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sábado, 14 de abril de 2012

Muito além do nervosismo

(foto: FIVB.org)


Vôlei brasileiro anda tenso. Nem nos tempos áureos em que os brazucas se digladiavam em cima e embaixo da rede com os cubanos a coisa era desse jeito. Esse final de ciclo olímpico tem sido desgastante além da conta e a pressão sobre os protagonistas do esporte por aqui parece insuportável.

Os clubes da Superliga (masculina, principalmente) podem ter sido vítimas do fim previsível da hegemonia da seleção brasileira. Também não se descarte o número excessivo de jogos como razão pra que ninguém fale mais a mesma língua na babel do vôlei nacional. Deve haver uma ou outra razão além dessas (más arbitragens, em alguns casos, são o motivo mais visível pro jogador perder a cabeça), mas o fato é que todo mundo está nervoso.

Senão, recordemos.

Na Copa do Mundo masculina, em novembro do ano passado, num jogo contra a Argentina, Serginho foi defender (?!) Murilo de uma bronca de Bernardinho e fez uma sugestão bastante deselegante ao treinador do time. Anúncio de clima pesado na seleção? Prenúncio de tensão exagerada na Superliga.

Já na Superliga, num jogo ainda no primeiro turno entre Sesi e Cimed, em São Paulo, Murilo e Bruno se desentenderam feio por causa de uma marcação duvidosa da arbitragem. Tão feio, que Murilo entrou na quadra catarinense pra discutir com o levantador a respeito do lance. Não foram só eles que perderam a cabeça.

Lorena, que até parece gostar do confronto direto com torcida e jogadores rivais, também já levou a pior desses momentos dissonantes. No segundo turno, em Florianópolis, o oposto do Vôlei Futuro começou a discutir além da conta com a torcida da Cimed e se perdeu em quadra. E houve, ainda, uma discussão dele no segundo jogo semifinal contra o RJX, no Rio, quando teve de ser contido pelos companheiros pra não avançar em cima de Théo, do time da casa.

O RJX, aliás, foi pivô da confusão mais esdrúxula da temporada. Na noite dessa sexta-feira, no terceiro confronto semifinal contra o Vôlei Futuro, Marlon e Riad tiveram de ser apartados pelo time. Riad foi substituído logo em seguida e quis ir embora do ginásio, mas terminou voltando e assistindo, do banco, à derrota carioca.

No fim das contas, os jogadores depois das brigas dizem que "é do jogo", que "até já fizeram as pazes" e aquele lenga-lenga de sempre.

É preciso observar que os alterados não são jogadores inexpressivos, não foram discussões de Zé Buchudo com Mané Dois Toques. São atletas de seleção (ou selecionáveis, vá lá), que jogam em clubes de investimento pesado, que são paparicados por sites, jornais e TVs. E são só mais um reflexo de que alguma coisa está errada no vôlei brasileiro.

Porque a esse destempero em quadra somam-se os episódios de nazi-racismo em Belo Horizonte e em Rio do Sul (aí, na SL feminina), somam-se os ginásios de goteiras inexplicáveis, somam-se os horários e datas de jogos alterados quase em cima da hora pra satisfazer a televisão, somam-se os atletas que se contundiram devido ao excesso de jogos.

Seja no calendário de competições, seja na direção dos clubes, da seleção, das federações, da confederação, seja lá onde for, há algo de podre na quadra brasileira e isso nem a mídia oficial consegue mais esconder.

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