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domingo, 29 de abril de 2012

Pode correr



O velocista britânico Dwain Chambers está apto a disputar uma vaga nos Jogos Olímpicos de Londres. Pelo menos, é o que determina a decisão da Corte Arbitral do Esporte (CAS). Ela contrariou a Associação Olímpica Britânica (BOA, na sigla em inglês), que o havia banido por envolvimento no escândalo de doping da Balco, em 2003. O julgamento começou no mês passado e sentença foi divulgada hoje.

Chambers foi medalhista de bronze nos 60m rasos, no Mundial indoor de Atletismo de Istambul, mês passado. Sua única participação olímpica foi em Sydney/2000, quando foi quarto colocado nos 100m rasos. Desde que voltou a competir, em 2006, o corredor só conseguiu uma única vez uma marca abaixo dos 10s nessa prova. Por outro lado, desde 2008, ele sempre termina a temporada como britânico mais rápido do ano.

Em março, o presidente da comissão organizadora dos Jogos de Londres, Sebastian Coe, se pronunciou favorável ao banimento do atleta. Mesmo que contrarie a lógica dos últimos anos e Dwain Chambers não consiga vaga no time britânico, a decisão cria jurisprudência para derrubar a resolução da BOA, que bane do esporte quem tiver suspensão igual ou superior a dois anos por uso de doping.

(foto: iaaf.org)

sábado, 28 de abril de 2012

Os 17 com ele


(foto: fivb.org)

É claro que a convocação de Ricardinho pra disputa da Liga Mundial deste ano monopolizou o noticiário do vôlei neste fim de semana. Até o blog de Bruno Voloch reconheceu. O cara não joga pela Seleção Brasileira desde a Liga Mundial de 2007, quando, aliás, foi até escolhido o melhor jogador do campeonato, e não é pra menos o alvoroço causado pelo retorno dele. Ele é um dos melhores levantadores da história (talvez, o melhor) e sua ausência pode ter sido um dos fatores que levaram o Brasil a não trazer o ouro de Pequim (enfatizo, um dos fatores, um dos!). Todas as explicações sobre o corte dele pro Pan do Rio/2007 me soam estranhas e nem vou repeti-las ou especular. Passou - eu acho. Certo é que a lista de Bernardinho teve muito mais que o nome agora ex-desafeto.

Lucarelli e Maurício foram ótimas convocações. Estão entre os 18 jogadores da primeira fase da Liga Mundial e, ao que parece, concorrem com João Paulo Bravo pela vaga como quarto ponteiro no time definitivo - somente 14 disputarão a fase final da Liga, na Bulgária. Maurício foi campeão da Liga em 2010, mas atuando como líbero reserva de Mário Júnior. Assim como Bravo, se destaca no passe. Já Lucarelli, se aprender a passar e continuar com a potência que tem no ataque, será titular absoluto da seleção no próximo ciclo olímpico. Pensando no presente, com Dante, Murilo e Giba no elenco, o que, teoricamente, faz com que reste apenas uma vaga na posição, acho que João Paulo Bravo e Maurício têm mais chances do que Lucarelli, com pequena vantagem para Bravo, pois tem sido convocado regularmente. Contudo, o exemplo de Marlon, que revezava a titularidade do time com Bruno, deve alertá-lo.

(Convocar Bruno em vez de Marlon tem o mesmo efeito prático do contrário. Os dois têm um estilo parecido, oscilam bastante e não era incomum o reserva terminar uma competição no time principal. No fim das contas, Ricardinho volta mesmo é pra ser titular da seleção.)

Já na saída de rede, a surpresa foi Renan. O cara tem 22 anos e 2,17m e, com Leandro Vissotto, Théo e Wallace, está com o grupo só pela experiência mesmo. Vissotto, que tem sido titular da posição, dificilmente deixará de ser convocado pra fase decisiva da Liga e pras Olimpíadas. Se Bernardinho optar por três opostos, sem problemas, Théo e Wallace (que é o do Cruzeiro, não o do Sesi) estão dentro. Mas, se apenas dois jogadores da posição forem convocados, acho que o cruzeirense tem vantagem, embora Théo tenha sido convocado mais vezes e até tenha sido campeão mundial na Itália/2010.

Serginho e Mário Jr. como líberos era o esperado. Assim como, no meio-de-rede, a não convocação de Gustavo, com Éder, Lucão e Sidão no elenco. Até aqui, uma convocação indiscutível.

O único senão na lista é Rodrigão. Certo, ele foi, pra mim, o melhor jogador da seleção no Mundial da Italia há dois anos, tem uma história longa e vitoriosa no time etc., etc. Mas não vem jogando mais nada. Aliás, esse ano, passou mais tempo na reserva do Sesi do que em quadra. Repito, é o único senão.

Se a seleção não tem mais o favoritismo destacado que teve nos últimos anos, ao menos tem time pra disputar, de igual pra igual, com qualquer um. Conquistar o deca da Liga Mundial e o tri olímpico não são obrigação. Mas elenco para lutar por esses títulos, ao que indica a convocação de ontem, a seleção tem.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Youtube olímpico VII

Em homenagem ao Dia do Goleiro, um momento histórico para um guarda-metas brasileiro numa Olimpíada. O momento maior, talvez.

Seul, 1988. Naqueles Jogos, assim como em Los Angeles/1984, não havia limite de idade para inscrever um jogador no torneio olímpico de futebol. Essa restrição de seleções sub-23, inchertadas por até três atletas de qualquer idade, só começou a valer em 1992. Em 1984 e 1988, a única restrição era que o jogador jamais houvesse disputado uma Copa do Mundo.

A Seleção Brasileira fazia uma campanha irretocável na Ásia. Sob comando técnico de Carlos Alberto Silva, o time de Romário, Bebeto, Neto, Jorginho, Valdo, André Cruz e Geovani venceu todos os jogos da primeira fase (4-0 Nigéria, 3-0 Austrália e 2-1 Iugoslávia). Nas quartas, a vítima foi a rival eterna Argentina, num suado 1-0, gol de Geovani lá de longe. Parêntese: depois dessa derrota para o Brasil, nunca mais a Argentina competiu no futebol olímpico sem chegar à decisão do torneio - não foi a Barcelona/92 nem a Sydney/2000, foi prata em Atlanta/1996 e ouro em Atenas/2004 e Pequim/2008. Nas semis, Brasil vs Alemanha. Alemanha Ocidental.

Nos tempos do (pseudo-)amadorismo, a Alemanha do lado leste do muro tinha muita tradição olímpica, com quatro medalhas e um título em Montreal/1976. Mas, nas Copas do Mundo, nada. Já os alemães capitalistas, ao contrário, tinham tradição de apanhar nos campeonatos do COI, mas, vira e mexe, sempre estavam (e estão) entre os quatro melhores dos mundiais da Fifa. Contudo, os germano-ocidentais desses Jogos eram diferentes: como pregava o regulamento, eram profissionais virgens de Copa, mas bons de bola, como Juergen Klismann, que seria campeão mundial na Itália, dois anos depois - daquele time, além de Klinsmann, Thomas Haessler, Frank Mill e Karlheinz Riedle também venceram a Copa de 1990.

A campanha alemã em Seul era bastante tranquila. Na fase inicial, 3-0 sobre a China e 4-1 na Tunísia, com uma derrota muito a contento diante da Suécia, por 2-1. Derrota boa (que é o outro nome para resultado arranjado) porque colocou os germânicos diante de Zâmbia no mata-mata. Zâmbia, que assombrara o mundo fazendo 4-0 na Itália, recebeu o placar de volta nas quartas e voltou pra casa. E a Alemanha Ocidental estava nas semifinais olímpicas, pela primeira vez.

O jogo entre Brasil e Alemanha foi dominado amplamente pelos europeus no tempo normal. Depois de um injusto 0-0 no primeiro tempo, Holger Fach inaugura o marcador aos 5 minutos da segunda etapa, graças à falha da linha burra brasileira. Só aí é que o Brasil acordou em campo e chegou ao empate aos 34, com um gol do Romário (prenúncio de que, em semifinal, o baixinho faz gol de cabeça). Mas, um minuto e meio depois, Klinsmann sofre um pênalti que vai mudar a história do jogo.

O zagueirão Wolfgang Funkel cobrou rasteiro, no canto esquerdo, e foi a vez do herói brasileiro naquele dia aparecer. Taffarel fez a defesa em dois tempos, não deu rebote e levou o jogo para a prorrogação. Diga-se, de passagem, que ele já havia feito ótimas defesas durante a partida e era somente graças a ele que a vitória não foi alemã já no primeiro tempo.

Na prorrogação, os dois times cansaram, mas destaca-se uma arrancada de Romário que quase parou dentro do gol. E foi só. Pênaltis. Um momento histórico, de verdade.

Taffarel abriu os trabalhos defendendo a cobrança de Janssen, ao que João Paulo converteu seu chute e fez Brasil 1-0. Aí, Klinsmann deslocou o goleiro e acertou a trave, enquanto Luis Carlos Winck (se lembra dele?) quase não tomou distância pra dobrar a vantagem da seleção canarinho. Kleppinger e Romário deixaram o marcador em 3-1, e bastava ao Brasil um gol ou uma defesa para ir à final. Fach fez. E André Cruz, famoso por suas cobranças de falta, não. Brasil 3-2. Perigo? Tudo certo. O dia era de Taffarel e ele espalmou pra longe o chute de Wuttke e as chances alemãs. Brasil na final. Taffarel? Três pênaltis defendidos, o herói do dia. E, um dia, se converteria num herói das decisões por pênaltis também em Copas do Mundo.

Quatro dias depois, o Brasil seria derrotado pela União Soviética por 2-1 e ficaria com a prata. Na luta pelo bronze, os alemães passariam por cima do time italiano com um 3-0.

O mais curioso de tudo é que, depois desse 27 de setembro de 1988, nunca mais uma seleção masculina alemã foi derrotada numa decisão por pênaltis. Falo em Copas do Mundo, Mundiais sub-17 e sub-20, campeonatos europeus (adultos ou de jovens). Histórico o feito de Taffarel ou não? E também nunca mais o futebol masculino alemão conseguiu chegar, de novo, aos Jogos Olímpicos.

Por tudo disso, em homenagem ao Dia do Goleiro, é que vale a pena ver essa meia hora de vídeo, com narração alemã, do compacto da partida. Uma das grande partidas de futebol nos Jogos Olímpicos.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Começa por aqui




A saga brasileira nos Jogos Olímpicos de Londres/2012 começa no dia 25, antevéspera da cerimônia de abertura, quando as meninas do futebol entrarem em campo contra Camarões. A partida será no Millennium Stadium, em Cardiff, um dos estádios mais bonitos do mundo, que já foi sede, inclusive, da Copa do Mundo de Rugby de 1999. No dia seguinte, no mesmo gramado, o time masculino enfrenta o Egito.

Quis o sorteio que o País de Gales fosse a porta de entrada para a delegação do Brasil nas Olimpíadas do Reino Unido. Quis o sorteio, também, que a seleção feminina, cambaleante como está, ficasse num grupo relativamente fácil, em que pudesse enfrentar a Grã Bretanha, mas também Nova Zelândia e Camarões.

O sorteio ainda determinou que o time de Mano Menezes também ficasse numa chave tranquila e com boas possibilidades de pegar um adversário mediano nas quartas-de-final, pois, se terminar mesmo em primeiro lugar, joga contra o segundo colocado do grupo da Espanha - que deve ser, convenhamos, Honduras, Japão ou Marrocos.

O primeiro evento olímpico de verdade foi hoje. E o Brasil começou, ao que parece, com sorte.

Futebol - Torneio masculino
Grupo A
Grã Bretanha
Senegal
Emirados Árabes
Uruguai

Grupo B
México
Coreia do Sul
Gabão
Suíça

Grupo C
Brasil
Egito
Bielorrúsia
Nova Zelândia

Grupo D
Espanha
Honduras
Japão
Marrocos

Futebol - Torneio feminino
Grupo E
Grã Bretanha
Nova Zelândia
Camarões
Brasil

Grupo F
Japão
Suécia
Africa do Sul
Canadá

Grupo G
EUA
França
Colômbia
Coreia do Norte

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Luvas de casa



No mundial masculino de boxe amador do ano passado, em Baku, que distribuía entre seis e dez vagas olímpicas para cada uma das 11 categorias de peso, os turcos não conseguiram nada. Zero vaga. Mas, aí, no pré-olímpico europeu, que terminou no último sábado, a reviravolta. Enquanto França e Grã Bretanha conquistaram duas vagas cada uma, e Rússia, Itália e Alemanha só aumentaram em um o número de seus atletas no ringue londrino, a Turquia carimbou logo seis passaportes. O pré-olímpico foi em Trabzon, na Turquia, e isso pode explicar essa enxurrada turca no torneio continental. E traz, por que não?, boas perspectivas para o córner brasileiro também.

O pré-olímpico das Américas é entre 4 e 13 de maio, no Rio de Janeiro. O Brasil já tem três vagas asseguradas (todas muito bem conquistadas no mundial) e deve conseguir mais algumas. Talvez, até, supere o número de seis lutadores numa Olimpíada, recorde nacional estabelecido em Helsinque/1952 e igualado em Atlanta/1996, Sydney/2000 e Pequim/2008. Não só porque Cuba, o bicho papão, já tenha sete classificados e só possa pleitear mais quatro vagas, mas porque lutar em casa propicia esses milagres. Por quê?

Não sei. Sei, porém, é que o santo caseiro dos ringues, que esteve na Turquia semana passada, já deu um título pan-americano ao brasileiro Pedro Lima, no Rio/2007, na categoria meio-médio ligeiro, mas ele, sequer, conseguiu representar o país em Pequim. Se o pré-olímpico tivesse sido aqui, e não, no Caribe...

domingo, 22 de abril de 2012

Tudo se explica



A quarta e penúltima etapa da Copa do Mundo de Pentatlo Moderno, em Rostov, Rússia, mostrou, mais uma vez, que o equilíbrio no feminino é muito grande. Ou, então, que tem gente escondendo o jogo. Ou, ainda, que a competição tem servido apenas como treinamento para o Mundial de Roma e, principalmente, para as Olimpíadas de Londres - hipótese que complementa a anterior. Ou que, como só os três melhores resultados é que contam na classificação para a final da Copa do Mundo, que é o quinto torneio, daqui a um mês, em Chengdu, quem estava satisfeita com os pontos no ranking foi passando a vez - é o que pode ter acontecido, por exemplo, a Lena Schoneborn, Elodie Clouvel e Amélie Cazé, vencedoras das etapas anteriores, ausentes na Rússia.

Se a hipótese válida for a do equilíbrio, registre-se em ata que as 12 medalhas disputadas nessas etapas foram para 11 mulheres. Sim, só uma delas subiu duas vezes no pódio. A bielorrussa Anastasyia Prokopenko, autora da façanha, ainda corre atrás de pontos no ranking para assegurar um lugar na disputa em Londres. Deve ser por isso que não se importou de pendurar, no sábado, uma medalha de ouro no pescoço, depois de ter sido premiada em Charlotte com um bronze - ou, então, ela faltou à reunião em que decidiram que ninguém levaria duas medalhas da Copa pra casa.

Compare o pódio de Rostov com o das outras etapas da Copa do Mundo:

Charlotte (EUA) - 1ª etapa
1 - Lena Schoneborn (Alemanha)
2 - Mhairi Spence (Grã Bretanha)
3 - Anastasyia Prokopenko (Bielorrússia)

Rio de Janeiro (BRasil) - 2ª etapa
1 - Elodie Clouvel (França)
2 - Ekaterina Khuraskina (Rússia)
3 - Chloe Esposito (Austrália)

Szazhalombatta (Hungria) - 3ª etapa
1 - Amélie Cazé (França)
2 - Donata Rimsaite (Rússia)
3 - Laura Asadauskaite (Lituânia)

Rostov (Rússia) - 4ª etapa
1 - Anastasyia Prokopenko (Bielorrússia)
2 - Victoria Tereshuk (Ucrânia)
3 - Samantha Murray )Grã Bretanha)

Yane Marques repetiu o quinto lugar conquistado no Rio de Janeiro e segue firme para melhorar, em Londres, o 18º lugar de Pequim. Priscila Oliveira, que pleiteava vaga olímpica também, teve uma participação fraca no torneio. Ela ficou em último lugar em sua bateria classificatória e está quase fora dos Jogos.

(foto: facebook.com/modpen)

sábado, 21 de abril de 2012

Entre bandeiras




O Kosovo ganhou um aliado importante para ter seu pavilhão desfraudado nos Jogos Olímpicos. Ontem, a federação de judô do país foi aceita como membro da federação internacional do esporte. Na prática, isso significa mais pressão sobre o Comitê Olímpico Internacional, que ainda não acolheu os kosovares pela falta de um comitê no país. O Kosovo se declarou independente da Sérvia em 2008, mas também ainda não integra a ONU e tem seu território reivindicado pelos sérvios.

Se o Kosovo não for reconhecido pelo olimpismo como estado independente ou membro, é possível que os atletas de lá participem dos Jogos sob uma bandeira olímpica ou, ainda, como parte da delegação da Albânia, já que a maior parte da população local tem ascedência albanesa.

Em miúdos, pelo desenho atual, se Majlinda Kelmendi, quinta colocada no ranking mundial até 52 Kg, conquistar uma medalha em Londres, a bandeira hasteada poderá ser a albanesa (como até já aconteceu em etapas da Copa do Mundo) ou a do COI. O pavilhão de seu país, por enquanto, ainda não pode tremular no território olímpico. Por enquanto.

(foto: IJF.org)

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Youtube Olímpico VI

Faltam 100 dias para os Jogos de Londres. Não exatamente 100 dias para o início, já que o futebol começa em 25 de julho, com a rodada inaugural do campeonato das mulheres. Mas são, sim, 100 dias para a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos, o maior show da Terra, desfile das escolas de samba que me perdoe.

De hoje a 100 dias, Londres se tornará, oficialmente e na era atual, a mais olímpica das cidades do Globo Terrestre, pois será a primeira a receber o evento pela terceira vez. A primeira olimpíada londrina, em 1908, dizem ter sido a última da trinca lamentável que sucedeu aos Jogos de Atenas/1896. Assim como Paris/1900 e Saint Louis/1904, Londres/1908 foi uma edição demais desorganizada dos Jogos. Edição, contudo, que acabou imortalizada numa das provas-mãe do olimpismo: a Maratona disputada naquelas olimpíadas foi a primeira da historia com a distância de 42.195m.

Já quando Londres recebeu os Jogos pela segunda vez, em 1948, o mundo e a Europa ainda juntavam os tijolos. O movimento olímpico ressurgia de muitas cinzas, depois de 12 anos de intervalo. Muita coisa foi improvisada, os recursos eram compreensivelmente parcos, mas os Jogos Olímpicos ocorreram. E, nem pela Guerra Fria, nem pelos boicotes, nem por manifestações políticas, nunca mais uma edição das Olimpíadas deixou de ocorrer.

O vídeo abaixo é um trecho do Filme Oficial das Olimpíadas de Londres/1948 que mostra o desfile das nações na Abertura dos Jogos. O rigor quase militar da marcha dos atletas e o corte impecável de seus trajes não escondem o triunfo da humanidade sobre a barbárie. Depois de seis anos afundado na II Guerra, o mundo voltava a pleitar ideais, ainda que esportivos, ainda que muito houvesse por ser reconstruído, ainda que EUA e URSS quisessem dividi-lo ao meio; depois de seis anos em batalha constante, os homens (e as mulheres) voltavam a disputar medalhas, e não terras, e a se dizer rivais, e não, inimigos. Pelo menos, durante as Olímpíadas. Pelo menos, nas Olimpíadas.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Em Brasília, hora de aquecer



Começou a temporada internacional do vôlei de praia. Em Brasília, sede da primeira etapa do circuito mundial, foram disputadas hoje as duas primeiras rodadas da chave principal feminina. Quatro duplas brasileiras seguem com chances e a final das mulheres será nesta sexta-feira - no masculino, a decisão é no domingo. Invictas, as duplas Juliana/Larissa e Walsh/May cumprem o dever do favoritismo e seguem rumo a uma final aguardada. Há muito tempo aguardada. E não exatamente para o Distrito Federal.

Embora se admita que há boas duplas no circuito, como o time chinês Xue/Zhang Xi e o norte-americano Kessy/Ross, ninguém nega que hoje o confronto mais esperado do vôlei de praia feminino seja entre Juliana/Larissa e Walsh/May.

Quatro anos atrás, quando (diga-se) o favoritismo seria total das americanas, a contusão no joelho de Juliana, semanas antes dos Jogos, tirou qualquer chance de um duelo entre os times em Pequim. Convém dizer que, mesmo que Juliana tivesse disputado aquelas olimpíadas e estivesse bem fisicamente, ainda teria sido muito difícil o título mudar de mãos: Walsh e May atropelaram todo mundo e, assim como em Atenas/2004, penduraram a medalha no pescoço sem perder um único set que fosse.

Em Londres, se tudo ocorrer como esperado, é possível que a decisão dos Jogos Olímpicos tenha o confronto que faltou em 2008. E dessa vez, até pelo título mundial que conquistaram em Roma, ano passado, justamente sobre Walsh e May, é provável que Juliana e Larissa sejam apontadas como favoritas. Mas mesmo com o campeonato mundial no currículo, esse favoritismo vai ser sempre posto em dúvida, já que do outro lado da rede está a única dupla bicampeã olímpica da história.

Ainda faltam pouco mais de três meses para as Olimpíadas. O circuito mundial terá nove etapas até lá, e servem como prévia ou aquecimento. Um bom aquecimento. Como essa, em Brasília.

domingo, 15 de abril de 2012

Última braçada


(foto: AOC.org)

Dono de um dos maiores currículos da história da natação, o anglo-australiano Murray Rose faleceu neste domingo, aos 73 anos, vítima de leucemia. Escocês naturalizado australiano, Rose disputou duas Olimpíadas e subiu ao pódio em todas as seis provas de que participou, sendo campeão em quatro delas.

Em Melbourne/1956, Rose foi o nadador mais premiado dos Jogos. Ele venceu os 400 e 1500m livre, além do Revezamento 4x200m livre, na única prova da modalidade, entre Londres/1948 e Seul/1988, que os EUA saíram derrotados da piscina.

Quatro anos mais tarde, em Roma, Rose se tornou o primeiro bicampeão olímpico dos 400m livre - feito que só seria igualado por Ian Thorpe, 44 anos depois. De lambuja, ainda encerrou a carreira olímpica com uma prata nos 1500 e um bronze no 4x200m livre.

Murray Rose não foi o primeiro campeão olímpico australiano, mas foi, sem dúvida, a primeira grande estrela do país na natação. Se hoje a Austrália tem tradição nas piscinas, se produz campeões e recordistas numa escala só inferior à dos EUA, é muito graças ao que Rose fez meio século atrás.

Pernambuco saltando, marchando e lançando

Por muito pouco, mas, muito pouco mesmo, duas atletas pernambucanas não atingiram p índice olímpico no atletismo. Por outro lado, um outro pernambucano, ainda que longe da marca olímpica, bateu um recorde brasileiro no esporte.

Keila Costa ganhou o salto em distância do GP de Santiago, no Chile, com a marca de 6,63m e ficou a dois centímetros da vaga para Londres. Semana passada, ela conseguiu o índice no salto triplo, mas sua especialidade é, mesmo, o salto em distância, prova na qual disputou os Jogos de Atenas/2004 e foi finalista em Pequim/2008, além de ter conquistado o terceiro lugar no mundial indoor de Doha/2010.

Quem quase carimbou o passaporte para o Reino Unido nesse sábado foi a marchadora Érica Sena. Competindo em Rio Maior, em Portugal, a moça completou a marcha de 20 Km em 1h31min53s, e ficou a 36s da marca exigida pela Condeferação Brasileira de Atletismo (CBAt) para os Jogos.

E pra encerrar o noticiário do atletismo pernambucano desse fim de semana, Wagner Domingos, conhecido como "Montanha", quebrou, na Eslovênia, o próprio recorde nacional no lançamento do martelo, com a distância de 72,48m. Contudo, se pensa em ir a Londres, deverá arremessar a 76,08m.

sábado, 14 de abril de 2012

Vitória francesa, jogo escondido

(foto: sports.fr)


Se no Rio de Janeiro, mês passado, o título ficou com a francesa Elodie Clouvel, na etapa da Copa do Mundo de Pentatlo Moderno de Szazhalombatta, Hungria, o ouro ficou com sua compatriota Amelie Cazé. Cazé já foi campeã mundial três vezes, está com vaga assegurada para Londres e não será surpresa se levar uma medalha pra casa. O resultado (bom, por sinal) deve ser visto com ressalvas. Muitas ressalvas.

Assim como na etapa brasileira, a disputa na Hungria mostrou que as favoritas só pensam, agora, em se poupar. A alemã Lena Schoneborn, atual campeã olímpica, foi 34ª colocada no Rio e sexta em Szazhalombatta (dizem que a competição foi em Budapeste, mas foi, sim, nessa cidade de nome impronunciável). Vice na etapa carioca, a russa Ekaterina Khuraskina foi apenas a 18ª na húngara. Já a ucraniana Victoria Tereshuk, campeã mundial ano passado, desistiu de participar da final no Brasil e nem mesmo apareceu na competição dessa semana - assim como a brasileira Yane Marques. Até as próprias francesas, mesmo revezando as conquistas, claramente se pouparam - Cazé foi só a décima colocada quando Clouvel venceu, e Clouvel terminou em 14º na vitória de Cazé.

Até os Jogos de Londres, ainda faltam duas etapas da Copa do Mundo (Rostov, na Rússia, e Chendu, na China), além do Campeonato Mundial de Roma, entre os dias 7 e 13 de maio. Três chances para as pentatletas mostrarem a que vão aos Jogos. Ou esconderem.

Muito além do nervosismo

(foto: FIVB.org)


Vôlei brasileiro anda tenso. Nem nos tempos áureos em que os brazucas se digladiavam em cima e embaixo da rede com os cubanos a coisa era desse jeito. Esse final de ciclo olímpico tem sido desgastante além da conta e a pressão sobre os protagonistas do esporte por aqui parece insuportável.

Os clubes da Superliga (masculina, principalmente) podem ter sido vítimas do fim previsível da hegemonia da seleção brasileira. Também não se descarte o número excessivo de jogos como razão pra que ninguém fale mais a mesma língua na babel do vôlei nacional. Deve haver uma ou outra razão além dessas (más arbitragens, em alguns casos, são o motivo mais visível pro jogador perder a cabeça), mas o fato é que todo mundo está nervoso.

Senão, recordemos.

Na Copa do Mundo masculina, em novembro do ano passado, num jogo contra a Argentina, Serginho foi defender (?!) Murilo de uma bronca de Bernardinho e fez uma sugestão bastante deselegante ao treinador do time. Anúncio de clima pesado na seleção? Prenúncio de tensão exagerada na Superliga.

Já na Superliga, num jogo ainda no primeiro turno entre Sesi e Cimed, em São Paulo, Murilo e Bruno se desentenderam feio por causa de uma marcação duvidosa da arbitragem. Tão feio, que Murilo entrou na quadra catarinense pra discutir com o levantador a respeito do lance. Não foram só eles que perderam a cabeça.

Lorena, que até parece gostar do confronto direto com torcida e jogadores rivais, também já levou a pior desses momentos dissonantes. No segundo turno, em Florianópolis, o oposto do Vôlei Futuro começou a discutir além da conta com a torcida da Cimed e se perdeu em quadra. E houve, ainda, uma discussão dele no segundo jogo semifinal contra o RJX, no Rio, quando teve de ser contido pelos companheiros pra não avançar em cima de Théo, do time da casa.

O RJX, aliás, foi pivô da confusão mais esdrúxula da temporada. Na noite dessa sexta-feira, no terceiro confronto semifinal contra o Vôlei Futuro, Marlon e Riad tiveram de ser apartados pelo time. Riad foi substituído logo em seguida e quis ir embora do ginásio, mas terminou voltando e assistindo, do banco, à derrota carioca.

No fim das contas, os jogadores depois das brigas dizem que "é do jogo", que "até já fizeram as pazes" e aquele lenga-lenga de sempre.

É preciso observar que os alterados não são jogadores inexpressivos, não foram discussões de Zé Buchudo com Mané Dois Toques. São atletas de seleção (ou selecionáveis, vá lá), que jogam em clubes de investimento pesado, que são paparicados por sites, jornais e TVs. E são só mais um reflexo de que alguma coisa está errada no vôlei brasileiro.

Porque a esse destempero em quadra somam-se os episódios de nazi-racismo em Belo Horizonte e em Rio do Sul (aí, na SL feminina), somam-se os ginásios de goteiras inexplicáveis, somam-se os horários e datas de jogos alterados quase em cima da hora pra satisfazer a televisão, somam-se os atletas que se contundiram devido ao excesso de jogos.

Seja no calendário de competições, seja na direção dos clubes, da seleção, das federações, da confederação, seja lá onde for, há algo de podre na quadra brasileira e isso nem a mídia oficial consegue mais esconder.

Roupa nova

E aí, gostou do layout novo do blog?

O crédito é todo pra João Alberto Burgo, que deu de presente um design novo aqui pro Pontogol. De quebra, o cara colocou, até, uma foto minha lá no cabeçalho - justo eu, que tento não ser só mais um rostinho bonito.

Valeu, xará!

domingo, 8 de abril de 2012

Em Londres por 2020

Em franca campanha para que Doha seja sede das Olimpíadas de 2020, o Qatar anunciou que, pela primeira vez na história, vai mandar uma mulher representando o país nos Jogos. Uma, não, três. A atiradora Bahya Al-Hamad e a corredora Noor Houssain al-Malki e a nadadora Mohammed Wafa Arakji serão as pioneiras. Mais do que para conquistarem medalhas, pois para isso têm poucas chances, as três vão a Londres como cabos eleitorais.

Enviar atletas olímpicas é um recado do comitê local de que, no Qatar, os tempos são outros. Sim, a medida é mais política do que esportiva. Mas é uma medida que muito a contento, principalmente, quando os vizinhos sauditas decidiram, mais uma vez, não inscrever mulheres nos Jogos.

Fechou a conta na quadra. E o Brasil?

Nesta semana, definiram-se as seis vagas olímpicas que restavam no handebol masculino. Quem não conseguiu classificação aos Jogos por não ter sido campeão continental ou mundial, ou não ser a própria Grã Bretanha, teve de se virar num dos três torneios pré-olímpicos. Suécia, Hungria, Croácia, Islândia, Espanha e Sérvia foram agraciadas com o direito de competir em Londres.

Curiosidade: dos quatro semifinalistas em Pequim/2008, só a França, campeã mundial em 2011, já estava assegurada nos Jogos; Islândia, Espanha e Croácia tiveram de ralar um mais um bocadinho. Mas todo mundo passou, sem trauma, sem drama.

E o Brasil?

A Seleção Brasileira jogou o pré-olímpico na Suécia. Mesmo sem vaga e sempre correndo por fora, até que não fez muito feio. Perdeu um jogo equilibrado para Suécia, venceu a Macedônia num jogo apertado, mas amistoso, já que ninguém tinha mais chances, e, poderia ter vencido a Hungria, no sábado, resultado que, junto à hipotética vitória contra os macedônios, teria levado o time brasileiro para Londres. Mas não venceu. Teve chance de empatar e falhou em dois ataques consecutivos, no finzinho do jogo. Ficou fora, depois de estar presente às duas últimas olimpíadas.

Se Manoel Luiz Oliveira tem a chance de ver seu sétimo mandato à frente da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb) coroado com uma boa campanha das meninas em Londres, vai ser, e com razão, criticado pelo marasmo nas categorias de base, nos clubes e na seleção masculina - que, na vera, mesmo, perdeu a vaga pra Argentina, em Guadalajara, ano passado. Estagnado, o handebol brasileiro vê, passivamente, o argentino evoluir e assumir a liderança continental da modalidade. Enquanto a Argentina fez uma campanha brilhante no mundial passado, vencendo Suécia e Eslováquia, e empatando com a Coreia do Sul, o Brasil perdeu, até, do Japão, naquele campeonato.

São sete mandatos de Manoel Oliveira, e o Brasil ainda não é capaz de fazer frente a seleções medianas da europa - como é o caso da Hungria (o jogo com a Macedônia não valia muita coisa, né?). São sete mandatos de Manoel Oliveira, e o Brasil também não foi capaz de suplantar os hermanos na luta pela vaga olímpica. Mas, se as meninas voltarem de Londres com medalha, tudo estará bem, dirão que o "o projeto handebol feminino teve êxito", repetirão que foi o "resultado de um longo trabalho" e outras lengas. Não é assim?

(foto: SEED.gov.br)

Fechou a conta na piscina. E o Brasil?

O pré-olímpico mundial deste fim de semana, no Canadá, definiu as quatro últimas vagas olímpicas do polo aquático masculino. Montenegro, Espanha, Grécia e Romênia vão a Londres. A novidade foi a classificação da Romênia, que não ia a uma olimpiada desde Atlanta/1996.

E o Brasil?

A Seleção Brasileira fez uma primeira fase, como esperada, bem irregular no torneio. Levou uma surra da Espanha, perdeu pra única rival de verdade que tem no esporte, o Canadá, goleou a Argentina e empatou com a Turquia. Ruim, mas normal. E, mesmo assim, nas quartas-de-final, ainda ficou a uma vitória da vaga pra Londres. Simples assim. Se vencesse, carimbava o passaporte. Só que tomou de 19-8 da Romênia.

A distância em relação aos europeus é grande demais. Distância que a eterna gestão de Coaracy Nunes Filho (presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, e não da Confederação Brasileira de Natação, como às vezes parece) não fez nada para diminuir.

O Brasil não manda uma seleção para as Olimpíadas desde Los Angeles/1984. Mas tudo bem. Porque, enquanto Cielo trouxer medalha pra casa, ninguém vai questionar o presidente por causa de outro resultado ruim no polo aquático.

(foto: bestswimming.com.br)

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Em todas. Ou quase

Longe da seleção desde 2008, a levantadora Fofão teve uma temporada sabática. Ou quase. Se não atuou em clube nenhum, não se pode dizer que ficou afastada do vôlei e da mídia.

Primeiro, ela comentou a Liga dos Campeões feminina pelo Bandsports. Depois, foi convidada especial da Globo numa das transmissões da Superliga. E amanhã, ela vai participar de um quadro no Esporte Fantástico, da Record - ao menos, foi o que Virna, aquisição da emissora pra cobertura olímpica, anunciou no twitter.

Ou seja, num tempo em que a TVs se digladiam pelos direitos de transmissão esportiva no país, Fofão tem trânsito livre na telinha. A levantadora está em todas. Mas bem que poderia estar na seleção.

(foto: wikipedia.org)

Rumo aonde?

Começa hoje o pré-olímpico mundial de handebol masculino. O Brasil, castigado por não ter vencido o Pan de Guadalajara, joga contra a Suécia, a Hungria e a Macedônia. Os quatro jogam entre si e os dois melhores vão para Londres. A lógica diz que o time brasileiro volta para casa. Não é?

A Suécia tem tradição no esporte, já ganhou medalha olímpica e joga em casa. É favorita. A briga pela segunda vaga é entre Hungria e Macedônia.

Os húngaros nunca fizeram nada muito extraordinário no esporte. Até que chegaram às semifinais em Atenas/2004, mas ficaram fora da edição de Pequim. Os macedônios, sem Alexandre, o Grande, e sem o restante da ex-Iugoslávia, não contam histórias de grandes feitos, nunca foram a uma olimpíada, nem mesmo disputaram o mundial de 2011.

Isso, é claro, não deve iludir ninguém: o Brasil vai, mesmo, correr por fora nessa briga, porque não tem handebol para encarar time nenhum do segundo escalão do handebol europeu. Se conseguir a classificação olímpica, será uma zebra, não será nada do tipo "isso comprova a evolução do handebol brsaileiro" e coisas assim. Porque o que evoluiu no handebol nacional, esses últimos anos, foi o jogo da seleção feminina e só - não amplio os horizontes dessa constatação, sequer, para o handebol feminino em si.

Hoje, ao meio-dia, o Brasil enfrenta a Suécia. Amanhã, às 08h30, pega a Hungria. E no domingo, às 09h30, joga contra a Macedônia. A ESPN transmite as partidas.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Mau retrato

(foto: CBF)


Admito: fui enganado. Ver a Seleção Brasileira feminina de futebol enfrentar EUA e Japão nesta semana me fez acreditar que alguma coisa, ainda que de muito longe, havia mudado. Nem que fosse a mentalidade da CBF, que sempre tratou a modalidade como produto de fim de feira. Ou, pelo menos, eu achava que os jogos serviriam pra preparar o time pras Olimpíadas. Nada disso.

Os dois jogos sem Marta serviram, apenas, para mostrar o que todo mundo sabia desde sempre: sem Marta, sem chance. As duas goleadas que o Brasil sofreu essa semana fazem crer que esse time, sem sua craque, é bem mais fraco do aquele dos anos 90, que tinha Roseli, Sissi, Pretinha, mas do qual ninguém podia esperar muita coisa, além de uma luta danada e alguns resultados surpreendentes. Do time de hoje, quando a dez não joga, não se pode esperar, nem mesmo, que encare um adversário de gabarito.

Mudou o treinador. Saiu Kleiton Lima, em novembro, e voltou Jorge Barcellos, vice-campeão mundial na China, em 2007, e prata em Pequim/2008. E a defesa continua horrível. Aline sabe fazer gol de cabeça, Daiane tem boa estatura, mas as duas não ganham uma bola cruzada na área. Hoje, eu fico até surpreso que Wambach só tenha conseguido fazer um gol de cabeça nessa defesa aos 17 do segundo tempo da prorrogação, na Copa do Mundo do ano passado.

O meio-de-campo e o ataque são incapazes de segurar uma bola, de trocar passes (mesmo aqueles improdutivos, de lado) de evitar que o time adversário se arme e desça com tudo contra a defesa brasileira. Pedir uma boa jogada, então, é querer demais. Querer que as meias chutem de fora da área, arma mortal no futebol feminino, também é pedir muito. Querer que Cristiane se pareça com a que jogou entre 2004 e 2008, então, nem se fala. Mas ela não é, necessariamente, "a maior culpada" de alguma coisa. Seria injusto dizer isso.

Porque o time inteiro não rende bulhufas, como diz meu pai. Elas esperam que Marta receba uma bola casual ali na frente, saia driblando todo mundo e faça o gol sozinha ou presenteie alguém com um passe na cara do gol. Conclusão terrível: se Marta, por azar, ficar fora de alguma partida decisiva nas Olimpíadas, adeus!

Contudo, se as meninas não estão jogando nada, há de se reconhecer que a CBF tem muita culpa nisso. José Maria Marin não entra em campo, não marca a atacante que fez o gol de cabeça, não tabela com Marta, mas ele, que assumiu a CBF há quase um mês, ainda não se pronunciou sobre a modalidade. Ainda não disse o que espera da seleção, se quer manter esse campeonato mequetrefe que chamam de "Copa do Brasil"; não fala nada sobre categorias de base, não está nem ligando se a seleção foi jogar contra os dois favoritos ao ouro olímpico e só chegou ao Japão 48 horas antes da estreia.

Sim, 48 horas foi o que as meninas tiveram para se acostumarem a trocar o dia pela noite no Japão. Certo, a seleção passou uns dez dias treinando em Boston, mas, por que não foi direto para o Japão? Foi dinheiro o que faltou à CBF?

Esses dois jogos, que se juntam à derrota para o Canadá, no mês passado, mostram que a preparação para os Jogos de Londres vai ser tensa e que, mesmo na Inglaterra, o time vai sofrer muito, quando Marta não jogar ou não estiver muito inspirada. Mas o retrato do descaso da CBF com o futebol das mulheres, pra mim, é o uniforme.

Enquanto o time masculino já enfrentou a Bósnia, mês passado, de roupa nova, sem aquela camisa chinfrim de 2011, é esse uniforme velho, surrado, pavoroso que as brasileiras ainda estão estão usando. Feio como o futebol que jogaram no Japão e como é o tratamento que a CBF lhes dá.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Pode desconfiar




O sérvio Ivan Miljkovic tem 32 anos e ainda está em forma. Para quem duvida, o oposto fez 22 pontos no confronto contra o Brasil, em novembro, na Copa do Mundo, e foi o maior pontuador da peleja vencida pela Sérvia. Caso sua seleção se classifique para Londres, o que não parece ser difícil, ele iria para a quarta olimpíada e tentaria repetir o feito de Sydney/2000, quando ajudou a ainda Iugoslávia a conquistar o ouro. Mas, não. Disse que não quer mais saber da seleção, justamente, quando o ciclo olímpico está acabando.



A russa Eugenia Artamonova vai completar 37 anos em julho e foi, certamente, o grande nome do vôlei russo dos anos 90. Sim, da década retrasada. Não fossem as cubanas, é bem possível que ela tivesse em casa uma medalha de ouro olímpica. Contudo, as três pratas que possui (Barcelona/1992, Sydney/2000 e Atenas/2004) não desmerecem sua carreira. O vice-campeonato em 2004 parecia ter encerrado a história da atacante na seleção, mas eis que ela foi convocada, depois de longa ausência, para os Jogos de Pequim/2008. Ela voltou com penteado diferente e com o sobrenome de casada no uniforme, "Estes", quase como se estivesse disfarçada. A tática não funcionou e a Rússia, campeã mundial em 2006, nem chegou às semifinais olímpicas. Isso tudo para dizer que agora, às vésperas do pré-olímpico europeu, Artamonova-Estes foi pré-convocada para defender a seleção russa, numa lista de 22 nomes - só serão 14 em alguns dias.

Meu palpite?

Miljkovic está cansado, não quer saber de jogar pré-olímpico nem Liga Mundial e volta ao time sérvio quando for pra valer, mesmo, em Londres.

Já Artamonova, se jogar, vai jogar o que jogou em 2008, a Rússia vai se classificar apesar disso, e ela vai assistir aos Jogos de Londres pela TV.

((fotos: FIVB.org)

Celebridade

(foto: facebook.com/pages/Official-Victoria-Pendleton)


Quando se aproxima o início dos Jogos Olímpicos, a gente começa a ler, aqui e ali, notícias sobre esportes e atletas dos quais quase não se ouvirá falar pelos próximos anos. Triste, mas é assim mesmo: esporte, no Brasil, é futebol e o que estiver dando títulos ao país. A exceção é agora e só haverá exceção, de novo, em 2016.

Notícias sobre levantamento de peso, Robert Scheidt, concurso completo de equitação e resultados de um meeting em pista coberta soam comuns nesses dias, nem parece que o não-futebol passou praticamente em segredo nos últimos anos. Nesses tempos pré-olímpicos, o nome estrangeiro de atleta que eu mais recordo ter visto e lido na mídia é o da ciclista britânica Victoria Pendleton. E não é à toa.

Pendleton é uma das grandes esperanças de medalha para o Reino Unido, no esporte que deu mais medalhas ao país em Pequim/2008. O ciclismo rendeu 14 dos 47 pódios do time britânico e oito dos 19 ouros da Terra da Rainha. A própria Victoria colaborou na conta, vencendo a prova feminina de Velocidade.

Hoje, além de duas participações em olimpíadas e um ouro, a mulher acumula oito títulos mundiais, uma inimizade na Austrália, alguns anúncios publicitários e uma polêmica recente. Em suma, ela tem sido notícia.

Dia desses, ela disse, numa entrevista, que não gostava do estilo da rival australiana Anna Meares, campeã olímpica em Atenas/2004 e a quem Victoria venceu em Pequim. Tudo porque Meares, numa competição em Bordeaux, há seis anos, teria feito uma manobra que a levou ao chão. Pelo jeito, o tempo passou, a britânica se tornou gigante no esporte, mas nunca esqueceu o incidente.

Aí, uma companheira de time de Meares, Kaarle McCulloch, escudou a amiga e disse que, na verdade, Pendleton estaria era com medo de perder e, por isso, trazia à tona uma história tão antiga.

Nesse meio-tempo, porém, a mídia já se ocupava de Pendleton por outra razão, já que ela assumiu que namorava um membro da comissão técnica do time britânico de ciclismo, a quem conhecera durante os Jogos de Pequim. Nos bastidores, os outros atletas se queixavam de que o romance atrapalhava a relação do sortudo (sortudo, sim!, olhe de novo a foto dela) com o restante da equipe.

Ruim pra imagem dela? Pois ontem mesmo a Samsung anunciou que ela faz parte de um programa da empresa para promover os Jogos de Londres.

Nesse turbilhão de acusações, ciumeira e campanhas publictária, a agenda da inglesa guardou espaço para competição. Começou hoje o mundial de ciclismo de pista, em Melbourne, Austrália. Na prova de Velocidade por Equipes, as alemãs Kristina Vogel e Miriam Welte ficaram com o título e estabeleceram novo recorde mundial. Mas as atenções dadas à dupla campeã foram divididas com a vitória de Anna Meares (correndo com Kaarle McCulloch) num confronto direto contra Victoria Pendleton (parceira de Jessica Varnish), ainda durante a fase de classificação.

O campeonato mundial termina já neste domingo, porém, o rostinho bonito da moça ligeira ainda continuará sendo notícia depois disso. A imprensa vai repercutir suas declarações, que continuarão sendo polêmicas. As polêmicas serão reacesas a cada resultado na pista ou a cada entrevista das adversárias. E a mídia brasileira falará seu nome com uma proximidade quase familiar, como se ela sempre tivesse sido notícia por essas bandas e como se os internautas e leitores daqui colecionassem tudo o que escrevem sobre Victoria Pendleton. Será assim, poelo menos, até a Olimpíada chegar.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Touché, Sr. Presidente!

Foi a estocada que faltava contra o antigo esgrimista. Pal Schmitt não resistiu à acusação de plágio de sua tese de doutorado e renunciou ao cargo de Presidente da Hungria.

Como atleta, Pal Schmitt foi bicampeão olímpico na Espada por Equipes, na Cidade do México/1968 e Munique/1972. Um ano antes de se aposentar, participou dos Jogos de Montreal/1976 e voltou de lá sem medalhas, com um quarto lugar. Também foi presidente do Comitê Olímpico Húngaro de 1989 a 2010 e da Associação Mundial dos Atletas Olímpicos, entre 2000 e 2007.

Como político, Schmitt é membro do Fidesz, uma legenda de direita. Com a vitória do partido nas eleições de 2010, ele assumiu a presidência. Sua popularidade caiu vertiginosamente quando, em janeiro deste ano, promulgou a nova constituição do país, considerada, pelos EUA e pela Europa Ocidental, um documento que abre brechas para instalação de um governo ditatorial. Nela, por exemplo, o termo "República da Hungria" foi substituído simplesmente por "Hungria". Seus opositores o acusaram de ter sido manipulado pelo primeiro-ministro Viktor Orban, presidente do Fidesz.

Mas foi como acadêmico que o político levou uma golpe certeiro de espada. Sua tese de doutorado, defendida em 1992, foi considerada plágio, o que fez a Universidade Semmelweiss, de Budapeste, lhe retirar a laura de doutor.

Um homem que foi marionete, como presidente, caiu por ter sido trapaceiro, enquanto estudante. Somente sua reputação de atleta parece a salvo, mas até nela a lama desse escândalo respingou. A tese de doutorado plagiada por Pal Schmitt não versava sobre outro tema, senão, a história dos Jogos Olímpicos.

domingo, 1 de abril de 2012

Invictos


(foto: ittf.com)

A China venceu os mundiais masculino e feminino de tênis de mesa por equipes. Melhor do que isso: as duas seleções não foram derrotadas em nenhuma série melhor-de-cinco por nenhuma outra seleção. Mas o time masculino foi melhor: fez 3 a 0 em todas os confrontos e saiu de Dortmund, na Alemanha, sem que ninguém conseguisse bater qualquer um de seus jogadores (o time feminino perdeu uma partida nas semifnais, contra Hong Kong, e por isso o título desta postagem é só "Invictos", e não "Invictos e invictas").

(Explicação rápida: nesse mundial, não há confrontos de duplas, só partidas de simples.)

Será que, em Londres, alguém consegue parar os chineses bons de mesa? Difícil, já que, desde a inclusão do tênis de mesa nas olimpíadas, em Seul/1988, a China só não levou quatro medalhas de ouro em disputa, ficando com os outros 20 ouros possíveis (em Atlanta/1996, Sydney/2000 e Pequim/2008, todos os títulos foram chineses).

Antes que eu esqueça, o Brasil terminou o campeonato em 28º lugar, no masculino, e em 36º, no feminino. Isso quer dizer que os dois times segue, para 2014, no Mundial de Tóquio, na segunda divisão. São cinco as divisões no masculino e quatro no feminino, cada uma contando 24 times.

Já podia valer medalha

Semana de jogaços no futebol feminino. De hoje até quinta-feira, no Japão, o time da casa enfrenta EUA e Brasil e, de quebra, ainda hospeda uma partida entre as duas seleções. São jogos amistosos, é claro, mas podem valer muita coisa, já que, com a Alemanha fora do páreo, é bem possível que as três seleções dividam o pódio olímpico (embora não se descarte uma intromissão da Suécia na distribuição dessas medalhas). O desfalque desses amistosos é Homare Sawa, eleita melhor do mundo em 2011, pela Fifa, ausente por problemas de saúde.

Hoje pela manhã, numa reedição da final da Copa do Mundo do ano passado, EUA e Japão empataram em 1 a 1. Kinga abriu o placar para o Japão no primeiro tempo e Alex Morgan, autora do primeiro gol ianque na decisão do mundial, empatou para as visitantes.

Na terça-feira, às 8h da manhã (horário do Recife), o Brasil pega os EUA, o confronto de maior rivalidade do futebol feminino. E na quinta-feira, às 7h45 da manhã, as brasileiras enfrentam as campeãs mundiais e donas da casa. O Bandsports transmite os dois amistosos ao vivo.

Distância de peso

Com a marca de 18,84m, o catarinense Darlan Romani quebrou ontem, em São Paulo, o recorde brasileiro do arremesso de peso. A marca anterior, 18,78m, pertencia a Ronald Odair de Oliveira e foi estabelecida em agosto do ano passado. O recorde evidencia um nome novo do atletismo nacional, já que Romani tem 20 anos de idade, e também a diferença terrível do arremesso de peso brasileiro em relação aos atletas de ponta.

Um arremesso a 18,84m de distância seria suficiente, apenas, para deixar alguém na 35ª posição entre os 45 que disputaram as eliminatórias nos Jogos de Pequim/2008. Longe, portanto, de ser um dos 12 finalistas, para o que seria necessário um lançamento de, pelo menos, 20,02m. E deve-se registrar, também, que não houve, na final olímpica, nenhum arremesso válido abaixo dos 19,55m. Usei as últimas olimpíadas como parâmetro e poderia ter usado, digamos, o Mundial de Berlim/2009 ou de Daegu/2011, que não mudaria quase nada.

Darlan Romani foi sétimo colocado no Mundial júnior de Moncton/2010 e mostra que tem potencial para evoluir. Duro vai ser fazer isso no Brasil, onde um recorde nacional nem chega perto de ser razoável entre os bons.

Candidatos

(foto: femexfut.org.mx)



México e Honduras são os representantes da Concacaf no torneio masculino de futebol, em Londres. Os dois (Honduras, principalmente) contaram com a ajuda inesperada de El Salvador, que eliminou os EUA com um gol nos acréscimos, ainda no estágio de grupos.

A Seleção Hondurenha esteve nos Jogos de Pequim/2008, mas não passou da primeira fase. Aliás, nem ponto fez. A medalha que ganham é a da participação, nada mais. Já os mexicanos, ao que parece, podem sonhar com alguma coisa além da importância de competir.

Primeiro de tudo, é bom que se ressalte que o futebol tem evoluído no México esses últimos anos. Desde 1994, o time principal sempre tem se classificado para a Copa do Mundo e, lá, pelo menos, tem conseguido chegar aos mata-matas. Já suas seleções de base, vira e mexe, têm feito bons campeonatos mundiais e até, como foi no sub-17 de 2005 e de 2011, conquistado títulos.

Além disso, convenhamos, a concorrência no futebol masculino não vai ser das mais fortes. Os sempre temidos africanos, finalistas em três das últimas quatro olimpíadas, medalhistas em quatro das últimas cinco edições, dessa vez, não mandam Camarões, Gana ou Nigéria, e sim, Egito, Marrocos e Gabão. Os dois sul-americanos, Brasil e Uruguai, são fortes, mas é melhor enfrentá-los a concorrer com a atual bicampeã olímpica, a Argentina, que certamente escalaria Messi. E na Europa, a Espanha é o time a ser batido. Suíça e Bielorrússia não têm grande credenciais, exceto, talvez, pelo mundial sub-17 que suíços ganharam há três anos. O país-sede, a Grã Bretanha, só compete porque é em casa e deve usar o selecionado mais como ente político (talvez convocando o inglês David Beckham e o galês Ryan Giggs) do que esportivo, pois não vai utilizar nenhum atleta que participe da Eurocopa desse ano, que termina em 1º de julho.

Talvez o México não seja um time para levar o ouro. Entretanto, se de fato seus concorrentes mais fortes forem apenas Espanha, Uruguai e Brasil, é possível pensar que, com bola em campo e sorte nos cruzamentos das quartas-de-final e semifinal, os mexicanos possam, pela primeira vez, voltar dos Jogos com uma medalha no futebol.