.com/img/blank.gifortivamente a liga sempre teve e continuará tendo importância).

E se o jogo dele cair? E se os Knicks não chegarem aos play-offs? E se, no ano que vem, ele voltar ao ostracismo da reserva e, depois, aparecer num escritório qualquer, prestando consultoria a alguma multinacional? Não tem problema: a NBA, os Knicks e os torcedores procuram outro pra seu lugar.

Porque o capitalismo é assim mesmo, o espírito é esse. O consumo precisa de uma boa história pra vender (o capitalismo pariu a publicidade) e Jeremy Lin é a história da vez.

Obs.: a pauta dessa crônica me veio nesse texto do blog Bala Na Cesta, da UOL, de Fábio Balassiano.

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