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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Youtube olímpico VII

Em homenagem ao Dia do Goleiro, um momento histórico para um guarda-metas brasileiro numa Olimpíada. O momento maior, talvez.

Seul, 1988. Naqueles Jogos, assim como em Los Angeles/1984, não havia limite de idade para inscrever um jogador no torneio olímpico de futebol. Essa restrição de seleções sub-23, inchertadas por até três atletas de qualquer idade, só começou a valer em 1992. Em 1984 e 1988, a única restrição era que o jogador jamais houvesse disputado uma Copa do Mundo.

A Seleção Brasileira fazia uma campanha irretocável na Ásia. Sob comando técnico de Carlos Alberto Silva, o time de Romário, Bebeto, Neto, Jorginho, Valdo, André Cruz e Geovani venceu todos os jogos da primeira fase (4-0 Nigéria, 3-0 Austrália e 2-1 Iugoslávia). Nas quartas, a vítima foi a rival eterna Argentina, num suado 1-0, gol de Geovani lá de longe. Parêntese: depois dessa derrota para o Brasil, nunca mais a Argentina competiu no futebol olímpico sem chegar à decisão do torneio - não foi a Barcelona/92 nem a Sydney/2000, foi prata em Atlanta/1996 e ouro em Atenas/2004 e Pequim/2008. Nas semis, Brasil vs Alemanha. Alemanha Ocidental.

Nos tempos do (pseudo-)amadorismo, a Alemanha do lado leste do muro tinha muita tradição olímpica, com quatro medalhas e um título em Montreal/1976. Mas, nas Copas do Mundo, nada. Já os alemães capitalistas, ao contrário, tinham tradição de apanhar nos campeonatos do COI, mas, vira e mexe, sempre estavam (e estão) entre os quatro melhores dos mundiais da Fifa. Contudo, os germano-ocidentais desses Jogos eram diferentes: como pregava o regulamento, eram profissionais virgens de Copa, mas bons de bola, como Juergen Klismann, que seria campeão mundial na Itália, dois anos depois - daquele time, além de Klinsmann, Thomas Haessler, Frank Mill e Karlheinz Riedle também venceram a Copa de 1990.

A campanha alemã em Seul era bastante tranquila. Na fase inicial, 3-0 sobre a China e 4-1 na Tunísia, com uma derrota muito a contento diante da Suécia, por 2-1. Derrota boa (que é o outro nome para resultado arranjado) porque colocou os germânicos diante de Zâmbia no mata-mata. Zâmbia, que assombrara o mundo fazendo 4-0 na Itália, recebeu o placar de volta nas quartas e voltou pra casa. E a Alemanha Ocidental estava nas semifinais olímpicas, pela primeira vez.

O jogo entre Brasil e Alemanha foi dominado amplamente pelos europeus no tempo normal. Depois de um injusto 0-0 no primeiro tempo, Holger Fach inaugura o marcador aos 5 minutos da segunda etapa, graças à falha da linha burra brasileira. Só aí é que o Brasil acordou em campo e chegou ao empate aos 34, com um gol do Romário (prenúncio de que, em semifinal, o baixinho faz gol de cabeça). Mas, um minuto e meio depois, Klinsmann sofre um pênalti que vai mudar a história do jogo.

O zagueirão Wolfgang Funkel cobrou rasteiro, no canto esquerdo, e foi a vez do herói brasileiro naquele dia aparecer. Taffarel fez a defesa em dois tempos, não deu rebote e levou o jogo para a prorrogação. Diga-se, de passagem, que ele já havia feito ótimas defesas durante a partida e era somente graças a ele que a vitória não foi alemã já no primeiro tempo.

Na prorrogação, os dois times cansaram, mas destaca-se uma arrancada de Romário que quase parou dentro do gol. E foi só. Pênaltis. Um momento histórico, de verdade.

Taffarel abriu os trabalhos defendendo a cobrança de Janssen, ao que João Paulo converteu seu chute e fez Brasil 1-0. Aí, Klinsmann deslocou o goleiro e acertou a trave, enquanto Luis Carlos Winck (se lembra dele?) quase não tomou distância pra dobrar a vantagem da seleção canarinho. Kleppinger e Romário deixaram o marcador em 3-1, e bastava ao Brasil um gol ou uma defesa para ir à final. Fach fez. E André Cruz, famoso por suas cobranças de falta, não. Brasil 3-2. Perigo? Tudo certo. O dia era de Taffarel e ele espalmou pra longe o chute de Wuttke e as chances alemãs. Brasil na final. Taffarel? Três pênaltis defendidos, o herói do dia. E, um dia, se converteria num herói das decisões por pênaltis também em Copas do Mundo.

Quatro dias depois, o Brasil seria derrotado pela União Soviética por 2-1 e ficaria com a prata. Na luta pelo bronze, os alemães passariam por cima do time italiano com um 3-0.

O mais curioso de tudo é que, depois desse 27 de setembro de 1988, nunca mais uma seleção masculina alemã foi derrotada numa decisão por pênaltis. Falo em Copas do Mundo, Mundiais sub-17 e sub-20, campeonatos europeus (adultos ou de jovens). Histórico o feito de Taffarel ou não? E também nunca mais o futebol masculino alemão conseguiu chegar, de novo, aos Jogos Olímpicos.

Por tudo disso, em homenagem ao Dia do Goleiro, é que vale a pena ver essa meia hora de vídeo, com narração alemã, do compacto da partida. Uma das grande partidas de futebol nos Jogos Olímpicos.

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