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quinta-feira, 5 de abril de 2012

Mau retrato

(foto: CBF)


Admito: fui enganado. Ver a Seleção Brasileira feminina de futebol enfrentar EUA e Japão nesta semana me fez acreditar que alguma coisa, ainda que de muito longe, havia mudado. Nem que fosse a mentalidade da CBF, que sempre tratou a modalidade como produto de fim de feira. Ou, pelo menos, eu achava que os jogos serviriam pra preparar o time pras Olimpíadas. Nada disso.

Os dois jogos sem Marta serviram, apenas, para mostrar o que todo mundo sabia desde sempre: sem Marta, sem chance. As duas goleadas que o Brasil sofreu essa semana fazem crer que esse time, sem sua craque, é bem mais fraco do aquele dos anos 90, que tinha Roseli, Sissi, Pretinha, mas do qual ninguém podia esperar muita coisa, além de uma luta danada e alguns resultados surpreendentes. Do time de hoje, quando a dez não joga, não se pode esperar, nem mesmo, que encare um adversário de gabarito.

Mudou o treinador. Saiu Kleiton Lima, em novembro, e voltou Jorge Barcellos, vice-campeão mundial na China, em 2007, e prata em Pequim/2008. E a defesa continua horrível. Aline sabe fazer gol de cabeça, Daiane tem boa estatura, mas as duas não ganham uma bola cruzada na área. Hoje, eu fico até surpreso que Wambach só tenha conseguido fazer um gol de cabeça nessa defesa aos 17 do segundo tempo da prorrogação, na Copa do Mundo do ano passado.

O meio-de-campo e o ataque são incapazes de segurar uma bola, de trocar passes (mesmo aqueles improdutivos, de lado) de evitar que o time adversário se arme e desça com tudo contra a defesa brasileira. Pedir uma boa jogada, então, é querer demais. Querer que as meias chutem de fora da área, arma mortal no futebol feminino, também é pedir muito. Querer que Cristiane se pareça com a que jogou entre 2004 e 2008, então, nem se fala. Mas ela não é, necessariamente, "a maior culpada" de alguma coisa. Seria injusto dizer isso.

Porque o time inteiro não rende bulhufas, como diz meu pai. Elas esperam que Marta receba uma bola casual ali na frente, saia driblando todo mundo e faça o gol sozinha ou presenteie alguém com um passe na cara do gol. Conclusão terrível: se Marta, por azar, ficar fora de alguma partida decisiva nas Olimpíadas, adeus!

Contudo, se as meninas não estão jogando nada, há de se reconhecer que a CBF tem muita culpa nisso. José Maria Marin não entra em campo, não marca a atacante que fez o gol de cabeça, não tabela com Marta, mas ele, que assumiu a CBF há quase um mês, ainda não se pronunciou sobre a modalidade. Ainda não disse o que espera da seleção, se quer manter esse campeonato mequetrefe que chamam de "Copa do Brasil"; não fala nada sobre categorias de base, não está nem ligando se a seleção foi jogar contra os dois favoritos ao ouro olímpico e só chegou ao Japão 48 horas antes da estreia.

Sim, 48 horas foi o que as meninas tiveram para se acostumarem a trocar o dia pela noite no Japão. Certo, a seleção passou uns dez dias treinando em Boston, mas, por que não foi direto para o Japão? Foi dinheiro o que faltou à CBF?

Esses dois jogos, que se juntam à derrota para o Canadá, no mês passado, mostram que a preparação para os Jogos de Londres vai ser tensa e que, mesmo na Inglaterra, o time vai sofrer muito, quando Marta não jogar ou não estiver muito inspirada. Mas o retrato do descaso da CBF com o futebol das mulheres, pra mim, é o uniforme.

Enquanto o time masculino já enfrentou a Bósnia, mês passado, de roupa nova, sem aquela camisa chinfrim de 2011, é esse uniforme velho, surrado, pavoroso que as brasileiras ainda estão estão usando. Feio como o futebol que jogaram no Japão e como é o tratamento que a CBF lhes dá.

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