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terça-feira, 12 de julho de 2011

A derrota e a eliminação




O Brasil ter perdido para os Estados Unidos nos pênaltis e o Brasil ter sido eliminado pelos Estados Unidos, ao contrário do que parece, não são a mesma coisa. A derrota, ainda que nos pênaltis, é a parte chata e necessária do jogo. A eliminação (precoce, pelas finais que as meninas disputaram nesses últimos sete anos) é outra história.

O jogo foi conturbado. Um gol contra de Daiane em 80 segundos de disputa, jogadas ríspidas das brasileiras e violentas das americanas, uma cobrança repetida de pênalti capricho da árbitra, uma árbitra fraca, um golaço ilegal de Marta no tempo extra, três minutos de acréscimo em 15 de segundo tempo prorrogação, um gol de Wambach de novo – como em Atenas. E pênaltis.

E nos pênaltis, um erro estratégico. Um erro que é o vértice em que se encontram os motivos da derrota e da eliminação de hoje.

Não queria correr o risco de repetir o choro (quase sempre justificado, diga-se) de quem diz que “falta apoio ao futebol feminino no Brasil”. Mas é exatamente isso que eu vou fazer. Sem medo.

Jogos Olímpicos de Atenas, 2004. Sem saber que havia grandes craques no time, pois Cristiane e Marta ainda estavam em formação, tinham, respectivamente, 18 e 19 anos de idade, René Simões, com menos de um ano de trabalho, levou o time ao vice-campeonato olímpico, e com direito a poder reclamar muito da arbitragem no jogo decisivo. René Simões não é exatamente um treinador vitorioso, mas tem passagens nas seleções de base masculinas, levou a Jamaica à Copa do Mundo de 1998, e até 2004, havia treinado times no Brasil e no Oriente Médio. Em síntese, o Brasil foi a Atenas com um treinador.

No ciclo seguinte, veio Jorge Barcellos. Ele tinha experiência em categorias de base nas seleções femininas. Se o futebol das mulheres está engatinhando no Brasil, imagine o das meninas. Seu trabalho no time principal começou em 2006, com um vice-campeonato sul-americano, seguiu com um título no Pan do Rio e terminou com o vice-campeonato mundial e olímpico. Mesmo tendo feito um trabalho bom, convenhamos, não era um treinador pra Seleção Brasileira. E deu lugar a Kleiton Lima.

Não obstante haver levado o Santos a conquistar títulos nacionais e continentais, com todo respeito, toda vez que se fala nele alguém diz “e ele foi espião da seleção brasileira na Copa de 1994.” Ou seja, mais uma vez, a CBF contratou um treinador sem larga experiência larga. Faltou, de novo, cuidado da Confederação Brasileira de Futebol com o Futebol das mulheres. A eliminação da Copa, se nada anormal ocorresse, aconteceria a qualquer tempo.

Nem vou falar da preparação pro Mundial, com dois amistosos, contra o Chile e contra a Seleção Pernambucana. Nem vou falar da sobrecarga tática em cima de Marta ou da posição em campo de Érika, Maurine e Rosana, ou do medo que Kleiton tinha de fazer alterações no time. Vou falar dos pênaltis.

Por ter um treinador inexperiente, o Brasil foi pras cobranças da marca fatal com duas jogadoras abaladas psicologicamente. Cristiane, que perdeu o pênalti anulado no tempo normal, e Daiane, autora do gol contra no início do jogo. Cristiane até converteu sua cobrança. Mas Daiane, que pouco errou em toda a Copa, saiu de campo marcada pelo gol contra e pelo pênalti desperdiçado no jogo de hoje. Faltou um treinador que tivesse vivência o suficiente no futebol pra prever o buraco em que a zagueira se meteria na batida do pênalti.

O Brasil perdeu por causa um gol contra, um gol nos acréscimos infindáveis da prorrogação e um pênalti perdido. E o Brasil foi eliminado porque, mais uma vez, a seleção feminina foi tratada como subproduto pela CBF.

(republicado por erro de edição)

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