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terça-feira, 29 de maio de 2012

Pela cara?


(foto: ITTF.com)

A Seleção Brasileira feminina de tênis de mesa terá, em Londres, uma chinesa naturalizada. Gui Lin tem 18 anos de idade e mora no país desde os 12. Curioso é que a convocação dela deixou Jéssica Yamada fora do time e dos Jogos, mesmo depois de ela haver competido, inclusive, no mundial por equipes deste ano, em Dortmund. Lin se junta à veterana Lígia Silva, que vai para a terceira olímpiada, e Caroline Kumahara.

Não vou criticar tecnicamente a decisão. Também não vou aludir o ranking mundial pra dizer se a decisão foi correta, já que as duas estão muito próximas nessa classificação - de acordo com o site da Federação Internacional de Tênis de Mesa, Jéssica é a 247ª do mundo, enquanto Gui Lin, a 258ª, ou seja, posições bastante parecidas. Não posso é deixar de refletir sobre duas questões.

1) Teria Jéssica Yamada sido preterida por ser Gui Lin uma chinesa? Espero que não. Porque esse pensamento determinista é tão ingênuo (e preconceituoso) quanto o de quem acha que todo brasileiro é apaixonado por futebol e pela seleção, de que todo nordestino sabe dançar forró ou mesmo que, como no ensinamento execrável e ultrapassado de Cesare Lombroso, criminoso tem cara de mau. Que a escolha da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa tenha sido por Gui Lin, e não, "pela chinesa".

2) Qual o ganho da naturalização de atletas pro esporte brasileiro? Além do tênis de mesa, o basquete masculino vai contar com um estrageiro no elenco, o armador norte-americano Larry Taylor. E é claro, também, que não são os primeiros naturalizados defendendo as cores do país numa edição olímpica. Foi assim com três argentinos de nascimento, o basqueteiro dos anos 1960 Antonio Succar, o tenista Fernando Meligeni e canoísta Sebastián Cuattrin, foi assim com a pentatleta norte-americana Samantha Harvey, foi assim com o soviético da Bielorrúsia Victor Mirshauswka, que defendeu o basquete brasileiro na medalha de bronze em Tóquio/1964. Nada que sugira, como se vê, que o esporte nacional esteja contratando atletas estrangeiros (como algumas federações nacionais fazem) ou que haja uma campanha de importação de desportistas em massa. Nada disso. Também é diferente do caso do ginete Rodrigo Pessoa, que nasceu em Paris, mas, sendo filho do brasileiro Nelson Pessoa, é cidadão brasileiro.

O que me dá medo é que, um dia, algum gênio de cartola perceba que é mais rápido e barato naturalizar campeões em potencial do que formar atletas brasileiros. E aí, sim, o esporte brasileiro passe a correr o risco de ser um fim em si mesmo, com o resultado - a medalha - sendo mais importante do que a popularização e massificação da prática esportiva, e que as categorias de base e o esporte escolar percam ainda mais o pouco da importância que têm por aqui.

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