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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Arrependimento

Disse, outro dia, que era constrangedor ver o time de Cuba jogando. Expliquei, fingindo entender de vôlei, que as cubanas não sabiam passar e só tinham uma boa jogadora no ataque, Carcaces. Arrematei que a jovem seleção que foi ao mundial não era digna da tradição cubana dos anos 90.

Faço questão de ser o primeiro a execrar minhas próprias palavras, de me dizer arrependido e de pedir, com a cabeça abaixada, perdão às caribenhas por tê-las ofendido – mas vou entender se isso não for perdoado de maneira alguma.

Quando o Brasil venceu os EUA, mais cedo, supus que a segunda vaga do grupo F para as semifinais era italiana. Bastava-lhe vencer Cuba em três sets, sofrendo, no máximo, 55 pontos. Em suma, foi mais fácil explicar que bastaria um triplo 25/18 sobre Cuba para que as italianas conseguissem a vaga.

Qualquer um de bom senso diria que a missão das bambinas era complicada, pelo fato simples de enfrentar cubanas. Mas eu não tive bom senso. Juntei a campanha ruim de Cuba ao fato de ser um jogo do qual os EUA dependiam. O resultado tosco da soma de jogadoras fracas com política foi igual à Itália classificada. Até poderia ter sido, se, por exemplo, a parcial do primeiro set, 25/16, tivesse se repetido nos demais (vê-la me deu a sensação de ter estado com a razão o tempo todo). Fui um tolo. Um tolo arrependido, agora.

Não considerei que Cuba jogaria com algo, por exemplo, que faltou à Seleção Brasileira masculina naquela partida contra a Bulgária. Para minha surpresa, Cuba jogou com uma Dignidade comovente. Cuba defendeu a tradição passada com uma força que o mundial deste ano não tinha conhecido ainda. E quando parecia que a Itália perdia sets de propósito para poder vencer, mais tarde, por um bom saldo, era a eliminação que se aproximava: Cuba venceu um tie break emocionante e, de uma vez só, eliminou a Itália, colocou os EUA no caminho da Rússia e me deixou constrangido – constrangido por tudo o que eu disse.

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