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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O roteiro

Não gosto muito de falar de futebol aqui no blog. Não é meu tema preferido. Até falei um pouquinho do futebol feminino, até já falei da campanha do Sport na Série B, até já falei da inclusão do Japão na Copa América do ano que vem, e falei até, dia desses, do Mundial Interclubes. Nada mais.

Devo admitir que gosto de escrever sobre o futebol das meninas. Vejo Marta e me lembro de Roseli. Penso nas duas gerações como pioneiras da modalidade por aqui e isso me dá ânimo, vontade, mesmo, de dissertar. Mas a versão masculina, de tão pisada e repisada por comentaristas e palpiteiros, me cansa. A mídia futebolística me cansa. Ronaldo está de saco cheio? Eu também.

O futebol me parece assunto esgotado, encerrado, que devia ser proibido na net e ficar só onde realmente conta: na genuína conversa jogada fora, descompromissada, sem esquemas táticos, sem pranchetas, sem o filosofismo barato e a mediocridade da auto-ajuda que paira como ciência na boca dos “professores” – pois ainda chamam treinadores de “professores”.

Hoje, contudo, depois que o Internacional foi eliminado pelo Mazembe, achei que eu deveria escrever alguma coisa sobre o jogo. Primeiro, pensei em dizer que “futebol é mesmo surpreendente” e ia usar o gancho-clichê para dizer que a soberba do Inter o derrotou. Para amenizar o tom, eu iria listar uma série de partidas históricas em que o inusitado entrou em campo e acabou com o jogo. Que nada, já devem ter feito isso mais rápido e melhor do que eu…

Depois, pensei em falar que o Mazembe mereceu a vitória, mas aí eu pensei que não tenho nenhum conhecimento técnico-tático-pedante para descrever o esquema de jogo dos africanos e enumerar os erros do sistema colorado.

O que eu sei é que, de agora até o fim dos tempos, toda vez que um time brasileiro se meter a ganhar a Libertadores e for para o Mundial, os programas de televisão vão castigar o espectador com os lances da partida de hoje. Aí, o comentarista, com a fala coberta pela comemoração esdrúxula do goleiro do Mazembe, dirá “é bom não pensar só no time europeu, pois antes há uma semifinal e, com certeza, o adversário nela pode pregar uma peça. Vejam o que aconteceu ao Inter”, etc.

O jornal publicará, ao lado do texto principal, que certamente vai ressaltar a chance única que o time tem para ser campeão do mundo, uma matéria com o técnico, título devidamente aspeado, na qual ele diz usar o Inter para evitar o já-ganhou. E nos sites não será muito diferente – o chamariz do “a chance é essa” e o alerta do “não se esqueçam do Inter”.

Depois dessa reflexão fajuta, de minha previsão óbvia e da vitória do Mazembe, concluo: a imprensa segue o roteiro; o futebol, para a sorte das mesas de bar, não.

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